Bruch: Concerto para Violino n.º 1
Orquestra Gulbenkian / Giancarlo Guerrero / Karen Gomyo
Compositor, maestro e pedagogo, Max Bruch gozou de grande prestígio até à I Guerra Mundial, mas depois disso e apesar da extensa obra que deixou, ficou sobretudo associado ao Concerto que hoje ouviremos.
O Concerto para Violino n.º 1 é, sem dúvida, um dos mais belos que o Romantismo musical nos deixou. Combina a orquestração romântica com o brilho do violino (sem nunca cair no show off vazio), os moldes formais claros com a fantasia e a liberdade, a energia rítmica com uma abundante veia melódica. A originalidade começa, desde logo, com o 1.º andamento, o qual, fugindo à tradição estabelecida, é um “mero” Vorspiel (Prelúdio), cuja função é conduzir – e fá-lo sem interrupção, por meio de um Si bemol mantido nos violinos – ao Adagio central, que é o verdadeiro coração expressivo da obra. Mas não sem antes nos presentear com uma introdução que vai ganhando forma (pontuada por breves cadenze do violino) e com uma exposição com dois temas principais: o primeiro vigoroso e com algo de virtuose cigano; e o segundo muito lírico e banhado por orquestração delicada. No final do desenvolvimento, a orquestra apresenta um novo tema, impetuoso. Regressa a introdução, seguida da reexposição. Um episódio orquestral em fortissimo, que depois se apazigua, sinaliza a transição para o 2.º andamento (em Mi bemol maior), uma Romanze de contínua efusão melódica, com três temas principais: duas cantilenas (a primeira, de caráter elegíaco) apresentadas no violino e um tema dado pela orquestra (depois, irão trocando de “voz” e sucedendo-se como que em “cadinho”). No final, tudo esmorece de modo tão tranquilo quanto simples.
O 3.º andamento, por fim, tem a tradicional verve rítmica e o caráter dançante associados aos Finale de concerto, aqui conferido por uma célula rítmica que preside ao tema-refrão. O primeiro episódio desagua num tema secundário, festivo e grandioso, dado pela orquestra e logo apropriado pelo violino, e que depois irá aparecendo em alternância com o tema principal. Uma “cadenza acompanhada” do violino precede a singela coda.
O Concerto estreou, na sua primeira versão, em abril de 1866, em Koblenz e, na sua segunda e definitiva versão (Joseph Joachim, a quem a obra é dedicada, colaborou nessa revisão), em janeiro de 1868, em Bremen, com Joachim como solista e Bruch na direção.
Intérpretes
- Maestro
- Violino
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Orquestra Gulbenkian
Em 1962 a Fundação Calouste Gulbenkian decidiu estabelecer um agrupamento orquestral permanente. No início constituído apenas por doze elementos, foi originalmente designado por Orquestra de Câmara Gulbenkian. Ao longo de sessenta anos de atividade, a Orquestra Gulbenkian (denominação adotada desde 1971) foi sendo progressivamente alargada, contando hoje com um efetivo de cerca de sessenta instrumentistas, que pode ser expandido de acordo com as exigências de cada programa. Esta constituição permite à Orquestra Gulbenkian interpretar um amplo repertório, do Barroco até à música contemporânea. Obras pertencentes ao repertório corrente das grandes formações sinfónicas podem também ser interpretadas pela Orquestra Gulbenkian em versões mais próximas dos efetivos orquestrais para que foram originalmente concebidas, no que respeita ao equilíbrio da respetiva arquitetura sonora.
Em cada temporada, a Orquestra Gulbenkian realiza uma série regular de concertos no Grande Auditório, em Lisboa, em cujo âmbito colabora com os maiores nomes do mundo da música, nomeadamente maestros e solistas. Atua também com regularidade noutros palcos nacionais, cumprindo desta forma uma significativa função descentralizadora. No plano internacional, a Orquestra Gulbenkian foi ampliando gradualmente a sua atividade, tendo efetuado digressões na Europa, na Ásia, em África e nas Américas. No plano discográfico, o nome da Orquestra Gulbenkian encontra-se associado às editoras Philips, Deutsche Grammophon, Hyperion, Teldec, Erato, Adès, Nimbus, Lyrinx, Naïve e Pentatone, entre outras, tendo esta sua atividade sido distinguida, desde muito cedo, com diversos prémios internacionais de grande prestígio. O finlandês Hannu Lintu é o Maestro Titular da Orquestra Gulbenkian, sucedendo a Lorenzo Viotti.
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Giancarlo Guerrero
Maestro
O maestro Giancarlo Guerrero foi distinguido com seis prémios Grammy. Em 2024/25, cumpre a sua sexta e última temporada como Diretor Musical da Orquestra Sinfónica de Nashville, com a qual estreou mais de duas dezenas de obras, nomeadamente de compositores americanos, e realizou vinte e uma gravações comerciais que receberam treze nomeações para os Grammy. Recentemente foi nomeado Diretor Musical da Orquestra de Sarasota, na Flórida, com início de funções em 2025/26.
Giancarlo Guerrero dirige regularmente as principais orquestras norte-americanas, incluindo a Filarmónica de Nova Iorque, a Sinfónica de Chicago a Sinfónica de São Francisco, a National Symphony (Washington DC) e as orquestras de Boston, Baltimore, Cleveland, Cincinnati, Dallas, Detroit, Indianapolis, Los Angeles, Milwaukee, Montreal, Filadélfia, Seattle, Toronto, Vancouver e Houston. Têm sido muito aplaudidas as suas regulares apresentações na Europa (Alemanha, Reino Unido, Espanha, Portugal, França, Bélgica, Itália), bem como no Brasil, na Nova Zelândia e na Austrália.
Giancarlo Guerrero foi Diretor Musical da NFM Filarmónica de Wrocław (Polónia), Maestro Convidado Principal da Orquestra de Cleveland e da Orquestra Gulbenkian, Diretor Musical da Eugene Symphony e Maestro Associado da Orquestra do Minnnesota. Tem-se dedicado também às orquestras de jovens, colaborando com o Curtis Institute of Music (Filadélfia), a Colburn School (Los Angeles), a National Youth Orchestra (Nova Iorque) e a Yale Philharmonia. Está também envolvido no programa Accelerando, da Sinfónica de Nashville, que proporciona uma intensa formação musical a jovens talentos.
Giancarlo Guerrero nasceu na Nicarágua, mas emigrou para a Costa Rica na infância. O seu talento musical permitiu-lhe estudar percussão e direção de orquestra na Baylor University, nos Estados Unidos da América, tendo obtido o grau de Mestre em Direção de Orquestra pela Northwestern University.
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Karen Gomyo
Violino
A violinista Karen Gomyo possuiu uma rara capacidade de comunicação. Uma eloquência musical que emana das suas elegantes atuações, profundamente expressivas e tecnicamente irrepreensíveis.
Os seus compromissos na presente temporada incluem estreias com a Sinfónica de Chicago e o maestro John Storgårds, a Orquestra do Gewandhaus de Leipzig e Semyon Bychkov e a Sinfónica Nacional da Irlanda e Lio Kuokman. Apresenta-se também com a Orquestra do Mozarteum de Salzburgo e Constantinos Carydis, a Filarmónica da BBC e John Storgårds, a Sinfónica de Bilbau e o maestro e compositor Samy Moussa e a Sinfónica de Vancouver e Gerard Schwarz. Destaque ainda para o regresso à Sinfónica de Dallas para a estreia mundial de Year 2020, um concerto para trompete, violino e orquestra de Xi Wang, sob a direção de Fabio Luisi. Com o maestro Jakub Hrůša, regressa ao Japão para tocar com a Sinfónica Metropolitana de Tóquio. Para agosto e setembro de 2024, tem agendada uma digressão a Singapura, Melbourne e Sydney.
Destaques de atuações recentes incluem colaborações com a Filarmónica de Nova Iorque, a Sinfónica de Pittsburgh, a Orquestra Nacional de Espanha, a Filarmónica Checa e a Orquestra da Academia Nacional de Santa Cecília, em Roma. Tocou também com a Filarmónica de Los Angeles, sob a direção de Gustavo Dudamel, no Hollywood Bowl, a Filarmónica da Radio France, em Paris, com Mikko Franck, e a Sinfónica WDR de Colónia, com Cristian Macelaru.
No domínio da música de câmara, Karen Gomyo tem colaborado com outros artistas de topo como Olli Mustonen, Leif Ove Andsnes, Enrico Pace, James Ehnes, Noah Bendix-Balgley, Daishin Kashimoto, Emmanuel Pahud, Julian Steckel, Susan Graham e o guitarrista Ismo Eskelinen, com quem gravou o álbum Carnival para a BIS Records. É uma admiradora e grande intérprete do Nuevo Tango de Astor Piazzolla. Colabora regularmente com Pablo Ziegler, o lendário pianista de Piazzolla, e com os bandoneonistas Hector del Curto, JP Jofre e Marcelo Nisinman. Em 2021 a BIS Records lançou o álbum A Piazzolla Triology, gravado com um grupo de cordas da Orchestre National des Pays de la Loire e a guitarrista Stephanie Jones.
Karen Gomyo interpreta também regularmente novas obras, contando com as estreias norte-americanas do Concerto para Violino Adrano, de Samy Moussa, com a Sinfónica de Pittsburgh, e o Concerto n.º 2 Mar'eh, de Matthias Pintscher, com a National Symphony Orchestra (Washington D.C.), sob a direção do compositor. Em 2018 estreou uma obra que lhe foi dedicada, o novo Concerto de Câmara de Samuel Adams, interpretado com membros da Sinfónica de Chicago e o maestro Esa-Pekka Salonen.
Karen Gomyo nasceu em Tóquio, mas iniciou a sua formação musical em Montreal, no Canadá. Posteriormente, estudou com Dorothy DeLay na Juilliard School de Nova Iorque, bem como na Indiana University Jacobs School of Music e no New England Conservatory. Como violinista, anfitriã e narradora, participou num filme documental sobre Antonio Stradivari, intitulado The Mysteries of the Supreme Violin, produzido pela NHK.
Programa
Max Bruch
Concerto para Violino e Orquestra n.º 1, em Sol menor, op. 26
– Vorspiel [Prelúdio]: Allegro moderato
– Adagio
– Finale: Allegro energico