Chostakovitch: Sinfonia n.º 9
Orquestra Gulbenkian / Lorenzo Viotti
A União Soviética foi um dos países mais afetados pela Segunda Guerra Mundial e o seu esforço patriótico refletiu-se na criação de obras musicais de cariz propagandístico. Depois de várias peças de caráter patriótico, Chostakovitch apresentou a sua Sinfonia n.º 9. O compositor tinha uma relação complexa com o regime, sendo perseguido e glorificado em simultâneo. Estreada em Leninegrado a 3 de novembro de 1945, a obra frustrou as expectativas das autoridades, pois é uma meditação irónica sobre as consequências da guerra. Chostakovitch inspira-se no Classicismo Vienense, distorcendo-o com fins expressivos.
O primeiro andamento encontra-se numa forma em que dois temas contrastantes são apresentados, desenvolvidos e reexpostos. O primeiro utiliza elementos do estilo clássico, transfigurados para enfatizar o grotesco e criar um efeito de distanciamento, e o segundo é uma marcha que recorre a instrumentos como o flautim, a caixa e o trombone para criar um ambiente militarista. O desenvolvimento desenrola-se em torno de diversas células e atribui solos a alguns instrumentos.
A reexposição é sobreposta ao desenvolvimento, que prossegue até ao final abrupto do andamento. A textura leve do Moderato é o fundo ao qual se sobrepõe a melodia sinuosa dos clarinetes. A adição de instrumentos de sopro pontuados pelas cordas adensa a textura até ao regresso da atmosfera inicial, catalisada pelo solo de flauta.
O Presto brincalhão destaca o clarinete, que se sobrepõe a um contexto dissonante e pontuado pela percussão. Um solo virtuosístico de trompete e um crescendo intensificam a tensão e preparam o regresso do tema inicial, conduzindo ao andamento seguinte sem interrupção. No Largo pontifica uma solenidade trágica centrada num lamento recitado do fagote, apresentada sobre um acompanhamento esparso. O final, Allegretto – Allegro, remete para uma atmosfera circense encarnada pelo primeiro tema, de caráter irónico e satírico, mas que evoca a tragédia. Esse ambiente é interpolado por episódios contrastantes que aceleram e sobrepõem elementos, atingindo o clímax num final cinético em que pontifica o tutti.
Intérpretes
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Orquestra Gulbenkian
Em 1962 a Fundação Calouste Gulbenkian decidiu estabelecer um agrupamento orquestral permanente. No início constituído apenas por doze elementos, foi originalmente designado por Orquestra de Câmara Gulbenkian. Ao longo de sessenta anos de atividade, a Orquestra Gulbenkian (denominação adotada desde 1971) foi sendo progressivamente alargada, contando hoje com um efetivo de cerca de sessenta instrumentistas, que pode ser expandido de acordo com as exigências de cada programa. Esta constituição permite à Orquestra Gulbenkian interpretar um amplo repertório, do Barroco até à música contemporânea. Obras pertencentes ao repertório corrente das grandes formações sinfónicas podem também ser interpretadas pela Orquestra Gulbenkian em versões mais próximas dos efetivos orquestrais para que foram originalmente concebidas, no que respeita ao equilíbrio da respetiva arquitetura sonora.
Em cada temporada, a Orquestra Gulbenkian realiza uma série regular de concertos no Grande Auditório, em Lisboa, em cujo âmbito colabora com os maiores nomes do mundo da música, nomeadamente maestros e solistas. Atua também com regularidade noutros palcos nacionais, cumprindo desta forma uma significativa função descentralizadora. No plano internacional, a Orquestra Gulbenkian foi ampliando gradualmente a sua atividade, tendo efetuado digressões na Europa, na Ásia, em África e nas Américas. No plano discográfico, o nome da Orquestra Gulbenkian encontra-se associado às editoras Philips, Deutsche Grammophon, Hyperion, Teldec, Erato, Adès, Nimbus, Lyrinx, Naïve e Pentatone, entre outras, tendo esta sua atividade sido distinguida, desde muito cedo, com diversos prémios internacionais de grande prestígio. O finlandês Hannu Lintu é o Maestro Titular da Orquestra Gulbenkian, sucedendo a Lorenzo Viotti.
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Lorenzo Viotti
Maestro Convidado Principal
Na terceira temporada como Maestro Principal da Orquestra Filarmónica e da Ópera Nacional dos Países Baixos, Lorenzo Viotti dirige cinco programas diferentes no Concertgebouw de Amesterdão, incluindo obras de Brahms, Verdi, Ravel, Dvořák, Mahler, Tchaikovsky, Rachmaninov, Sibelius e Schönberg. A orquestra tem também agendada uma digressão na Alemanha e na Bélgica. Viotti dá também continuidade à sua colaboração com o encenador Barrie Kosky, concluindo a nova produção de Il trittico de Puccini, apresentada ao longo de três temporadas. Dirige ainda Lohengrin, a sua primeira ópera de Wagner.
Em 2023-2024, na qualidade de maestro convidado, Lorenzo Viotti estará envolvido em numerosos concertos e projetos, incluindo uma digressão europeia com a Filarmónica de Viena e colaborações com a Filarmónica de Munique, a Staatskapelle Berlin, a Sinfónica Nacional Dinamarquesa e a Sinfónica de Tóquio. Dirige ainda uma nova produção de Simon Boccanegra, de Verdi, com encenação de Daniele Abbado, no Scala de Milão, e uma reposição da produção de Die Csárdásfürstin, de Emmerich Kálmán, na Ópera de Zurique.
Natural de Lausanne, na Suíça, Lorenzo Viotti nasceu no seio de uma família de músicos de ascendência italiana e francesa. Estudou piano, canto e percussão em Lyon, tendo inicialmente sido percussionista da Filarmónica de Viena. Paralelamente estudou direção de orquestra com Georg Mark, em Viena, e com Nicolás Pasquet, no Conservatório Franz Liszt, em Weimar. No início da sua carreira, venceu prestigiosos concursos de direção, incluindo o Concurso Internacional de Cadaqués, o Concurso de Direção MDR (2013) e o Nestlé and Salzburg Festival Young Conductors Award (2015). Em 2017 recebeu o International Opera Newcomer Award. Foi Maestro Titular da Orquestra Gulbenkian entre 2018 e 2021, sendo atualmente Maestro Convidado Principal.
Programa
Dmitri Chostakovitch
Sinfonia n.º 9, em Mi bemol maior, op. 70
1. Allegro
2. Moderato
3. Presto
4. Largo
5. Allegretto – Allegro