Mahler: Adagietto
Orquestra Gulbenkian / Giancarlo Guerrero
A Sinfonia n.º 5 de Gustav Mahler foi composta no dealbar do séc. XX, marcando uma visão inovadora do compositor sobre o género sinfónico, com uma escrita puramente orquestral e aspetos formais de linguagem musical que pretendiam abrir outros caminhos para música. A obra estreou em Colónia a 18 de outubro de 1904, com o compositor na direção da Orquestra Gürzenich, sendo muito bem recebida pelo público e pela crítica. Numa carta à sua esposa Alma, que não esteve presente devido a problemas de saúde, relata aspetos da receção e do caráter inovador da obra, referindo que gostaria que fosse tocada 50 anos após a sua própria morte!
Mahler dedicou a sua máxima atenção à composição da Sinfonia n.º 5. Iniciou-a no verão de 1901, no seu período de férias das funções como diretor da Ópera da Corte de Viena e de recuperação devido a problemas de saúde, e terminou-a no verão do ano seguinte. Este período foi particularmente marcante e feliz na sua vida, pois coincidiu com o casamento com Alma Schindler, que teria lugar em março de 1902, e com o nascimento da sua primeira filha, Maria Anna, em novembro desse ano.
A Sinfonia n.º 5, alvo de várias revisões, está estruturada em cinco andamentos, distribuídos por três partes. O primeiro andamento, Trauermarsch (Marcha fúnebre) inicia-se com um motivo (solo de trompete) que tem sido interpretado como uma alusão ao motivo de quatro notas da Sinfonia n.º 5 de Beethoven, mas também como citação do início da Generalmarsch do exército austro-húngaro. Encaminha-se depois, de modo quase processional, para o tema principal nas cordas, demonstrando mudanças de cor e textura, por vezes quase inesperadas, com ambientes mais sombrios e dramáticos. De notar o modo como os metais se articulam com as cordas e a percussão num discurso intenso e quase cru, conduzindo a momentos perenes, como o próprio final, onde o motivo inicial surge novamente.
O segundo andamento partilha material temático com o anterior, iniciando-se de forma intensa e dramática, com um ambiente trágico, que desagua numa secção melódica mais contida, mas que se vai transformando com impetuosidade. De destacar a secção coral dos metais, com caráter vitorioso, que antecede o final, no qual Mahler retoma o material inicial.
O terceiro andamento, Scherzo, integra a Parte II, inspirando-se em elementos musicais da valsa e de danças populares austríacas, com secções específicas que colocam em evidência os diferentes naipes, permitindo explorar texturas, timbres e cores da orquestra.
A Parte III inicia-se com o quarto andamento, Adagietto, o mais conhecido de Mahler, apenas interpretado pelas cordas e harpa. O compositor guia-nos por uma sonoridade mais intimista entre momentos etéreos e emocionalmente dramáticos, com texturas e massas sonoras de densidades diferentes, no que alguns consideram ser uma carta de amor a Alma, sua esposa.
O quinto andamento, Rondo-Finale, é revelador do interesse de Mahler pela utilização do contraponto. Inicia-se de forma dialogante, seguindo num ambiente mais luminoso e radiante, marcado pelo contraponto. O compositor utiliza o coral dos metais do segundo andamento, criando mais uma ligação entre os andamentos e transmitindo um sentido de unidade da obra, mantendo uma orquestração rica que culmina num final triunfante.
Intérpretes
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Orquestra Gulbenkian
Em 1962 a Fundação Calouste Gulbenkian decidiu estabelecer um agrupamento orquestral permanente. No início constituído apenas por doze elementos, foi originalmente designado por Orquestra de Câmara Gulbenkian. Ao longo de sessenta anos de atividade, a Orquestra Gulbenkian (denominação adotada desde 1971) foi sendo progressivamente alargada, contando hoje com um efetivo de cerca de sessenta instrumentistas, que pode ser expandido de acordo com as exigências de cada programa. Esta constituição permite à Orquestra Gulbenkian interpretar um amplo repertório, do Barroco até à música contemporânea. Obras pertencentes ao repertório corrente das grandes formações sinfónicas podem também ser interpretadas pela Orquestra Gulbenkian em versões mais próximas dos efetivos orquestrais para que foram originalmente concebidas, no que respeita ao equilíbrio da respetiva arquitetura sonora.
Em cada temporada, a Orquestra Gulbenkian realiza uma série regular de concertos no Grande Auditório, em Lisboa, em cujo âmbito colabora com os maiores nomes do mundo da música, nomeadamente maestros e solistas. Atua também com regularidade noutros palcos nacionais, cumprindo desta forma uma significativa função descentralizadora. No plano internacional, a Orquestra Gulbenkian foi ampliando gradualmente a sua atividade, tendo efetuado digressões na Europa, na Ásia, em África e nas Américas. No plano discográfico, o nome da Orquestra Gulbenkian encontra-se associado às editoras Philips, Deutsche Grammophon, Hyperion, Teldec, Erato, Adès, Nimbus, Lyrinx, Naïve e Pentatone, entre outras, tendo esta sua atividade sido distinguida, desde muito cedo, com diversos prémios internacionais de grande prestígio. O finlandês Hannu Lintu é o Maestro Titular da Orquestra Gulbenkian, sucedendo a Lorenzo Viotti.
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Giancarlo Guerrero
Maestro
O maestro Giancarlo Guerrero foi distinguido com seis prémios Grammy. Em 2024/25, cumpre a sua sexta e última temporada como Diretor Musical da Orquestra Sinfónica de Nashville, com a qual estreou mais de duas dezenas de obras, nomeadamente de compositores americanos, e realizou vinte e uma gravações comerciais que receberam treze nomeações para os Grammy. Recentemente foi nomeado Diretor Musical da Orquestra de Sarasota, na Flórida, com início de funções em 2025/26.
Giancarlo Guerrero dirige regularmente as principais orquestras norte-americanas, incluindo a Filarmónica de Nova Iorque, a Sinfónica de Chicago a Sinfónica de São Francisco, a National Symphony (Washington DC) e as orquestras de Boston, Baltimore, Cleveland, Cincinnati, Dallas, Detroit, Indianapolis, Los Angeles, Milwaukee, Montreal, Filadélfia, Seattle, Toronto, Vancouver e Houston. Têm sido muito aplaudidas as suas regulares apresentações na Europa (Alemanha, Reino Unido, Espanha, Portugal, França, Bélgica, Itália), bem como no Brasil, na Nova Zelândia e na Austrália.
Giancarlo Guerrero foi Diretor Musical da NFM Filarmónica de Wrocław (Polónia), Maestro Convidado Principal da Orquestra de Cleveland e da Orquestra Gulbenkian, Diretor Musical da Eugene Symphony e Maestro Associado da Orquestra do Minnnesota. Tem-se dedicado também às orquestras de jovens, colaborando com o Curtis Institute of Music (Filadélfia), a Colburn School (Los Angeles), a National Youth Orchestra (Nova Iorque) e a Yale Philharmonia. Está também envolvido no programa Accelerando, da Sinfónica de Nashville, que proporciona uma intensa formação musical a jovens talentos.
Giancarlo Guerrero nasceu na Nicarágua, mas emigrou para a Costa Rica na infância. O seu talento musical permitiu-lhe estudar percussão e direção de orquestra na Baylor University, nos Estados Unidos da América, tendo obtido o grau de Mestre em Direção de Orquestra pela Northwestern University.
Programa
Gustav Mahler
Sinfonia n.º 5, em Dó sustenido menor
4. Adagietto: Sehr langsam (Muito lento)