Um dos grandes pilares do repertório romântico para violino, na esteira dos concertos homólogos de Ludwig van Beethoven (1770-1827), Robert Schumann (1810-1856), Felix Mendelssohn (1809-1847) e Piotr Ilitch Tchaikovsky (1840-1893), o Concerto para Violino e Orquestra, em Ré maior, op. 77, de Johannes Brahms, foi influenciado pelos ideais estéticos do concerto solista, correspondendo ao gosto generalizado pelo virtuosismo instrumental, o qual, por si só, atraía multidões às salas de concertos. Brahms transmitiu à obra um nível elevado de elaboração técnica, sobretudo à parte solista, vindo a dedicá-la a um dos mais proeminentes violinistas do seu tempo, Joseph Joachim (1831-1907). Em vista da partitura pela primeira vez, este último chegou a declará-la inexequível, o que levou Brahms a introduzir várias alterações à versão originária.
O primeiro andamento é precedido por uma alargada introdução orquestral, a estabelecer a tonalidade luminosa de Ré maior, em tom sereno. Sobre nota-pedal, o solista intervém pela primeira vez, com laivos inequívocos do virtuosismo a que nos referíamos atrás, tais como motivos harpejados, saltos intervalares de oitava, bariolage (alternância de notas em cordas adjacentes) e saltos intervalares de oitava. O tema principal da exposição, antes esboçado pela orquestra, é retomado pelo violino numa tessitura aguda. O segundo tema, de cariz afetuoso, sobrevém na parte solista, vindo depois a ser retomado pelos violinos. No desenvolvimento alternam os tutti orquestrais impetuosos com as intervenções não menos inflamadas do solista. São várias as possibilidades de cadência para o final da recapitulação, uma das quais da autoria do próprio Joseph Joachim. O andamento termina com uma coda em que pontua o tema principal da exposição.
Tal como o andamento inaugural, o Adagio intercalar inicia-se com uma introdução orquestral. A melodia ampla e serena, posta na parte de oboé e harmonizada exclusivamente pelos restantes sopros de madeira e pelas duas trompas em Fá, vem a ser depois desenvolvida pelo instrumento solista, no mesmo clima idílico e contemplativo.
Em completo contraste com o Adagio, o andamento final irrompe com energia contagiante, a partir do princípio formal da sonata-rondó que faz alternar o refrão, dominado pelo solista, com uma sucessão de coplas que promovem o diálogo entre os diferentes naipes orquestrais.