Composição: 1807
Estreia: Viena, março de 1807
Duração: c. 8 min.
Uma das tendências visivelmente românticas da produção de Beethoven no domínio da abertura sinfónica é a representação complexa de personagens ou de estados psicológicos através da música, num jogo de interações recíprocas que refletem bem a tendência coeva para o alargamento e diversificação dos modelos estéticos herdados do período clássico. Dois exemplos destacados são as Aberturas Coriolano, em Dó menor, op.62 e Egmont, em Fá menor, op.84, esta última composta sobre o drama homónimo de Goethe.
Coriolano foi escrita com o fim de servir de introdução a uma peça teatral do jurista e poeta Heinrich Joseph von Collin, secretário do Imperador da Áustria1. Esta fonte de inspiração épica influenciou o compositor de modo marcante, não apenas na Abertura Coriolano, mas também na contemporânea Sinfonia n.º 5 e na sua única ópera, Fidelio.
Na Abertura op. 62, o herói é o general romano Coriolano, que se tornou inimigo da sua pátria ao planear uma intervenção militar contra o senado. A obstinação do general em prosseguir com o seu objetivo leva-o à morte por traição, não sem antes ceder aos conselhos da sua mãe e da sua esposa. Na sua essência, a obra é como que um breve exercício sinfónico construído sobre um “programa” de contornos psicológicos, no qual a caracterização musical do personagem principal constitui o cerne do discurso. Característica saliente é a dialética temática que coloca em confronto o caráter rude e orgulhoso do general – ilustrado, logo no início da obra, pelo primeiro tema – e a delicadeza e sagacidade femininas.
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- O mito romântico da libertação do Herói, alienado pelo meio social envolvente, é o foco da tragédia de Heinrich Joseph von Collin (1771-1811), baseada na Vida dos Homens Ilustres Gregos e Romanos de Plutarco.
Rui Cabral Lopes