Smetana: O Moldava
Orquestra Gulbenkian / José Eduardo Gomes
Bedřich Smetana nasceu na antiga Boémia oriental, parte do império Austro-Húngaro, atual República Checa. Dotado de grande talento musical, como compositor e pianista, esteve ao serviço do imperador Ferdinand I, mudando-se mais tarde, após os tumultos de 1848, para a Suécia. Regressou a Praga em 1861, lançando-se fundamentalmente em projetos de grande dimensão, como as cinco óperas que compôs neste período. Após 1870, os seus problemas de saúde agravaram-se e conduziriam ao seu internamento. Foi neste período conturbado da sua vida que compôs a obra Vltava, ou O Moldava, nome do rio que atravessa Praga. Insere-se num conjunto de seis poemas sinfónicos, sob o título genérico Má vlast (“A Minha Pátria”), compostos entre 1874 e 1879.
O carácter nacionalista de O Moldava, é transmitido por quadros sonoros que procuram descrever não apenas a força do rio, mas uma narrativa em movimento até à chegada grandiosa a Praga. A forma, um rondó, inspira-se num tema recorrente que também representa o rio. A obra inicia-se de modo misterioso, com as flautas e clarinetes a ilustrarem a ondulação e a corrente do rio, juntando-se depois as cordas, os oboés e os fagotes. O adensar do caudal vai sendo também manifestado pelas dinâmicas, até à introdução de elementos populares da Boémia, conferindo um claro elemento nacionalista a este quadro que Smetana utilizou para engrandecer a sua pátria. O contraste é efetuado através da transmissão de ideias como a semi-marcha/polka, que marca a música de dança de um casamento, o modo como a noite cai e o avistar das ninfas ou ainda as águas agitadas. A descrição do rio a entrar em Praga é marcada de modo majestoso, com a passagem pela fortaleza de Vysehrad, deixando depois a cidade para trás, com um diminuendo geral que contrasta com os dois fortes acordes finais.
Intérpretes
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Orquestra Gulbenkian
Em 1962 a Fundação Calouste Gulbenkian decidiu estabelecer um agrupamento orquestral permanente. No início constituído apenas por doze elementos, foi originalmente designado por Orquestra de Câmara Gulbenkian. Ao longo de sessenta anos de atividade, a Orquestra Gulbenkian (denominação adotada desde 1971) foi sendo progressivamente alargada, contando hoje com um efetivo de cerca de sessenta instrumentistas, que pode ser expandido de acordo com as exigências de cada programa. Esta constituição permite à Orquestra Gulbenkian interpretar um amplo repertório, do Barroco até à música contemporânea. Obras pertencentes ao repertório corrente das grandes formações sinfónicas podem também ser interpretadas pela Orquestra Gulbenkian em versões mais próximas dos efetivos orquestrais para que foram originalmente concebidas, no que respeita ao equilíbrio da respetiva arquitetura sonora.
Em cada temporada, a Orquestra Gulbenkian realiza uma série regular de concertos no Grande Auditório, em Lisboa, em cujo âmbito colabora com os maiores nomes do mundo da música, nomeadamente maestros e solistas. Atua também com regularidade noutros palcos nacionais, cumprindo desta forma uma significativa função descentralizadora. No plano internacional, a Orquestra Gulbenkian foi ampliando gradualmente a sua atividade, tendo efetuado digressões na Europa, na Ásia, em África e nas Américas. No plano discográfico, o nome da Orquestra Gulbenkian encontra-se associado às editoras Philips, Deutsche Grammophon, Hyperion, Teldec, Erato, Adès, Nimbus, Lyrinx, Naïve e Pentatone, entre outras, tendo esta sua atividade sido distinguida, desde muito cedo, com diversos prémios internacionais de grande prestígio. O finlandês Hannu Lintu é o Maestro Titular da Orquestra Gulbenkian, sucedendo a Lorenzo Viotti.
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José Eduardo Gomes
Maestro
José Eduardo Gomes foi recentemente laureado com o 1.º Prémio e o Prémio Beethoven na European Union Conducting Competition. É Professor na Escola Superior de Música de Lisboa, onde trabalha com as várias orquestras. Foi Maestro Titular da Orquestra Clássica do Centro, da Orquestra Clássica da FEUP e do Coro do Círculo Portuense de Ópera, Maestro Associado da Orquestra Clássica do Sul e Maestro Principal da Orchestre de Chambre de Carouge, na Suíça.
Começou a estudar clarinete em Vila Nova de Famalicão, sua cidade natal, na Banda de Música de Famalicão. Prosseguiu os seus estudos na ARTAVE e ESMAE, onde se formou na classe de António Saiote, tendo recebido o Prémio Fundação Engenheiro António de Almeida. Estudou direção de orquestra, com Laurent Gay, na Haute École de Musique de Genève (Suíça) e direção coral com Celso Antunes.
É membro fundador do Quarteto Vintage e do Serenade Ensemble. Foi laureado em diversos concursos, com destaque para o Prémio Jovens Músicos (Clarinete e Música de Câmara) e no Concurso Internacional de Clarinete de Montroy (Valência). Foi igualmente laureado no Prémio Jovens Músicos, na Categoria de Direção de Orquestra, tendo recebido também o prémio da orquestra.
Nos últimos anos, tem sido convidado para trabalhar com as principais orquestras portuguesas e nos mais destacados festivais de música em Portugal, com solistas como Maria João Pires, Diemut Poppen, Sebastian Klinger, Bruno Giuranna, Artur Pizarro, Natalia Pegarkova e Adriana Ferreira, entre outros. Na temporada 2022/23 apresentou-se em concertos em Portugal, na Alemanha, em França e na Hungria.
No domínio da ópera, incluem-se produções de Don Giovanni, Così fan tutte, Lo Speziale e La Donna di Genio Volubile. Recentemente, foi Diretor Musical da nova produção da Companhia Nacional de Bailado, Alice no País das Maravilhas, com a Orquestra Sinfónica Portuguesa, assim como da nova produção da ópera Blimunda, no Teatro Nacional de São Carlos. Parte importante do seu trabalho é dedicada a orquestras de jovens, um pouco por todo o país. É Diretor Artístico da Jovem Orquestra de Famalicão. Em 2018 foi agraciado com a Medalha de Mérito Cultural pela Cidade de Vila Nova de Famalicão.
Programa
Bedřich Smetana
A Minha Pátria: O Moldava