Concerto para Oboé de Martinů
Orquestra Gulbenkian
Mihhail Gerts Maestro
Pedro Ribeiro Oboé
Bohuslav Martinů (1890 – 1959)
Concerto para Oboé e Orquestra, H. 353
– Moderato
– Poco andante
– Poco allegro
Bohuslav Martinů é uma figura muito particular do Modernismo. Nascido na Boémia quando esta fazia parte do Império Austro-Húngaro, viveu várias vezes em França e nos Estados Unidos da América. A sua atividade encontra-se muito ligada ao ensino, tendo ocupado lugares docentes em várias instituições europeias e americanas.
O estilo de Martinů apresenta características do Modernismo do Período Entre-Guerras, nomeadamente o interesse pelas músicas populares da época, como o jazz, pelas expressões sonoras do passado e pelo património de tradição oral. Esses traços são recorrentes na sua produção mais tardia, na qual se enquadra o Concerto para Oboé e Orquestra.
Escrita em 1955 e estreada em Sydney a 8 de agosto de 1956, a obra foi dedicada ao oboísta Jiří Tancibudek, nascido na Checoslováquia e radicado na Austrália. No ano de estreia, foram realizados os Jogos Olímpicos de Verão em Melbourne e o concerto foi enquadrado nesse evento. Esse período incluiu muitas viagens de Martinů, desde a mudança de Nice para os Estados Unidos e a residência em Roma.
A obra encontra-se dividida em três andamentos e a escrita apresenta uma forte relação com a música de câmara, em particular a exposição a que os instrumentos da orquestra estão sujeitos. No Moderato sobressaem as melodias sinuosas e a troca de materiais entre instrumentos, muitas vezes com intervenções solistas. O piano ocupa um papel destacado em todo o concerto, como acompanhador/solista omnipresente. O Poco andante é um lamento cantabile em que o estatismo e a tensão servem de pano de fundo aos solos de oboé. Esses momentos são salientados pelo recurso a uma textura esparsa e a timbres escuros nos instrumentos de cordas. Um andamento leve e de caráter lúdico, que evoca a música popular, termina o concerto. A ornamentação do solista, o virtuosismo e o movimento surpreendente, ziguezagueando entre os instrumentos da orquestra, destacam-se em diversas passagens que remetem para o hedonismo dos Loucos Anos 20, representados na música popular.
João Silva