Unsuk Chin: Subito con forza
Orquestra Gulbenkian / Nuno Coelho
Uma das mais eminentes compositoras do nosso tempo, Unsuk Chin será das raras (senão, a única) personalidades a deter em simultâneo três dos mais importantes prémios musicais: o Grawemeyer (2004), o Léonie Sonning (2021) e o Ernst von Siemens (2024) – além do Sibelius (2017), do Schönberg (2005) e do Bach/Hamburgo (2019).
De entre a sua produção orquestral (que inclui, por exemplo, seis concertos com instrumento solista), Subito con forza, escrita por encomenda da BBC Radio3, da Filarmonia de Colónia e do Concertgebouw de Amesterdão para os 250 anos do nascimento de Beethoven (em 2020) é das mais recentes. Desde então, escreveu Alaraph – Rito do batimento cardíaco, estreada a 30 de agosto do ano passado, em Basileia.
A estreia de Subito con forza deu-se em plena pandemia, no Concertgebouw, pela Orquestra residente, dirigida por Klaus Mäkelä. A obra está instrumentada para o efetivo orquestral mais comum entre as nove sinfonias de Beethoven: madeiras a 2, pares de trompas e trompetes, timbales e cordas – efetivo que ocorre nas sinfonias nos. 1, 2, 7 e 8. A grande diferença, em Chin, verifica-se na secção de percussão, que requer dois instrumentistas adicionais, para um set muito alargado de instrumentos. Já nas cordas, o efetivo de uma orquestra por volta de 1800 (32 músicos) é declarado o “mínimo” pela compositora, que declara como “ideal” 50 executantes.
Em Subito con forza, Chin tomou por “ponto cardeal” a festividade que motivou a encomenda, elaborando uma breve homenagem a Beethoven, na qual a celebração passa por uma evocação de gestos orquestrais (apetece dizer, por vezes, “rasgos sonoros”) típicos do compositor, os quais tanto podem ser (muito) breves citações (quais flashes, como logo o acorde inicial, que provém da Abertura Coriolano), como simples alusões, logo tomadas/apropriadas pela linguagem de Chin: podem ser acordes (distribuídos numa intencional textura orquestral) ou padrões rítmicos reconhecíveis (não falta, claro, o da 5.ª Sinfonia) ou processos sequenciais ou cavados contrastes dinâmicos. Ou seja, há uma revisitação do mundo sonoro e do instinto dramático (feito da sucessão de repouso-tensão-explosão) de Beethoven, reinterpretado pelo virtuosismo técnico e inventividade tímbrica da escrita orquestral de Chin.
Intérpretes
- Maestro
-
Orquestra Gulbenkian
Em 1962 a Fundação Calouste Gulbenkian decidiu estabelecer um agrupamento orquestral permanente. No início constituído apenas por doze elementos, foi originalmente designado por Orquestra de Câmara Gulbenkian. Ao longo de sessenta anos de atividade, a Orquestra Gulbenkian (denominação adotada desde 1971) foi sendo progressivamente alargada, contando hoje com um efetivo de cerca de sessenta instrumentistas, que pode ser expandido de acordo com as exigências de cada programa. Esta constituição permite à Orquestra Gulbenkian interpretar um amplo repertório, do Barroco até à música contemporânea. Obras pertencentes ao repertório corrente das grandes formações sinfónicas podem também ser interpretadas pela Orquestra Gulbenkian em versões mais próximas dos efetivos orquestrais para que foram originalmente concebidas, no que respeita ao equilíbrio da respetiva arquitetura sonora.
Em cada temporada, a Orquestra Gulbenkian realiza uma série regular de concertos no Grande Auditório, em Lisboa, em cujo âmbito colabora com os maiores nomes do mundo da música, nomeadamente maestros e solistas. Atua também com regularidade noutros palcos nacionais, cumprindo desta forma uma significativa função descentralizadora. No plano internacional, a Orquestra Gulbenkian foi ampliando gradualmente a sua atividade, tendo efetuado digressões na Europa, na Ásia, em África e nas Américas. No plano discográfico, o nome da Orquestra Gulbenkian encontra-se associado às editoras Philips, Deutsche Grammophon, Hyperion, Teldec, Erato, Adès, Nimbus, Lyrinx, Naïve e Pentatone, entre outras, tendo esta sua atividade sido distinguida, desde muito cedo, com diversos prémios internacionais de grande prestígio. O finlandês Hannu Lintu é o Maestro Titular da Orquestra Gulbenkian, sucedendo a Lorenzo Viotti.
-
Nuno Coelho
Maestro Convidado
Na temporada 2022/23, Nuno Coelho é o novo Maestro Principal e Diretor Artístico da Orquestra Sinfónica do Principado das Astúrias e cumpre o quinto ano como Maestro Convidado da Orquestra Gulbenkian, que dirige numa produção da visão de José Saramago da ópera Don Giovanni de Mozart, em comemoração do centenário do escritor. Outras atuações de destaque incluem estreias com a Orquestra do Real Concertgebouw de Amesterdão, a Filarmónica de Tampere e a Sinfonieorchester St Gallen, novas colaborações com a Sinfónica de Amberes e a Sinfónica de Tenerife e uma digressão com a Jovem Orquestra Nacional de Espanha.
Na temporada passada estreou-se à frente da Filarmónica de Helsínquia, da Dresdner Philharmonie, da Staatsorchester Hannover, da Filarmónica do Luxemburgo, das Sinfónicas de Gävle e Malmö, da HET Residentie Orkest, da Filarmónica de Estrasburgo e da Orquestra Nacional de Lille. Reforçou o seu relacionamento com as Sinfónicas da Galiza e de Barcelona. Em março de 2022, na Fundação Gulbenkian, dirigiu uma produção semi-encenada de Così fan tutte, expandindo o seu repertório de ópera que abarca produções de La traviata, Cavalleria rusticana, Rusalka, O diário de Anne Frank e Os sete pecados mortais, entre outras.
Nuno Coelho venceu o Concurso Internacional de Direção de Orquestra de Cadaqués em 2017 e, desde então, dirigiu a Royal Liverpool Philharmonic, a BBC Philharmonic, a Sinfónica de Hamburgo, a Sinfónica de Castela e Leão, a Noord Nederlands Orkest e a Orchestra Teatro Regio Torino. Em 2018/19 recebeu a Bolsa Dudamel, o que lhe permitiu colaborar com a Filarmónica de Los Angeles. Nessa mesma temporada, dirigiu a Sinfónica da Rádio da Baviera, ao substituir o maestro Bernard Haitink à última hora.
Nuno Coelho nasceu no Porto. Estudou direção de orquestra na Universidade das Artes de Zurique com Johannes Schlaefli e ganhou o Prémio Neeme Järvi no Festival Menuhin de Gstaad. Em 2014 foi bolseiro da Fundação Gulbenkian e em 2015 foi admitido no Dirigentenforum do Conselho Alemão da Música. Nos dois anos seguintes foi bolseiro em Tanglewood e maestro assistente da Filarmónica dos Países Baixos. Ocupa o seu tempo livre com a literatura e o ténis.
Programa
Unsuk Chin
Subito con forza