Rachmaninov: Concerto para Piano n.º 2
Orquestra Gulbenkian / Nuno Coelho / Nikolai Lugansky
Sergei Rachmaninov iniciou os esboços do seu Concerto para Piano e Orquestra n.º 2, em Dó menor, op. 18, no outono de 1900, após o prolongado período de inatividade criativa que se seguiu à malograda estreia da sua Sinfonia n.º 1, em Ré menor, op. 13, ocorrida em São Petersburgo, a 28 de março de 1897. Talvez como forma de combater o desalento e a tristeza, o músico voltou-se para o seu instrumento de eleição, o piano, nele concentrando novas ideias e conjugando-as com as forças orquestrais. A composição paulatina prolongou-se até abril de 1901, tendo a primeira audição pública do Concerto n.º 2 tido lugar no mês de novembro seguinte, com a Sociedade Filarmónica de Moscovo e o compositor ao piano, sob a direção de Alexander Siloti.
A expectativa impõe-se desde os primeiros compassos do andamento introdutório, Moderato, com a sucessão de majestosos acordes do solista, em crescendo, alternando com nota-pedal na dominante. Por sua vez, as cordas introduzem o primeiro tema da exposição, sobre a teia elaborada de harpejos do piano. O solista intensifica o trabalho virtuosístico, antes do aparecimento do segundo tema, também nas cordas, com perfil breve e nostálgico. Rapidamente o solista intervém, com fragmentos do primeiro tema, agora fundidos na filigrana orquestral, num quadro de beleza ímpar. Surge ainda um terceiro tema, breve arabesco entoado pelas madeiras e retomado, na recapitulação, pelo solista.
No segundo andamento, Adagio sostenuto, o músico reflete toda a sua reconhecida veia expressiva, plasmada nos motivos da flauta e do clarinete, emoldurados pelas harmonias harpejadas do solista. A secção central do andamento, Più animato, faz apelo a um virtuosismo de cariz lisztiano, baseado em segmentos escalares e ornamentação diversa. Existem afinidades entre os primeiros compassos do último andamento, Allegro scherzando, e o terceiro tema do Moderato inicial, o que releva do princípio cíclico herdado do compatriota Piotr Ilitch Tchaikovsky (1840-1893). Não ficam por aqui, de resto, as afinidades entre os dois compositores, como se constata pela textura densamente harmonizada, em tutti orquestral, dos derradeiros compassos do andamento.
Intérpretes
- Maestro
- Piano
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Orquestra Gulbenkian
Em 1962 a Fundação Calouste Gulbenkian decidiu estabelecer um agrupamento orquestral permanente. No início constituído apenas por doze elementos, foi originalmente designado por Orquestra de Câmara Gulbenkian. Ao longo de sessenta anos de atividade, a Orquestra Gulbenkian (denominação adotada desde 1971) foi sendo progressivamente alargada, contando hoje com um efetivo de cerca de sessenta instrumentistas, que pode ser expandido de acordo com as exigências de cada programa. Esta constituição permite à Orquestra Gulbenkian interpretar um amplo repertório, do Barroco até à música contemporânea. Obras pertencentes ao repertório corrente das grandes formações sinfónicas podem também ser interpretadas pela Orquestra Gulbenkian em versões mais próximas dos efetivos orquestrais para que foram originalmente concebidas, no que respeita ao equilíbrio da respetiva arquitetura sonora.
Em cada temporada, a Orquestra Gulbenkian realiza uma série regular de concertos no Grande Auditório, em Lisboa, em cujo âmbito colabora com os maiores nomes do mundo da música, nomeadamente maestros e solistas. Atua também com regularidade noutros palcos nacionais, cumprindo desta forma uma significativa função descentralizadora. No plano internacional, a Orquestra Gulbenkian foi ampliando gradualmente a sua atividade, tendo efetuado digressões na Europa, na Ásia, em África e nas Américas. No plano discográfico, o nome da Orquestra Gulbenkian encontra-se associado às editoras Philips, Deutsche Grammophon, Hyperion, Teldec, Erato, Adès, Nimbus, Lyrinx, Naïve e Pentatone, entre outras, tendo esta sua atividade sido distinguida, desde muito cedo, com diversos prémios internacionais de grande prestígio. O finlandês Hannu Lintu é o Maestro Titular da Orquestra Gulbenkian, sucedendo a Lorenzo Viotti.
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Nuno Coelho
Guest Conductor
The 2022/23 season sees Nuno Coelho commence his Chief Conductor and Artistic Directorship of the Orquesta Sinfónica del Principado de Asturias. He also begins his fifth year as Guest Conductor of the Gulbenkian Orchestra with a production of José Saramago’s reimagining of Mozart’s Don Giovanni to mark the writer’s centenary. Highlights elsewhere include debuts with the Royal Concertgebouw Orchestra, Tampere Philharmonic and Sinfonieorchester St Gallen; returns to Antwerp Symphony and Orquesta Sinfónica de Tenerife; and a tour with the Joven Orquesta Nacional de España.
Last season saw Nuno debut with the Helsinki Philharmonic, Dresden Philharmonie, Staatsorchester Hannover, Orchestre Philharmonique du Luxembourg, Gavle Symphony, Malmö Symphony, Residentie Orkest, Orchestre philharmonique de Strasbourg and Orchestre National de Lille; and continue his relationships with the Orquesta Sinfonica de Galicia and Orquestra Simfónica de Barcelona. In March 2022 he conducted a semi-staged Così fan tutte at the Gulbenkian, adding to theatre credits which include productions of La traviata, Cavalleria rusticana, Rusalka, Das Tagebuch der Anne Frank and Seven Deadly Sins.
Nuno won First Prize at the 2017 Cadaqués International Conducting Competition and has since gone on to conduct the Royal Liverpool Philharmonic, BBC Philharmonic, Symphoniker Hamburg, Orquesta Sinfónica de Castilla y León, Noord Nederlands Orkest and Orchestra Teatro Regio Torino. He was a Los Angeles Philharmonic Dudamel Fellow between 2018-19 and stepped in for Bernard Haitink that same season to make his debut with the Symphonieorchester des Bayerischen Rundfunks.
Born in Porto, Nuno studied conducting at the Zürich University of the Arts with Johannes Schlaefli and won the Neeme Järvi Prize at the Gstaad Menuhin Festival. In 2015 he was admitted into the German Music Council’s Dirigentenforum and for the following two years he was both a Tanglewood Conducting Fellow and Assistant Conductor of the Netherlands Philharmonic. Literature and tennis occupy his time off-podium.
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Nikolai Lugansky
Piano
Nikolai Lugansky is a pianist who combines elegance and grace with powerful virtuosity, a true incarnation of the Russian tradition on the international classical stage. Recognised as a master of Russian and late romantic repertoire, Lugansky is renowned for his interpretations of Rachmaninov, Prokofiev, Chopin and Debussy. He has received numerous awards for recordings and artistic merit.
He regularly works with top level conductors such as Yuri Temirkanov, Kent Nagano, Charles Dutoit, Mikhail Pletnev, Gianandrea Noseda and Vladimir Jurowski. Concerto highlights for the 2019/20 season include performances with the Seoul Philharmonic Orchestra, Philharmonia Orchestra in London, National Symphony Orchestra in Washington D.C., Luzerner Sinfonieorchester, Swedish Radio Symphony Orchestra, Belgium National Orchestra, and Orchestre Philharmonique de Radio France.
A regular recitalist the world over, during this season Lugansky appears at the Concertgebouw Amsterdam, Wiener Konzerthaus, Tonhalle in Zurich, Moscow’s Zaryadye, Théâtre des Champs-Elysées in Paris, and Calouste Gulbenkian Museum in Lisbon. Lugansky also performs a series of American recitals, including a performance in Chicago, and gives recitals in Florence and Rome as well as numerous performances in Russia. Lugansky regularly performs at the La Roque-d'Anthéron Festival in France, with the last season marking the 23rd consecutive year of appearance.
In June 2019 Nikolai Lugansky received the Russian Federation National Award in Literature and Art, for his contribution to the development and advancement of Russian and international classical music culture over the past 20 years. Lugansky was awarded the honour of People’s Artist of Russia in April 2013, which is the highest honorary title for outstanding achievement in the arts.
In addition to performing, Lugansky has been a professor at the Moscow State Tchaikovsky Conservatory since 1998. He is also the Artistic Director of the Tambov Rachmaninov Festival and is a supporter of, and regular performer at, the Rachmaninov Estate and Museum of Ivanovka.
Described by Gramophone as “the most trailblazing and meteoric performer of all” Nikolai Lugansky is a pianist of extraordinary depth and versatility. He regularly appears at some of the world's most distinguished festivals, including the Aspen, Tanglewood, Ravinia and Verbier festivals. Chamber music collaborators include Vadim Repin, Alexander Kniazev, Mischa Maisky and Leonidas Kavakos.
Nikolai Lugansky has won several awards for his many recordings. His recital CD featuring Rachmaninov's Piano Sonatas won the Diapason d’Or, whilst his recording of concertos by Grieg and Prokofiev with Kent Nagano and the Deutsches Symphonie-Orchester Berlin was a Gramophone Editor’s Choice. Lugansky has an exclusive contract with harmonia mundi and his recent disc of Rachmaninov’s 24 Preludes, released in April 2018, met with enthusiastic reviews. He was described as having “an ability to enchant the ear… with a deep feeling for the music” (The Financial Times). His recording of solo piano music by Debussy was released in the 2018 anniversary year.
Programa
Sergei Rachmaninov
Concerto para Piano e Orquestra n.º 2, em Dó menor, op. 18
– Moderato
– Adagio sostenuto
– Allegro scherzando