Chausson: Poème de l’amour et de la mer
Orquestra Gulbenkian / Matthew Halls / Julie Boulianne
Oriundo de famílias abastadas, formado dentro da cultura clássica (em Direito, conforme a tradição familiar), Ernest Chausson teve um contacto privilegiado com a poesia, a literatura e a pintura contemporâneas. Uma autocrítica severa e uma partida prematura, quando entrava na fase de maturidade musical, levaram a um espólio de composições relativamente reduzido.
Chausson foi visto durante muito tempo como um “burguês enfadonho”, epígono de César Franck, mas hoje é reconhecido como uma das mais importantes figuras do romantismo francês, uma ponte entre Franck e Debussy, mas também uma personalidade criativa individual, antecipando em certos aspetos o impressionismo musical da última década do século XIX. Enquanto secretário da Sociedade Musical de Paris, impulsionou jovens compositores e o seu salão era um local de encontro de importantes personalidades artísticas.
A génese de Poème de l’amour et de la mer remonta a 1882, época em que Chausson era discípulo de César Franck. Os textos provêm de uma coleção de poemas do seu amigo e contemporâneo Maurice Bouchor (1855-1929). Viria a concluir a obra quase uma década depois e a apresentá-la como “canto sinfónico” em Bruxelas, em fevereiro de 1893, e depois na sala Érard em Paris, em abril do mesmo ano.
Considerado o mais wagneriano dos compositores franceses, a descoberta de O Navio Fantasma e de outras óperas a que assistiu em Bayreuth, influenciou-o bastante numa fase inicial. A sua admiração por Wagner revela-se através de uma presença de Tristão e Isolda no Poème op. 19, com a ligação entre o mar, a morte e o amor e uma secção final com muito do Liebestod.
Partitura única no panorama musical da época, descreve o típico romance de verão de fin de siècle marcado por uma melancolia retrospetiva, mas vai além da tradução de sentimentos e de atmosferas. Dentro de uma estética simbolista, as emoções não são traduzidas diretamente, mas evocadas na sensibilidade do sujeito poético aos sons, imagens e perfumes que o rodeiam. Chausson funde com precisão poesia e música sobre uma orquestração refinada e transparente.
Dividida em duas partes com um interlúdio no centro, a obra assenta na melodia contínua e na forma cíclica. É atravessada por l’idée, um constante jogo de ondas, do mar e do amor, e pela evocação do lilás – flor inspiradora de pintores e poetas, associada a um amor jovem ou antigo – no início e no final.
Intérpretes
- Maestro
- Meio-Soprano
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Orquestra Gulbenkian
Em 1962 a Fundação Calouste Gulbenkian decidiu estabelecer um agrupamento orquestral permanente. No início constituído apenas por doze elementos, foi originalmente designado por Orquestra de Câmara Gulbenkian. Ao longo de sessenta anos de atividade, a Orquestra Gulbenkian (denominação adotada desde 1971) foi sendo progressivamente alargada, contando hoje com um efetivo de cerca de sessenta instrumentistas, que pode ser expandido de acordo com as exigências de cada programa. Esta constituição permite à Orquestra Gulbenkian interpretar um amplo repertório, do Barroco até à música contemporânea. Obras pertencentes ao repertório corrente das grandes formações sinfónicas podem também ser interpretadas pela Orquestra Gulbenkian em versões mais próximas dos efetivos orquestrais para que foram originalmente concebidas, no que respeita ao equilíbrio da respetiva arquitetura sonora.
Em cada temporada, a Orquestra Gulbenkian realiza uma série regular de concertos no Grande Auditório, em Lisboa, em cujo âmbito colabora com os maiores nomes do mundo da música, nomeadamente maestros e solistas. Atua também com regularidade noutros palcos nacionais, cumprindo desta forma uma significativa função descentralizadora. No plano internacional, a Orquestra Gulbenkian foi ampliando gradualmente a sua atividade, tendo efetuado digressões na Europa, na Ásia, em África e nas Américas. No plano discográfico, o nome da Orquestra Gulbenkian encontra-se associado às editoras Philips, Deutsche Grammophon, Hyperion, Teldec, Erato, Adès, Nimbus, Lyrinx, Naïve e Pentatone, entre outras, tendo esta sua atividade sido distinguida, desde muito cedo, com diversos prémios internacionais de grande prestígio. O finlandês Hannu Lintu é o Maestro Titular da Orquestra Gulbenkian, sucedendo a Lorenzo Viotti.
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Matthew Halls
Maestro
Desde setembro de 2022, Matthew Halls é Maestro Principal e Diretor Artístico indigitado da Filarmónica de Tampere, na Finlândia, iniciando essas funções em 2023/24. No outono de 2022, o maestro inglês regressou a Tampere para dirigir a 7.ª Sinfonia de Bruckner, antes de se estrear à frente da Orquestra de Câmara de Paris e da Orquestra do Minnesota. Em seguida, dirigiu a Orquestra do Mozarteum de Salzburgo, a Sinfónica de Houston e a Sinfónica de Indianapolis.
Como maestro convidado, Matthew Halls dirige regularmente, entre outras, a Orquestra de Cleveland, a Sinfónica de Seattle, a Sinfónica da Islândia, a Sinfónica de Viena, a Sinfónica da Rádio Finlandesa, a Sinfónica de Dallas e a Orquestra de Câmara de Los Angeles. Destaques recentes incluem a Sinfonia n.º 2 de Mahler, com a Sinfónica de Toronto, a estreia americana da 4.ª Sinfonia de James MacMillan, com a Sinfónica de Pittsburgh (previamente, dirigiu a estreia mundial do European Requiem de MacMillan) e a sua estreia à frente da Sinfónica de Chicago.
O percurso artístico de Matthew Halls inclui a música antiga e as interpretações de época, tendo sido um dos primeiros maestros convidados a dirigir o Concentus Musicus Wien de Nikolaus Harnoncourt. A sua discografia inclui Concertos para Cravo de J. S. Bach, dirigidos a partir do teclado, a primeira gravação de Parnasso in Festa, de G. F. Händel (Prémio Stanley Sadie), além da Oratória de Páscoa e da Oratória da Ascensão de J. S. Bach. No domínio da ópera, o seu repertório estende-se de Ariodante de Händel até Madama Butterfly de Puccini.
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Julie Boulianne
Meio-Soprano
A franco-canadiana Julie Boulianne é elogiada pela agilidade e poder expressivo da sua voz e das suas interpretações. Domina um vasto repertório, com especial relevância nas óperas de Mozart e Rossini. Entre os seus projetos em agenda incluem-se Oktavian (Der Rosenkavalier) no La Monnaie de Bruxelas; Charlotte (Werther) na Ópera Estadual de Viena; Donna Elvira (Don Giovanni) no Quebeque; Dorabella (Così fan tutte) na Royal Opera House - Covent Garden. Fará também parte do elenco da estreia de La Beauté du Monde, de Julien Bilodeau, em Montreal.
Nas temporadas 2019/20 e 2020/21, Julie Boulianne apresentou-se com a Royal Opera House numa digressão ao Japão (Siébel, em Faust de Gounod), cantou Robin-Luron na produção de Laurent Pelly de Le Roi Carotte, de Offenbach, com a Ópera de Lyon, e interpretou ainda: Rosina (O barbeiro de Sevilha) com a Ópera de Vancouver, e Dorabella (Così fan tutte), no Théâtre du Capitole de Toulouse e em Glyndebourne.
Presença regular na Metropolitan Opera de Nova Iorque, interpretou neste palco vários papéis: Siébel (Faust), Stéphano (Romeu e Julieta), sob a direção de Plácido Domingo; Diane (Iphigénie en Tauride), dirigida por Patrick Summers; Assistente de Cozinha (Rusalka), com Renée Fleming; e Ascanio (Les Troyens), com o maestro Fabio Luisi. Estreou-se como Miranda numa nova produção de The Tempest, de Thomas Adès, sob a direção do compositor, no Festival de Ópera do Quebeque. Outros papéis do seu vasto repertório incluem Lazuli (L’Étoile de Chabrier), Cherubino (As bodas de Figaro), o papel principal em Cendrillon de Massenet; o papel principal em La Cenerentola; e Fragoletto, em Les Brigands de Offenbach.
Em concerto, Julie Boulianne colaborou, entre outros, com Franz Welser-Möst e a Orquestra de Cleveland (A Raposinha Matreira); Charles Dutoit e a Sinfónica de Boston (L’enfant et les sortilèges), e Marin Alsop e a Sinfónica de Baltimore (Sonho de uma Noite de Verão de Mendelssohn). Estreou-se no Saito Kinen Festival Matsumoto (Nagano, Japão), em Jeanne d’Arc au bûcher, de Honegger, e cantou a Missa de Nelson, de J. Haydn, no Mostly Mozart Festival, sob a direção de Nézet-Séguin. Com Roger Norrington e a Orchestra of St. Luke interpretou, no Carnegie Hall, a Missa Solemnis de Beethoven. Colaborou ainda com a Sinfónica do Colorado (Messias de Händel), com Les Violons du Roy (Theresienmesse de J. Haydn), com o Festival de Ópera do Quebeque (A Danação de Fausto de Berlioz), com a Orquestra do Iowa (Sinfonia n.º 2 de Mahler), com a Orquestra Metropolitana de Montreal (Paixão segundo São Mateus de J. S. Bach), e com Pinchas Zukerman e a National Arts Centre Orchestra, em Ottawa (9.ª Sinfonia de Beethoven). Outros destaques incluem Shéhérazade, de Ravel, com Emmanuel Villaume e a Sinfónica de Utah, a Missa em Si menor de J. S. Bach, com a Sinfónica de Atlanta, a Sinfonia n.º 3 de Mahler, com a Filarmónica de Calgary, e a Missa da Coroação de Mozart, com a Sinfónica de Cincinnati.
Julie Boulianne diplomou-se pela Schulich School of Music da McGill University de Montreal. Recebeu primeiros prémios nos concursos Canadian Music Competition e Joy of Singing Competition, em Nova Iorque. Foi também distinguida com o International Vocal Arts Institute’s Silverman Prize, e o Prix de la Chambre des Directeurs, para a Mais Promissora Carreira, no Concurso Internacional de Canto de Montreal.
Programa
Ernest Chausson
Poème de l’amour et de la mer
– La Fleur des eaux
– Interlude
– La Mort de l’amour