Tchaikovsky: Romeu e Julieta
Orquestra Gulbenkian / Andris Poga
A obra Romeu e Julieta: Abertura-Fantasia foi composta em 1869, quando Piotr Ilitch Tchaikovsky tinha 29 anos e procurava afirmar-se no meio musical russo. A obra surgiu num contexto particular, após sugestão do compositor nacionalista russo Mily Balakirev, elemento distinto e líder do renomado “Grupo dos Cinco”, que incluía os compositores A. Borodin, C. Cui, M. Mussorgsky e N. Rimsky-Korsakov. Tchaikovsky tinha dedicado o poema sinfónico Fatum (1868) a Balakirev, pese embora a atitude crítica e direta deste último. Balakirev sugeriu então a Tchaikovsky que compusesse uma obra orquestral partindo da tragédia Romeu e Julieta, de William Shakespeare, fornecendo para o efeito indicações precisas sobre o rumo a dar à música. Tchaikovsky dedicou-se ao trabalho e seguiu as orientações de Balakirev, embora o resultado não tenha sido totalmente convincente para o líder do “Grupo dos Cinco”, que se pronunciou de forma sincera, de resto em linha com a própria receção do público, que não apreciou especialmente a obra.
A estreia teve lugar em Moscovo, num concerto promovido a 16 de março de 1870 pela Sociedade Musical Imperial Russa, com direção musical de Nikolai Rubinstein. Não querendo desistir da obra, Tchaikovsky aproveitou o verão e reformulou algumas secções, levando-a novamente ao palco em 1872, em São Petersburgo. Faria ainda uma última revisão, em 1880, apresentando a obra em 1886, na forma que é atualmente interpretada, e que foi premiada em 1884 com o prestigiante Prémio Glinka.
A obra, referida como poema sinfónico, inicia-se com uma introdução longa e solene que remete para o sábio e conselheiro Frei Lourenço, uma importante personagem de Romeu e Julieta. Segue-se a apresentação dos dois grupos temáticos principais, o primeiro com bastante tensão, conflito e tempestuosidade, reportando à rivalidade entre a família Capuleto e Montéquio, que ecoa no tratamento orquestral; o segundo tema traduz o universo sentimental de amor entre Romeu e Julieta. Aqui, o compositor escolhe a trompa e a viola para representar Romeu e as flautas que nos remetem para Julieta, numa construção musical que exprime o profundo amor entre ambos. Tchaikovsky consegue, com mestria, explorar a dimensão simbólica de ambos os temas, em particular na segunda vez em que o tema do amor surge e que é suplantado pela força do conflito entre as famílias. De resto, o tema do amor volta a erguer-se, mas num tom mais melancólico que desagua num momento de maior serenidade, antes do final triunfante que funciona como um epílogo de grande efeito sonoro.
Intérpretes
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Orquestra Gulbenkian
Em 1962 a Fundação Calouste Gulbenkian decidiu estabelecer um agrupamento orquestral permanente. No início constituído apenas por doze elementos, foi originalmente designado por Orquestra de Câmara Gulbenkian. Ao longo de sessenta anos de atividade, a Orquestra Gulbenkian (denominação adotada desde 1971) foi sendo progressivamente alargada, contando hoje com um efetivo de cerca de sessenta instrumentistas, que pode ser expandido de acordo com as exigências de cada programa. Esta constituição permite à Orquestra Gulbenkian interpretar um amplo repertório, do Barroco até à música contemporânea. Obras pertencentes ao repertório corrente das grandes formações sinfónicas podem também ser interpretadas pela Orquestra Gulbenkian em versões mais próximas dos efetivos orquestrais para que foram originalmente concebidas, no que respeita ao equilíbrio da respetiva arquitetura sonora.
Em cada temporada, a Orquestra Gulbenkian realiza uma série regular de concertos no Grande Auditório, em Lisboa, em cujo âmbito colabora com os maiores nomes do mundo da música, nomeadamente maestros e solistas. Atua também com regularidade noutros palcos nacionais, cumprindo desta forma uma significativa função descentralizadora. No plano internacional, a Orquestra Gulbenkian foi ampliando gradualmente a sua atividade, tendo efetuado digressões na Europa, na Ásia, em África e nas Américas. No plano discográfico, o nome da Orquestra Gulbenkian encontra-se associado às editoras Philips, Deutsche Grammophon, Hyperion, Teldec, Erato, Adès, Nimbus, Lyrinx, Naïve e Pentatone, entre outras, tendo esta sua atividade sido distinguida, desde muito cedo, com diversos prémios internacionais de grande prestígio. O finlandês Hannu Lintu é o Maestro Titular da Orquestra Gulbenkian, sucedendo a Lorenzo Viotti.
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Andris Poga
Maestro
Andris Poga é o Maestro Principal da Orquestra Sinfónica de Stavanger. Anteriormente foi o Diretor Musical da Orquestra Sinfónica Nacional da Letónia (2013-2021), com a qual continua a colaborar como Consultor Artístico.
Nos últimos anos, dirigiu muitas das principais orquestras da Alemanha, de França, da Itália, do Japão e da Escandinávia. Depois das primeiras colaborações bem-sucedidas, foi de novo convidado a dirigir a orquestra NDR Elbphilharmonie de Hamburgo, a Orquestra do Tonhalle de Zurique, a Orquestra do Gewandhaus de Leipzig, a Sinfónica SWR de Estugarda e a Sinfónica NHK de Tóquio, entre muitas outras. Dirigiu também a Sinfónica de Viena, a Filarmónica de São Petersburgo, a Accademia Nazionale di Santa Cecilia, a Orquestra Nacional de França, a Royal Philharmonic, a Filarmónica de Hong-Kong e a Sinfónica de Sydney.
A temporada 2021/22 inclui concertos regulares de assinatura com a Sinfónica de Stavanger e a Sinfónica Nacional da Letónia, para além de colaborações com a Filarmónica de Oslo, a Sinfónica WDR de Colónia, a Deutsches Symphonie-Orchester Berlin, a Orquestra da RAI de Turim, a Sinfónica de Aarhus e a Filarmónica de Monte-Carlo, e ainda estreias à frente da Orquestra Gulbenkian, da Deutsche Kammerphilharmonie Bremen, da Filarmónica de Bergen e de outras orquestras alemãs e escandinavas.
Em 2010, Andris Poga venceu o Concurso Internacional de Direção de Orquestra Evgeny Svetlanov, momento que impulsionou a sua carreira internacional. Entre 2011 e 2014, foi maestro assistente de Paavo Järvi na Orquestra de Paris e, entre 20212 e 2014 maestro associado da Sinfónica de Boston.
Andris Poga estudou direção de orquestra na Academia de Música Jāzeps Vītols, na Letónia, e na Universidade de Música e Artes do Espetáculo de Viena. Estudou também filosofia na Universidade da Letónia.
Programa
Piotr Ilitch Tchaikovsky
Romeu e Julieta: Abertura-Fantasia