Ravel: Ma mère l’Oye
Orquestra Gulbenkian / Aziz Shokhakimov
Ainda muito jovem, Maurice Ravel começou a estudar piano no Conservatório de Paris, mas cedo viria a descobrir na composição o seu centro primordial de interesse. A música para piano tornar-se-ia no mais importante eixo da sua atividade criativa, tendo algumas das peças sido posteriormente orquestradas pelo compositor. É este o caso da obra Ma mère l’Oye, escrita originariamente em 1908 para piano a quatro mãos. Título inspirado em contos de fadas infantis, nomeadamente de Charles Perrault, da condessa de Aulnoy e de Jeanne Marie Le Prince de Beaumont, constitui uma homenagem ao universo das crianças, cuja poesia e sonhos pueris voltariam novamente a ser abordados por Ravel na ópera L’Enfant et les sortilèges (1920-1925).
Dedicada a Jean e Marie Godebski, filhos de um casal amigo de Ravel, Ma mère l’Oye, na sua versão original, cultiva uma escrita desprovida de grandes dificuldades técnicas, mas que se impõe pela expressão genuína dos sentimentos infantis e pela evocação sonhadora de lugares e de fábulas: “Ma mère l’Oye, peças infantis para piano a quatro mãos, data de 1908. O desejo de evocar nestas peças a poesia da infância conduziu-me naturalmente a simplificar o meu modo e a despojar a minha escrita. Extraí desta obra um bailado que foi montado pelo Théâtre des Arts: a obra foi escrita em Valvins para as minhas jovens amigas Mimie e Jean Godebski.”
Em 1910, Ravel realizaria uma nova versão para piano solo e no ano seguinte uma versão orquestral. Em 1912 a obra estreou em Paris sob a forma de um bailado, fazendo Ravel preceder os cinco andamentos já existentes por dois novos andamentos: Prélude e Danse du Rouet, juntando-lhes também interlúdios destinados a ligar as diferentes cenas. Modificou ainda a sequência de algumas das peças das versões para piano, para que o bailado pudesse ter coerência em termos de enredo. Um dos aspetos mais salientes em Ma mère l’Oye consiste na perfeita combinação entre lirismo e linguagem neomodal, características que definem igualmente parte substancial da produção artística de Ravel.
Intérpretes
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Orquestra Gulbenkian
Em 1962 a Fundação Calouste Gulbenkian decidiu estabelecer um agrupamento orquestral permanente. No início constituído apenas por doze elementos, foi originalmente designado por Orquestra de Câmara Gulbenkian. Ao longo de sessenta anos de atividade, a Orquestra Gulbenkian (denominação adotada desde 1971) foi sendo progressivamente alargada, contando hoje com um efetivo de cerca de sessenta instrumentistas, que pode ser expandido de acordo com as exigências de cada programa. Esta constituição permite à Orquestra Gulbenkian interpretar um amplo repertório, do Barroco até à música contemporânea. Obras pertencentes ao repertório corrente das grandes formações sinfónicas podem também ser interpretadas pela Orquestra Gulbenkian em versões mais próximas dos efetivos orquestrais para que foram originalmente concebidas, no que respeita ao equilíbrio da respetiva arquitetura sonora.
Em cada temporada, a Orquestra Gulbenkian realiza uma série regular de concertos no Grande Auditório, em Lisboa, em cujo âmbito colabora com os maiores nomes do mundo da música, nomeadamente maestros e solistas. Atua também com regularidade noutros palcos nacionais, cumprindo desta forma uma significativa função descentralizadora. No plano internacional, a Orquestra Gulbenkian foi ampliando gradualmente a sua atividade, tendo efetuado digressões na Europa, na Ásia, em África e nas Américas. No plano discográfico, o nome da Orquestra Gulbenkian encontra-se associado às editoras Philips, Deutsche Grammophon, Hyperion, Teldec, Erato, Adès, Nimbus, Lyrinx, Naïve e Pentatone, entre outras, tendo esta sua atividade sido distinguida, desde muito cedo, com diversos prémios internacionais de grande prestígio. O finlandês Hannu Lintu é o Maestro Titular da Orquestra Gulbenkian, sucedendo a Lorenzo Viotti.
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Aziz Shokhakimov
Maestro
Aziz Shokhakimov é Diretor Musical da Orquestra Filarmónica de Estrasburgo e Diretor Artístico da Orquestra Filarmónica Tekfen (Turquia). Entre 2015 e 2021, foi Kapellmeister na Deutsche Oper am Rhein. Como maestro convidado, dirigiu a Sinfónica da Rádio da Baviera, a NDR Elbphilharmonie Orchester, a Sinfónica WDR (Colónia), a Filarmónica da Radio France, a hr-Sinfonieorchester Frankfurt, a Sinfónica de Houston, a Sinfónica de Toronto e a Sinfónica de Seattle, entre outras prestigiadas orquestras.
No domínio da ópera, na temporada passada, Shokhakimov estreou-se com a Ópera Nacional de Paris, em Lucia de Lammermoor. A temporada 2023-2024 inclui a sua estreia com a Bayerischer Staatsoper, na direção de A Dama de Espadas de Tchaikovsky. Com a Filarmónica de Estrasburgo dirigirá uma nova produção de Lohengrin na Ópera do Reno. Como Kapellmeister na Deutsche Oper am Rhein, dirigiu novas produções de A Dama de Espadas, Madama Butterfly, Salome e Tosca.
Aziz Shokhakimov tem uma relação especial com o Festival de Salzburgo, onde foi distinguido com o prestigioso Prémio para Jovem Maestro, em agosto de 2016. Regressou em 2017 para dirigir o concerto dos laureados, à frente da Sinfónica da Rádio de Viena, e em 2019 para dirigir na Cerimónia de Abertura do Festival de Salzburgo, com a violinista Patricia Kopatchinskaja.
Aziz Shokhakimov nasceu em 1988 em Tashkent, no Uzbequistão. Aos seis anos ingressou na Escola de Música Uspensky, onde estudou violino, viola e direção de orquestra. Aos treze anos dirigiu a Sinfonia n.º 5 de Beethoven e o Concerto para Piano n.º 1 de Liszt, à frente da Sinfónica Nacional do Uzbequistão. No ano seguinte dirigiu a sua primeira ópera, Carmen, na Ópera Nacional do Uzbequistão. Foi Maestro Assistente da Sinfónica Nacional do Uzbequistão, tendo assumido as funções de Maestro Principal em 2006. Em 2010 foi segundo classificado no Concurso Internacional Gustav Mahler, em Bamberg.
Programa
Maurice Ravel
Suite de Ma mère l’Oye
1. Pavane de la belle au bois dormant
2. Petit Poucet
3. Laideronnette, impératrice des Pagodes
4. Les entretiens de la belle et de la bête
5. Le jardin féerique