Mozart: Concerto para Piano n.º 27
Orquestra Gulbenkian / Álvaro Albiach / Raúl da Costa
O Concerto para Piano n.º 27, K. 595, foi concluído em 1791, existindo, todavia, algum debate sobre a data precisa da sua composição. O ano final da vida de Mozart foi marcado por um ímpeto criativo que resultaria na composição das óperas A flauta mágica e La clemenza di Tito, do Concerto para Clarinete e Orquestra e do Requiem, que não terminou, entre outras obras. Todavia, em contraste, as preocupações financeiras e familiares, em particular da saúde da sua esposa e da subsistência dos seus filhos, marcaram este ano. Juntar-se-ia a este cenário delicado a deterioração do seu próprio estado de saúde, que se agravou a partir de setembro, resultando na sua morte, a 5 de dezembro.
Mozart escreveu, ao longo da sua vida, 21 concertos para piano solista e orquestra, não contabilizando as composições para dois ou três pianos, e as que compôs com cerca de 11 anos, que resultaram de arranjos de sonatas de outros compositores, em particular de Johann Christian Bach (1735-1782), figura que Mozart conheceu em Londres, em 1764, com oito anos, e que muito influenciaria a sua escrita musical. Os cerca de 18 anos que separam a composição daquele que é considerado o seu primeiro concerto para piano e orquestra, o n.º 5, K. 175, em 1773, do último concerto, o n.º 27, são reveladores de um percurso com várias perspetivas sobre aquele género musical. O último concerto foi, possivelmente, estreado a 4 de março de 1791, na sala Jahn, em Viena, com Mozart ao piano, naquela que terá sido a sua última grande aparição pública.
O compositor distancia-se da linguagem mais exuberante do concerto anterior para nos encaminhar por um mundo sonoro mais intimista, excluindo, por exemplo, trompetes e percussão da orquestração. O primeiro andamento, Allegro, inicia-se com a orquestra a apresentar o primeiro tema, de contornos graciosos, encaminhando-se depois para um segundo tema, mais lírico, em modo menor. A entrada do solista, com o primeiro tema, é delicada, sendo o segundo tema mais contido e intimista. O desenvolvimento é caraterizado por grande criatividade e liberdade, aproveitando os contrastes entre orquestra e solista, seguindo-se a recapitulação e a cadenza. O Larghetto alterna o material temático com vários episódios, partilhados entre solista e orquestra, caracterizando-se pelo seu ambiente sereno. O andamento final, um rondó, Allegro, apresenta o tema inicial no piano, alternando com a orquestra, procurando uma simplicidade e escrita pianística translúcida. Mozart apresenta diferentes facetas do tema inicial, ora com maior ímpeto, ora com grande luminosidade. A cadenza surge então explorando os ambientes sonoros, retomando depois o tema inicial com a orquestra.
Intérpretes
- Maestro
- Piano
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Orquestra Gulbenkian
Em 1962 a Fundação Calouste Gulbenkian decidiu estabelecer um agrupamento orquestral permanente. No início constituído apenas por doze elementos, foi originalmente designado por Orquestra de Câmara Gulbenkian. Ao longo de sessenta anos de atividade, a Orquestra Gulbenkian (denominação adotada desde 1971) foi sendo progressivamente alargada, contando hoje com um efetivo de cerca de sessenta instrumentistas, que pode ser expandido de acordo com as exigências de cada programa. Esta constituição permite à Orquestra Gulbenkian interpretar um amplo repertório, do Barroco até à música contemporânea. Obras pertencentes ao repertório corrente das grandes formações sinfónicas podem também ser interpretadas pela Orquestra Gulbenkian em versões mais próximas dos efetivos orquestrais para que foram originalmente concebidas, no que respeita ao equilíbrio da respetiva arquitetura sonora.
Em cada temporada, a Orquestra Gulbenkian realiza uma série regular de concertos no Grande Auditório, em Lisboa, em cujo âmbito colabora com os maiores nomes do mundo da música, nomeadamente maestros e solistas. Atua também com regularidade noutros palcos nacionais, cumprindo desta forma uma significativa função descentralizadora. No plano internacional, a Orquestra Gulbenkian foi ampliando gradualmente a sua atividade, tendo efetuado digressões na Europa, na Ásia, em África e nas Américas. No plano discográfico, o nome da Orquestra Gulbenkian encontra-se associado às editoras Philips, Deutsche Grammophon, Hyperion, Teldec, Erato, Adès, Nimbus, Lyrinx, Naïve e Pentatone, entre outras, tendo esta sua atividade sido distinguida, desde muito cedo, com diversos prémios internacionais de grande prestígio. O finlandês Hannu Lintu é o Maestro Titular da Orquestra Gulbenkian, sucedendo a Lorenzo Viotti.
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Álvaro Albiach
Maestro
O maestro espanhol Álvaro Albiach foi distinguido com o Grande Prémio do Júri e o Prémio do Público na 46.ª edição do Concurso Internacional de Direção de Orquestra de Besançon (1999). A sua carreira profissional recebeu então um forte impulso, permitindo-lhe estrear-se à frente da Orquestra Nacional do Capitólio de Toulouse. A partir de então, tem sido um convidado regular de importantes orquestras com a Wiener Kammerorchester, a NDR Radio Philharmonie de Hanôver, a Staatskapelle Halle, a Sinfónica de Trondheim, a Orchestre d'Auvergne, a Orquestra da Rádio Flamenga, a Würtembergische Philharmonie ou a Orquestra Nacional de Lyon, bem como as principais orquestras espanholas.
Em setembro de 2012, foi designado Diretor Artístico e Maestro Titular da Orquestra da Estremadura, agrupamento que dirigira pela primeira vez em junho do mesmo ano em dois concertos da temporada, em Cáceres e Badajoz. Até 2021, desenvolveu uma intensa atividade que muito contribuiu para uma maior projeção artística e musical desta orquestra. Atualmente é Maestro Convidado Principal da Orquestra de Valência e da Orquestra da Estremadura.
Álvaro Albiach complementa a sua atividade de direção de concertos sinfónicos com uma importante presença no domínio da ópera, tendo trabalhado em prestigiados teatros e festivais como, entre outros, o Teatro Real de Madrid, o Gran Teatre del Liceu de Barcelona, o Festival Rossini de Pesaro, o Teatro Comunale de Bolonha, o Teatro Comunale de Treviso, o Festival de Schleswig-Holstein, o Festival de Granada, o Festival de Peralada, o Festival de Verão de El Escorial, o Teatro Campoamor de Oviedo, o Teatro Villamarta de Jerez ou o Teatro de la Zarzuela de Madrid.
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Raúl da Costa
Piano
Pianista premiado em diversos concursos nacionais e internacionais, Raúl da Costa recebeu, em 2016, o 1.º prémio e todos os prémios especiais do concurso internacional ZF-Musikpreis. Desde muito novo é presença recorrente nas salas portuguesas mais emblemáticas, salientando-se também o sucesso obtido em festivais internacionais de música e em muitos outros palcos da Europa, dos E.U.A. e da Ásia.
Raúl da Costa nasceu na Póvoa de Varzim em 1993, cidade onde iniciou os seus estudos musicais aos sete anos de idade com Luís Amaro de Oliveira e Emília Coelho. Na Academia de Música S. Pio X, em Vila do Conde, estudou com Álvaro Teixeira Lopes. Em 2011 ingressou na Hochschule für Musik, Theater und Medien, em Hanôver, onde estudou com o reconhecido professor e pedagogo Karl-Heinz Kämmerling, e ainda com Bernd Goetzke. Trabalhou também com Kirill Gerstein na Hochschule für Musik Hanns Eisler. Foi bolseiro da Yamaha Musical Foundation of Europe, da Yehudi Menuhin Live Music Now Foundation e da Fundação Calouste Gulbenkian.
Com um vasto repertório, que se estende de Bach a Zimmerman, a música de câmara sempre ocupou um lugar importante na sua carreira, nomeadamente as colaborações com Christoph Poppen, Juliane Banse, Bruno Monsaingeon, Valeriy Sokolov e Matvey Demin. Apresentou, em estreia absoluta, obras de Luiz Costa, Fernando Lopes-Graça, Eduardo Patriarca e Amílcar Vasques-Dias. Aos 12 anos de idade estreou-se com orquestra na Casa da Música. Desde então, colaborou com maestros como Theodore Kuchar, Antonio Pirolli, Joseph Swensen, Stefan Blunier, Martin Andre, Vladimir Lande, Vitaliy Protasov e Raphaël Oleg, e com orquestras como a Sinfónica do Porto Casa da Música, a Orquestra Gulbenkian, a Filarmónica Janáček, a Filarmónica Portuguesa, a Sinfónica do Estado da Sibéria e a Sinfónica de Antalyia.
A sua interpretação do Concerto para Piano n.º 4 de Rachmaninov foi editada em CD, com a Orquestra Sinfónica do Porto, sob a direção de Stephan Blunier. As suas gravações ao vivo foram difundidas em diversas rádios europeias como NDR, SWR, Deutschlandfunk, Radio France e RTP - Antena 2. Em 2018 assumiu o cargo de Diretor Artístico do Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim.
Programa
Wolfgang Amadeus Mozart
Concerto para Piano e Orquestra n.º 27, em Si bemol maior, K. 595
1. Allegro
2. Larghetto
3. Allegro