Sinfonia n.º 3 de Brahms
Orquestra Gulbenkian
Mihhail Gerts Maestro
Johannes Brahms (1833 – 1897)
Sinfonia n.º 3, em Fá maior, op. 90
– Allegro con brio
– Andante
– Poco allegretto
– Allegro
Um dos frutos da maturidade criativa de Johannes Brahms, a Sinfonia n.º 3, em Fá maior, op. 90, foi composta durante o verão de 1883 na idílica Wiesbaden, cidade situada nas margens do rio Reno e tornada célebre pelas suas estâncias termais que figuram entre as mais antigas da Europa. A estreia da obra ocorreu a 2 de dezembro de 1883, pela Orquestra Filarmónica de Viena, sob a direção do Hans Richter, maestro que considerou a partitura nada menos do que a digna sucessora da Heroica de Beethoven.
O primeiro andamento, Allegro con brio, é o porta-voz desta faceta destemida e impetuosa da Sinfonia n.º 3, a qual é plasmada desde o primeiro tema, de perfil angulado e descendente, a inaugurar uma secção repleta de contrastes. O segundo tema sobrevém mais sereno e com ecos da música popular. Na exposição intervém ainda um terceiro componente temático, derivado das primeiras notas do tema principal. Todo o desenvolvimento evolui com base numa lógica de tensão-distensão, apoiada na combinação engenhosa de harmonias pouco comuns.
Já o segundo andamento, Andante, distingue-se pelo recorte bucólico, a fazer reviver a mística beethoveniana da famosa Sinfonia n.º 6, Pastoral. Brahms acrescenta, porém, toda uma dimensão expressiva abstrata que é fruto do próprio devir do movimento romântico na sua demanda pelos meandros do ser humano.
O terceiro andamento, Poco allegretto, distancia-se do scherzo beethoveniano para consolidar a proposta já lançada nas duas sinfonias anteriores – a de um andamento híbrido, com forte identidade estilística, a servir de pivô expressivo a toda a obra. Assim sucede no presente caso, dominado por um tema inaugural que é, seguramente, um dos mais belos e evocativos que Brahms alguma vez escreveu.
Composto, em grande medida, sobre a tonalidade de Fá menor, o Allegro final exibe traços motívicos densos e dramáticos, acentuados por uma orquestração massiva. Somente na extensão final desta forma de sonata, de si pouco ortodoxa, se assiste ao regresso da tónica de Fá maior, a emoldurar o tema inicial da Sinfonia, totalmente apaziguado, na sua essência dramática, pelo recurso ao modo maior.
Rui Cabral Lopes