Richard Strauss: Assim falava Zaratustra
Orquestra Gulbenkian / Nuno Coelho
Richard Strauss viveu uma longa e prolífica carreira, estabelecendo-se como o mais importante compositor alemão após a morte de Wagner e Brahms. Em 1885, Strauss encetou a composição de uma série de poemas sinfónicos bastante ambiciosos. De facto, a sua produção neste domínio eleva a invenção de Liszt ao seu ponto culminante, expandindo as potencialidades expressivas e descritivas da música programática e aliando-as a uma exploração virtuosística dos efeitos orquestrais que marca a orquestra sinfónica pós-wagneriana. É igualmente notável a sua capacidade de manipulação da forma e da transformação temática, bem como a complexidade harmónica, contrapontística e textural.
O poema sinfónico Assim falava Zaratustra, op. 30, foi composto em 1896 e estreado nesse ano em Frankfurt, sob a direção do autor. Trata-se de uma obra que decorre do interesse que o compositor então nutria pela obra de Nietzsche, inspirando-se no tratado deste filósofo com o mesmo título. A obra inicia-se com uma representação da alvorada, a que o profeta assiste no topo da montanha – tratava-se também do despertar da consciência humana –, por meio de uma longa suspensão sobre um Dó grave, de onde emerge um motivo ascendente no trompete. Esse momento arrebatador logo dá lugar a uma representação do homem no seu estado primitivo, numa atmosfera tensa e escura (Dos Antigos Homens). As duas passagens seguintes (Da Grande Saudade e Das Alegrias e Paixões) são marcadas, respetivamente, por um lirismo intenso e por uma emotividade tempestuosa. Após um episódio pesaroso (A Canção do Túmulo) surge uma fuga baseada no tema de abertura (Da Ciência). Esse dispositivo constrói um grande ponto culminante, que logo dá lugar a um efémero scherzo (O Convalescente) e a uma valsa (A Canção de Dança), no momento em que o profeta discorre sobre a natureza caprichosa da vida. O toque dos sinos introduz a última secção (O Sonâmbulo), que se dirige pacificamente para um encerramento ambíguo, no qual, com a fricção entre o acorde de Si maior, proclamado pelos sopros no extremo agudo, e o Dó grave, enunciado em pizzicato pelas cordas, o Enigma do Mundo (a relação entre o Homem e a Natureza) permanece sem solução.
Intérpretes
- Maestro
-
Orquestra Gulbenkian
Em 1962 a Fundação Calouste Gulbenkian decidiu estabelecer um agrupamento orquestral permanente. No início constituído apenas por doze elementos, foi originalmente designado por Orquestra de Câmara Gulbenkian. Ao longo de sessenta anos de atividade, a Orquestra Gulbenkian (denominação adotada desde 1971) foi sendo progressivamente alargada, contando hoje com um efetivo de cerca de sessenta instrumentistas, que pode ser expandido de acordo com as exigências de cada programa. Esta constituição permite à Orquestra Gulbenkian interpretar um amplo repertório, do Barroco até à música contemporânea. Obras pertencentes ao repertório corrente das grandes formações sinfónicas podem também ser interpretadas pela Orquestra Gulbenkian em versões mais próximas dos efetivos orquestrais para que foram originalmente concebidas, no que respeita ao equilíbrio da respetiva arquitetura sonora.
Em cada temporada, a Orquestra Gulbenkian realiza uma série regular de concertos no Grande Auditório, em Lisboa, em cujo âmbito colabora com os maiores nomes do mundo da música, nomeadamente maestros e solistas. Atua também com regularidade noutros palcos nacionais, cumprindo desta forma uma significativa função descentralizadora. No plano internacional, a Orquestra Gulbenkian foi ampliando gradualmente a sua atividade, tendo efetuado digressões na Europa, na Ásia, em África e nas Américas. No plano discográfico, o nome da Orquestra Gulbenkian encontra-se associado às editoras Philips, Deutsche Grammophon, Hyperion, Teldec, Erato, Adès, Nimbus, Lyrinx, Naïve e Pentatone, entre outras, tendo esta sua atividade sido distinguida, desde muito cedo, com diversos prémios internacionais de grande prestígio. O finlandês Hannu Lintu é o Maestro Titular da Orquestra Gulbenkian, sucedendo a Lorenzo Viotti.
-
Nuno Coelho
Guest Conductor
The 2022/23 season sees Nuno Coelho commence his Chief Conductor and Artistic Directorship of the Orquesta Sinfónica del Principado de Asturias. He also begins his fifth year as Guest Conductor of the Gulbenkian Orchestra with a production of José Saramago’s reimagining of Mozart’s Don Giovanni to mark the writer’s centenary. Highlights elsewhere include debuts with the Royal Concertgebouw Orchestra, Tampere Philharmonic and Sinfonieorchester St Gallen; returns to Antwerp Symphony and Orquesta Sinfónica de Tenerife; and a tour with the Joven Orquesta Nacional de España.
Last season saw Nuno debut with the Helsinki Philharmonic, Dresden Philharmonie, Staatsorchester Hannover, Orchestre Philharmonique du Luxembourg, Gavle Symphony, Malmö Symphony, Residentie Orkest, Orchestre philharmonique de Strasbourg and Orchestre National de Lille; and continue his relationships with the Orquesta Sinfonica de Galicia and Orquestra Simfónica de Barcelona. In March 2022 he conducted a semi-staged Così fan tutte at the Gulbenkian, adding to theatre credits which include productions of La traviata, Cavalleria rusticana, Rusalka, Das Tagebuch der Anne Frank and Seven Deadly Sins.
Nuno won First Prize at the 2017 Cadaqués International Conducting Competition and has since gone on to conduct the Royal Liverpool Philharmonic, BBC Philharmonic, Symphoniker Hamburg, Orquesta Sinfónica de Castilla y León, Noord Nederlands Orkest and Orchestra Teatro Regio Torino. He was a Los Angeles Philharmonic Dudamel Fellow between 2018-19 and stepped in for Bernard Haitink that same season to make his debut with the Symphonieorchester des Bayerischen Rundfunks.
Born in Porto, Nuno studied conducting at the Zürich University of the Arts with Johannes Schlaefli and won the Neeme Järvi Prize at the Gstaad Menuhin Festival. In 2015 he was admitted into the German Music Council’s Dirigentenforum and for the following two years he was both a Tanglewood Conducting Fellow and Assistant Conductor of the Netherlands Philharmonic. Literature and tennis occupy his time off-podium.
Programa
Richard Strauss
Assim falava Zaratustra, op. 30