Concerto para Piano de Ravel

Orquestra Gulbenkian / Juanjo Mena

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Orquestra Gulbenkian
Juanjo Mena Maestro
Roger Muraro Piano

Maurice Ravel
Pavane pour une infante défunte

Composição: 1899 / 1910 (orq.)
Estreia (orq.): Manchester, 27 de fevereiro de 1911
Duração: c. 6 min.

Em 1899, Maurice Ravel era aluno do Conservatório de Paris. O jovem compositor dedicava-se à escrita de obras para piano, na interseção entre o passado glorioso da música de corte francesa com o Modernismo. Nesse ano, escreveu a Pavane pour une infante défunte, obra para piano que orquestrou em 1910. A estreia da versão orquestral deu-se em Manchester a 27 de fevereiro do ano seguinte. Nessa miniatura, Ravel atualizou uma dança cortês renascentista e barroca numa perspetiva modernista. A Pavane apresenta uma melodia principal, que é apresentada três vezes, com algumas alterações, e interpolada por secções contrastantes. As ressonâncias, o modalismo e a sobreposição de planos, elementos constitutivos da peça para piano, são intensificados na versão orquestral, em que as melodias são distribuídas por instrumentos de timbres contrastantes. Dessa forma, a Pavane ganhou uma roupagem nova, revelando o processo criativo de Ravel na adaptação de obras para piano ao contexto orquestral, prática recorrente na sua produção.

João Silva

 

Maurice Ravel
Concerto para Piano e Orquestra em Sol maior

– Allegramente
– Adagio assai
– Presto

Composição: 1929-1931
Estreia: Paris, 14 de janeiro de 1932
Duração: c. 22 min.

O período Entre Guerras assistiu à disseminação do jazz à escala global. A omnipresença da música popular americana, acelerada pelo desenvolvimento da radiodifusão e do cinema sonoro, contribuiu significativamente para as correntes do Modernismo. A vitalidade do género, encarnando a renovação de uma cultura europeia decadente, é um emblema da época.

O Concerto para Piano e Orquestra em Sol maior encontra-se numa encruzilhada entre estilos e géneros musicais, na qual se destaca o virtuosismo. A capacidade do compositor em articular elementos heterogéneos, enfatizando-os através da orquestração reflete esse virtuosismo, bem como o domínio do piano que é exigido ao intérprete. A obra foi escrita entre 1929 e 1931, após uma digressão do compositor pelos Estados Unidos da América. Estreada em Paris a 14 de janeiro de 1932, pela pianista Marguerite Long e pela orquestra dos Concertos Lamoureux, sob a direção de Ravel, é um mosaico de elementos estilísticos que misturam a tradição europeia da música de concerto com a emergência de géneros populares. O primeiro andamento estiliza o princípio da forma sonata, de um modo modernista, contrapondo duas atmosferas contrastantes. A primeira é marcada pela entrada simultânea do flautim e do piano numa melodia circular, sendo a textura enriquecida pela adição de instrumentos que estilizam a escrita para jazz band da época. Os ritmos irregulares, o pulsar percussivo e a instrumentação do primeiro tema do andamento contrastam com o melodismo contemplativo da segunda atmosfera. O Adagio assai é um lamento lírico, protagonizado pelo piano, em que o acompanhamento regular e o reforço da melodia principal por diversos instrumentos evocam a vocalidade do blues e dos espirituais negros. O Presto é uma mistura de efeitos percussivos com solos de instrumentos de sopro em tonalidades distintas, de forma a complementar o papel do piano, que se encontra entre o swing americano, símbolo de uma civilização industrial mecanizada, e a marcha.

João Silva

 

Modest Mussorgsky
O amanhecer no rio Moscovo
(Prelúdio da ópera Khovanchtchina – arr. de Nikolai Rimsky-Korsakov)

Composição: c. 1874
Duração: c. 6 min.

O amanhecer no rio Moscovo é a introdução da ópera Khovanchtchina, de Mussorgsky. A obra nunca foi concluída, apesar do compositor se ter dedicado à sua composição entre 1872 e 1888. Rimsky-Korsakov completou a ópera e estreou-a em 1886. Situada na Rússia do século XVII, a narrativa retrata uma crise dinástica durante um período tumultuoso em que se deram revoltas de tendência conservadora em reação aos impulsos ocidentalizantes. Mussorgsky introduz a ação com um quadro sereno e estático que representa o amanhecer de Moscovo, no qual se destaca o colorido orquestral. O amanhecer no rio Moscovo baseia-se na transformação gradual de um tema de sabor modal que remete para o cancioneiro tradicional russo. Este é apresentado pelos instrumentos da orquestra sobre um acompanhamento estático e vertical das cordas. Por vezes, toques de trompa ilustram o ambiente calmo, no qual também emergem o canto dos galos e o toque dos sinos, colocando em música o despontar de uma manhã em Moscovo.

João Silva

 

Dmitri Chostakovitch
Sinfonia de Câmara, em Dó menor, op. 110a
(Orquestração de Rudolf Barshai do Quarteto n.º 8, op. 110)

– Largo
– Allegro molto
Allegretto
Largo
Largo

Composição: 1960 / 1967 (orq.)
Duração: c. 24 min.

Chostakovitch ficou conhecido pelas sinfonias programáticas nas quais uma grande orquestra interpreta momentos altamente contrastantes, do estilo heroico das fanfarras às canções tradicionais russas. Paralelamente, os quartetos de cordas encarnam o seu lado mais vanguardista e confessional. A Sinfonia de Câmara, em Dó menor, op. 110a consiste na transcrição do Quarteto para Cordas n.º 8, op. 110 realizada pelo maestro e violinista Rudolph Barshai. O quarteto foi escrito em 1960, um período em que Chostakovitch e a sua música eram reabilitados após a perseguição estalinista. Paralelamente, o compositor aderiu ao Partido Comunista da União Soviética.

Após visitar Dresden, uma das cidades mais massacradas pelos bombardeamentos aliados na Segunda Guerra Mundial, Chostakovitch escreveu o Quarteto n.º 8 como uma meditação sobre as consequências do totalitarismo. Dividido em cinco andamentos sem pausa, a obra integra elementos de obras previamente compostas, misturando-os com elementos originais. O Largo tem início com uma célula musical que representa as iniciais do compositor, D-S-C-H e consiste num lamento em que o contraponto é usado para diferir as resoluções e para enfatizar a melodia dissonante apresentada a solo pelo concertino. Segue-se um andamento percussivo que evoca o movimento perpétuo e que apresenta melodias da Sinfonia n.º 8 e do Trio com piano n.º 2. Misturando a atmosfera heroica reminiscente das obras escritas nos anos 40 com um tema de sabor tradicional, o andamento conduz ao Allegretto, em que uma textura de valsa distorcida pela dissonância funciona como refrão. Evocando o grotesco, é interpolada por um dos temas do Concerto para Violoncelo n.º 2. O Largo enérgico e percussivo apresenta uma melodia recorrentemente interrompida por acordes súbitos que evocam a paisagem sonora da guerra. Os violoncelos interpretam uma melodia da ópera Lady Macbeth do distrito de Mtsensk, à qual se seguem fragmentos do Dies irae e uma canção tradicional russa, conduzindo ao lamento estático e contrapontístico de melodias sinuosas com o qual termina a obra.

João Silva


GUIA DE AUDIÇÃO

 

Por Sérgio Azevedo

Já pode ouvir o Guia de Audição dos concertos desta semana, com o compositor Sérgio Azevedo a ajudar-nos a descobrir obras de Ravel, Mussorgsky e Chostakovitch.


A Fundação Calouste Gulbenkian reserva-se o direito de recolher e conservar registos de imagens, sons e voz para a difusão e preservação da memória da sua atividade cultural e artística. Caso pretenda obter algum esclarecimento, poderá contactar-nos através de [email protected].

O pianista francês Roger Muraro atuou pela primeira vez na Gulbenkian Música em 2018, tendo sido o solista da estreia em concerto e da gravação de Step Right Up de Vasco Mendonça. No mesmo ano, o maestro espanhol Juanjo Mena estreou-se à frente da Orquestra Gulbenkian. Na presente temporada, os dois músicos juntam-se à Orquestra Gulbenkian para interpretar um programa que dá expressão à grande versatilidade de ambos. O famoso Prelúdio O amanhecer no rio Moscovo, de Mussorgsky, e um mais raramente interpretado arranjo de Rudolf Barshai do Quarteto para Cordas n.º 8, op. 110, de Chostakovitch complementam um programa onde pontificam duas icónicas obras para piano e orquestra de Ravel.

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