Tchaikovsky: Sinfonia n.º 5
Orquestra Gulbenkian / Aziz Shokhakimov
Piotr Ilitch Tchaikovsky evidenciou-se pelo seu contributo para a tradição da música sinfónica, tendo desenvolvido um estilo pessoal que conciliava influências múltiplas. A Sinfonia n.º 5, em Mi menor, op. 64, foi composta entre maio e agosto de 1888, tendo sido estreada a 17 de novembro desse ano em São Petersburgo, no Teatro Mariinski, sob a direção do compositor. O sucesso não foi imediato, mas a obra rapidamente se tornaria numa das suas criações mais populares. Dez anos após a Sinfonia n.º 4, que em certa medida representava uma resposta à 5.ª Sinfonia de Beethoven, a nova sinfonia retomava a temática do destino – embora o programa esboçado previamente, no qual Tchaikovsky identificava o tema principal como “a completa resignação ante o destino”, não tenha sido realmente terminado. Tal como no caso da Sinfonia n.º 4, também na n.º 5 se destaca um tema recorrente que, passando por diversas metamorfoses, contribui para unificar os quatro andamentos da obra.
O 1.º andamento, obedecendo a uma forma de sonata tradicional, inicia-se com a enunciação do “tema do destino” no clarinete e cordas graves, ao qual se segue a apresentação de uma melodia reminiscente do folclore eslavo. A relativa instabilidade da exposição é acentuada num desenvolvimento que atravessa diversas regiões harmónicas.
Dando continuidade à atmosfera fatídica, o Andante cantabile, con alcuna licenza abre com as sonoridades trágicas de Si menor, modulando de imediato para Ré maior. O voluptuoso tema principal é apresentado por um solo de trompa, e depois de uma secção central mais instável, em Fá sustenido menor, é reafirmado com uma orquestração diferente. Segue-se um Allegro moderato, em Lá maior, uma graciosa valsa que explora toda uma variedade de cores instrumentais. Esta, após um inquieto scherzo central, faz ouvir, pouco antes do seu termo, o tema do destino. No Finale, após uma introdução em que o tema do destino surge num Andante maestoso em Mi maior, é apresentado um 1.º tema de caráter combativo e enérgico, desenvolvendo-se então uma forma sonata, de intensidade crescente, que culmina numa marcha magnificente.
Intérpretes
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Orquestra Gulbenkian
Em 1962 a Fundação Calouste Gulbenkian decidiu estabelecer um agrupamento orquestral permanente. No início constituído apenas por doze elementos, foi originalmente designado por Orquestra de Câmara Gulbenkian. Ao longo de sessenta anos de atividade, a Orquestra Gulbenkian (denominação adotada desde 1971) foi sendo progressivamente alargada, contando hoje com um efetivo de cerca de sessenta instrumentistas, que pode ser expandido de acordo com as exigências de cada programa. Esta constituição permite à Orquestra Gulbenkian interpretar um amplo repertório, do Barroco até à música contemporânea. Obras pertencentes ao repertório corrente das grandes formações sinfónicas podem também ser interpretadas pela Orquestra Gulbenkian em versões mais próximas dos efetivos orquestrais para que foram originalmente concebidas, no que respeita ao equilíbrio da respetiva arquitetura sonora.
Em cada temporada, a Orquestra Gulbenkian realiza uma série regular de concertos no Grande Auditório, em Lisboa, em cujo âmbito colabora com os maiores nomes do mundo da música, nomeadamente maestros e solistas. Atua também com regularidade noutros palcos nacionais, cumprindo desta forma uma significativa função descentralizadora. No plano internacional, a Orquestra Gulbenkian foi ampliando gradualmente a sua atividade, tendo efetuado digressões na Europa, na Ásia, em África e nas Américas. No plano discográfico, o nome da Orquestra Gulbenkian encontra-se associado às editoras Philips, Deutsche Grammophon, Hyperion, Teldec, Erato, Adès, Nimbus, Lyrinx, Naïve e Pentatone, entre outras, tendo esta sua atividade sido distinguida, desde muito cedo, com diversos prémios internacionais de grande prestígio. O finlandês Hannu Lintu é o Maestro Titular da Orquestra Gulbenkian, sucedendo a Lorenzo Viotti.
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Aziz Shokhakimov
Maestro
Aziz Shokhakimov é Diretor Musical da Orquestra Filarmónica de Estrasburgo e Diretor Artístico da Orquestra Filarmónica Tekfen (Turquia). Entre 2015 e 2021, foi Kapellmeister na Deutsche Oper am Rhein. Como maestro convidado, dirigiu a Sinfónica da Rádio da Baviera, a NDR Elbphilharmonie Orchester, a Sinfónica WDR (Colónia), a Filarmónica da Radio France, a hr-Sinfonieorchester Frankfurt, a Sinfónica de Houston, a Sinfónica de Toronto e a Sinfónica de Seattle, entre outras prestigiadas orquestras.
No domínio da ópera, na temporada passada, Shokhakimov estreou-se com a Ópera Nacional de Paris, em Lucia de Lammermoor. A temporada 2023-2024 inclui a sua estreia com a Bayerischer Staatsoper, na direção de A Dama de Espadas de Tchaikovsky. Com a Filarmónica de Estrasburgo dirigirá uma nova produção de Lohengrin na Ópera do Reno. Como Kapellmeister na Deutsche Oper am Rhein, dirigiu novas produções de A Dama de Espadas, Madama Butterfly, Salome e Tosca.
Aziz Shokhakimov tem uma relação especial com o Festival de Salzburgo, onde foi distinguido com o prestigioso Prémio para Jovem Maestro, em agosto de 2016. Regressou em 2017 para dirigir o concerto dos laureados, à frente da Sinfónica da Rádio de Viena, e em 2019 para dirigir na Cerimónia de Abertura do Festival de Salzburgo, com a violinista Patricia Kopatchinskaja.
Aziz Shokhakimov nasceu em 1988 em Tashkent, no Uzbequistão. Aos seis anos ingressou na Escola de Música Uspensky, onde estudou violino, viola e direção de orquestra. Aos treze anos dirigiu a Sinfonia n.º 5 de Beethoven e o Concerto para Piano n.º 1 de Liszt, à frente da Sinfónica Nacional do Uzbequistão. No ano seguinte dirigiu a sua primeira ópera, Carmen, na Ópera Nacional do Uzbequistão. Foi Maestro Assistente da Sinfónica Nacional do Uzbequistão, tendo assumido as funções de Maestro Principal em 2006. Em 2010 foi segundo classificado no Concurso Internacional Gustav Mahler, em Bamberg.
Programa
Piotr Ilitch Tchaikovsky
Sinfonia n.º 5, em Mi menor, op. 64
1. Andante – Allegro con anima – Molto più tranquillo
2. Andante cantabile, con alcuna licenza
3. Valse: Allegro moderato
4. Finale: Andante maestoso – Allegro vivace