Mozart: Sinfonia Concertante
Orquestra Gulbenkian / Pinchas Zukerman / Fumiaki Miura
Datada de 1779, o último ano de Wolfgang Amadeus Mozart em Salzburgo antes de se fixar definitivamente em Viena, a Sinfonia Concertante para Violino, Viola e Orquestra, em Mi bemol maior, K. 364, em conjunto com os concertos para violino e orquestra, é um dos pilares do reportório para cordas do compositor.
Como o título sugere, estamos perante uma obra que une as caraterísticas da sinfonia às do concerto, neste caso para dois solistas. Na opinião de muitos, esta sinfonia concertante representa o maior dos concertos para violino de Mozart, mas não se pense que a viola tem um papel menor nesta obra singular. Uma característica peculiar e igualmente fascinante deste trabalho, é a forma como Mozart equilibra o som brilhante do violino com a sonoridade mais escura da viola, usando a afinação da viola solista meio tom acima, de modo que, enquanto todos interpretam a obra no seu tom real, Mi bemol maior, o solista de viola toca com meio tom de diferença, em Ré maior. O efeito, provocado pelo aumento de tensão nas cordas do instrumento, é fazer com que a viola soe mais brilhante. Embora hoje em dia a obra seja frequentemente tocada com a viola na afinação convencional, a afinação mais aguda de Mozart pode criar um equilíbrio único e fascinante entre os dois instrumentos solistas.
A presença dos instrumentos de sopro resume-se aos oboés e trompas. A ausência, por exemplo, do naipe de flautas, estará relacionada com a preocupação do compositor em evitar registos mais agudos que pudessem ao longo da partitura retirar enfase à viola solista.
Esta obra representa o auge das viagens de Mozart por Mannheim e Paris. Embora menos marcada pela influência parisiense do que as suas composições de 1778, o compositor parte do modelo da sinfonia concertante francesa, mas com algumas diferenças – não só acrescenta um andamento aos dois habituais, como atribui uma tonalidade menor a um deles, neste caso ao segundo andamento, Andante. Ao contrário do comum nas sinfonias concertantes parisienses, o primeiro andamento não se limita à tradicional forma de sonata com dois temas contrastantes. Em vez disso, Mozart transborda ideias melódicas onde o esquema de pergunta-resposta entre os solistas é constante, tanto no Allegro inicial, como no Presto final.
Esta página célebre da obra de Mozart, mostra a que ponto a estética da sua escrita musical evoluía incessantemente aos 23 anos de idade.
Intérpretes
- Viola
- Violino
-
Orquestra Gulbenkian
Em 1962 a Fundação Calouste Gulbenkian decidiu estabelecer um agrupamento orquestral permanente. No início constituído apenas por doze elementos, foi originalmente designado por Orquestra de Câmara Gulbenkian. Ao longo de sessenta anos de atividade, a Orquestra Gulbenkian (denominação adotada desde 1971) foi sendo progressivamente alargada, contando hoje com um efetivo de cerca de sessenta instrumentistas, que pode ser expandido de acordo com as exigências de cada programa. Esta constituição permite à Orquestra Gulbenkian interpretar um amplo repertório, do Barroco até à música contemporânea. Obras pertencentes ao repertório corrente das grandes formações sinfónicas podem também ser interpretadas pela Orquestra Gulbenkian em versões mais próximas dos efetivos orquestrais para que foram originalmente concebidas, no que respeita ao equilíbrio da respetiva arquitetura sonora.
Em cada temporada, a Orquestra Gulbenkian realiza uma série regular de concertos no Grande Auditório, em Lisboa, em cujo âmbito colabora com os maiores nomes do mundo da música, nomeadamente maestros e solistas. Atua também com regularidade noutros palcos nacionais, cumprindo desta forma uma significativa função descentralizadora. No plano internacional, a Orquestra Gulbenkian foi ampliando gradualmente a sua atividade, tendo efetuado digressões na Europa, na Ásia, em África e nas Américas. No plano discográfico, o nome da Orquestra Gulbenkian encontra-se associado às editoras Philips, Deutsche Grammophon, Hyperion, Teldec, Erato, Adès, Nimbus, Lyrinx, Naïve e Pentatone, entre outras, tendo esta sua atividade sido distinguida, desde muito cedo, com diversos prémios internacionais de grande prestígio. O finlandês Hannu Lintu é o Maestro Titular da Orquestra Gulbenkian, sucedendo a Lorenzo Viotti.
-
Pinchas Zukerman
Violino, Direção
O excecional nível artístico de Pinchas Zukerman, bem como a sua versatilidade como violinista, violetista, maestro e músico de câmara, são qualidades reconhecidas há mais de cinco décadas. Virtuosismo, musicalidade, beleza tímbrica e uma irrepreensível personalidade artística são características de Zukerman, também corroboradas por uma discografia de mais de 100 álbuns que mereceu a atribuição de dois Grammy e de 21 nomeações.
Os destaques da temporada 2021/22 incluíram colaborações com a Filarmónica de Israel, a Sinfónica de Barcelona, a Orquestra Nacional de Lyon e a Sinfónica de Dallas. Com o Zukerman Trio atuou nos festivais de música de câmara de Ravinia, Aspen e Amelia Island, bem como nos Parlance Chamber Concerts, em Nova Jérsia, e na Washington and Lee University, em Lexington, Virgínia. Com a violoncelista Amanda Forsyth, apresentou-se com a English Chamber Orchestra, a Orquestra Sinfónica MÁV (Budapeste), a Sinfónica de Praga, a Sinfónica Nacional da Rádio Polaca e as Sinfónicas de Reading e New Bedford. Ambos atuaram também numa digressão com o Jerusalem String Quartet, que incluiu concertos nos EUA e no Canadá.
Como professor e mentor de novas gerações de músicos, liderou, durante 25 anos, o Pinchas Zukerman Performance Program na Manhattan School of Music. Foi professor em proeminentes instituições nos EUA, no Reino Unido, em Israel, na China e no Canadá. Durante as próximas duas temporadas, é o novo Artistic & Principal Education Partner da Orquestra Sinfónica de Dallas, colaborando com a orquestra em parceira com a Southern Methodist University Meadows School of the Arts, onde exercerá tutoria e orientará cursos intensivos para os alunos de música.
Pinchas Zukerman inspirou várias gerações de jovens músicos que atingiram proeminência nos domínios da interpretação, da docência e da liderança de festivais internacionais. Foram-lhe atribuídos doutoramentos honorários pela Brown University, pela Queen’s University (Kingston, Ontário) e pela Universidade de Calgary. Foi também agraciado com a National Medal of Arts e o Isaac Stern Award for Artistic Excellence in Classical Music
-
Fumiaki Miura
Violino
Natural de Tóquio, Fumiaki Miura estudou com Tsugio Tokunaga no Conservatório de Tóquio e com Pavel Vernikov e Julian Rachlin em Viena. Desde os 16 anos, tem como mentor o violinista e maestro Pinchas Zukerman. Em 2009 foi o mais jovem violinista a vencer o prestigioso Concurso Internacional de Violino Joseph Joachim, em Hanôver.
Depois de uma residência com a Royal Philharmonic Orchestra, a temporada 22/23 inclui atuações com a Sinfónica de Bilbau e a Orquestra Gulbenkian, sob a direção de Pinchas Zukerman. Outros compromissos incluem colaborações com a ADDA Simfònica (Alicante) e a Orquestra de Câmara de Viena e uma digressão ao Japão com a pianista Varvara.
Fumiaki Miura apresentou-se com a Filarmónica de Los Angeles, a NDR Radiophilharmonie Hannover, a NDR Sinfonieorchester Hamburg, a Radio-Sinfonieorchester Stuttgart des SWR, a Sinfónica de Basileia, a Royal Liverpool Philharmonic, a Filarmónica de Praga, a Orquestra do Teatro Mariinsky, a Sinfónica Tchaikovsky, a Orquestra de Câmara de Lausanne, a Filarmónica de Varsóvia, a Sinfónica NHK de Tóquio, a Sinfónica de Utah, a Filarmónica do Japão, a Orquestra Nacional do Capitólio de Toulouse, a Sinfónica de Gotemburgo, a Sinfónica de Düsseldorf, a hr-Sinfonieorchester Frankfurt e a Hong-Kong Sinfonietta, entre outras.
Fumiaki Miura tocou sob a direção de maestros de renome como Valery Gergiev, Gustavo Dudamel, Pinchas Zukerman, Krzysztof Penderecki, Vladimir Fedoseyev, Andrés Orozco-Estrada, Kazushi Ono, Hannu Lintu, Jakub Hrůša, Vasily Petrenko, Josep Pons, Patrick Hahn, Santtu-Matias Rouvali, Stéphane Denève, Kristjan Järvi, Tatsuya Shimono, Terry Fisher ou Rafael Payaré.
Apresenta-se com regularidade em festivais como Miyazaki, Ravinia, Julian Rachlin and Friends, Schleswig-Holstein, Musique de Menton, Gyeonggi Chamber Music Festival ou Festival Menuhin de Gstaad. Tocou também em prestigiados palcos como o Auditorium do Louvre e o Théâtre des Champs-Élysées, em Paris, o Auditorio de Madrid, o Palau de la Música Catalana de Barcelona, a Elbphilharmonie de Hamburgo ou o Wigmore Hall de Londres.
Colaborou com artistas de primeiro plano como Yuri Bashmet, Itamar Golan, Sunwook Kim, Mischa Maisky, Maria João Pires, Lawrence Power, Julian Rachlin, Torleif Thedéen, Nobuyuki Tsujii, Jonathan Roozeman, Varvara ou Pinchas Zukerman.
A sua discografia inclui as Sonatas para Violino de Prokofiev, com o pianista Itamar Golan, (Sony Japan), bem como os Concertos para Violino de Mendelssohn e de Tchaikovsky, com a Deutsches Symphonie-Orchester Berlin e o maestro Hannu Lintu (Avex-Classic).
Fumiaki Miura toca o Stradivarius “ex Viotti” de 1704, por gracioso empréstimo da Munetsugu Foundation.
Programa
Wolfgang Amadeus Mozart
Sinfonia Concertante para Violino, Viola e Orquestra, em Mi bemol maior, K. 364
- Allegro maestoso
- Andante
- Presto