Suppé, Franz von
Requiem
Um disco importante para a auto-estima nacional nesta rentrée porque reúne efectivos em quantidade e qualidade e os divulga em circuitos internacionais. Rejubilemos com os discos de Maria João Pires, Artur Pizarro ou as raridades dedicadas ao repertório nacional. Mas é de facto com discos destes que se poderia estabelecer uma saudável e estimulante rotina musical, potenciando alguns dos valores seguros que temos, não privilegiando apenas as estrelas que se destacam no firmamento. Em época de extrema pobreza cultural é importante perceber o valor e sentido cultural a nível nacional de estruturas como coros e orquestras e reconhecer a mais valia resultante de gravações ao vivo de concertos, como é o caso. Neste registo desbrava-se repertório, a faceta sacra de Suppé (que chegou a ser conhecido como o Offenbach vienense), a qual, registe-se, não merece o esquecimento nem tão pouco a glorificação incondicional. Os momentos inspirados (p.e. o ”Recordare”) são sobretudo aqueles que contam com a participação de vozes solistas, nas quais a melodia flui com todos os requebros de sentimentalidade de um compositor romântico associado à criação de opereta, logo, ao contágio imediato de emoções pela música.
Michel Corboz oferece visões de uma espiritualidade serena (p.e. ”Confutatis”) no equilíbrio que impõe ao contraste de ambientes sonoros no coro (divisão por naipes), uma justa medida dos recursos expressivos que funciona por acumulação e não por efeitos (embora não os ignore, dá-lhes um sentido estrutural). Corboz aceita e respeita o Suppé da opereta mas tenta ir ao fundo do que a obra contem de carga espiritual.
O quarteto de solistas prima pelo equilíbrio. Elizabete Matos personalidade musical de excepção, infelizmente demasiado ausente dos palcos nacionais, afirma-se arrebatada, com a emoção à flor da pele. Luís Rodrigues em ”Hostias”, tem um dos seus grandes momentos em disco, com uma extrema elegância no fraseado, para além da boa forma vocal.
Não é demais repetir, discos destes com mais regularidade poderiam fazer a diferença e inclusive participar para uma valorização mais efectiva da música no panorama cultural interno.
Vanda de Sá
Intérpretes:
- Aquiles Machado (tenor)
- Coro Gulbenkian
- Elizabete Matos (soprano)
- Luis Rodrigues (baixo)
- Michel Corboz (maestro)
- Mirjam Kalin (contralto)
- Orquestra Gulbenkian