Holst: Os Planetas

Orquestra Gulbenkian / Giancarlo Guerrero

Sob a direção do maestro Giancarlo Guerrero, a Orquestra Gulbenkian interpreta a célebre suite orquestral "Os Planetas", de Gustav Holst.
Rui Cabral Lopes 16 dez 2024 58 min

Entre os compositores ingleses que atingiram a maturidade criativa até à Primeira Guerra Mundial destacam-se os nomes de Ralph Vaughan Williams e Gustav Holst. Separados por apenas dois anos de idade, os dois músicos ingressaram no Royal College of Music de Londres, tendo-se conhecido nessa instituição, no ano de 1895. A fervilhante propensão criativa e a partilha de experiências cimentaram uma amizade que perdurou ao longo da vida. A música de Holst, tal como a de Vaughan Williams, reflete o interesse pela música tradicional e pela polifonia antiga, muito embora tenha sido também inspirada por influências extraeuropeias, designadamente dos vedas e do sânscrito indianos. Autor de uma extensa produção musical que engloba a música de cena, a ópera, a música coral e sinfónica, a música de câmara e a canção para voz e piano, Holst ficou conhecido, acima de tudo, pela suite orquestral intitulada The Planets, composta entre 1914 e 1916. Trata-se de uma suite orquestral de grande escala, constituída por sete andamentos distintos que representam as qualidades astrológicas que o imaginário tradicional atribuiu aos sete planetas que eram conhecidos à data da composição, com a exceção notória da Terra (a qual Holst pôs de parte por ser o centro da observação cósmica). Bastante influenciada pelos ecos de um modernismo latente, patentes, por exemplo, no recurso a métricas irregulares, The Planets pode conceber-se como um extenso fresco orquestral, iluminado por ideais difusos de conceção programática, herdados do Romantismo.

Marte, o que traz a guerra, inaugura a partitura, com rasgos de aviso nos metais, premonitórios de conflito, fazendo lembrar que todas as guerras da história da humanidade sempre se viram condicionadas, de algum modo, pelo alinhamento dos astros. A este quadro de agitação intempestiva, Holst faz suceder o planeta Vénus, a que traz a paz, estabelecendo marcado contraste. Após a evocativa entrada, em que as trompas alteram com as flautas, oboés e clarinetes, as cordas tecem uma atmosfera serena, de natureza sonhadora e com vago recorte oriental, trazido pela matriz pentatónica dos motivos melódicos. Mercúrio, o mensageiro alado, desempenha um papel análogo ao do scherzo tradicional, evocando a verve feérica de Sonho de uma Noite de Verão de Mendelssohn. Destacam-se, especialmente, as sonoridades da flauta e da celesta na construção desta torre de fantasias sonoras. Por sua vez, Júpiter, o que traz a alegria, expande o leque de referências à tradição musical europeia, introduzindo uma textura vibrante, tributária das danças populares. O momento alto do andamento surge mais à frente, quando os violoncelos entoam a expressiva melodia que quase configura um hino celebrativo, desprovido de texto. Segue-se Saturno, o que traz a velhice, caracterizado por uma longa introdução com caráter sombrio, apoiada em ostinatos simples das harpas e das madeiras. Os metais encetam depois uma secção em estilo de coral que, na verdade, constitui um prelúdio, em crescendo, para a imponente marcha liderada pelos trompetes, com o apoio do tutti orquestral. Um último aceno aos anos portentosos de maturidade, antes do regresso à calma e ao recolhimento. O penúltimo andamento, Urano, o mágico, faz soar um motivo constituído por quatro notas, nas partes dos trompetes, trombones e tubas, o qual desempenha um papel de fundo da unificação musical do andamento. Segue-se breve secção de marcha protagonizada pelos fagotes, vagamente reminiscente da marcha fúnebre da Sinfonia Fantástica de Hector Berlioz. O discurso torna-se depois mais expansivo, contando com seções agitadas de tutti que alteram com citações da anterior marcha fúnebre. No final do andamento, Holst introduz um momento de natureza impressionista, a partir das cordas, o qual se vê rapidamente perturbado pela anterior marcha dos fagotes, antes do regresso em força do motivo unificador, em uníssono dos metais. O último andamento, Neptuno, o místico, desenvolve um discurso orquestral misterioso, polarizado em torno de relações harmónicas pouco comuns e sempre em registo pianissimo. A sonoridade da orquestra vai-se amplificando levemente, até encontrar o reforço de um duplo coro que tem, na sua constituição, dois sopranos e um contralto, respetivamente. Não havendo texto, as vozes declamam um vocalizo etéreo que reforça a natureza sideral da partitura e nos traz os ecos da ancestral “música das esferas”.


Intérpretes

  • Maestro

Programa

Gustav Holst

Os Planetas, op. 32
1. Marte, o que traz a guerra
2. Vénus, a que traz a paz
3. Mercúrio, o mensageiro alado
4. Júpiter, o que traz a alegria
5. Saturno, o que traz a velhice
6. Urano, o mágico
7. Neptuno, o místico

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