Porque é que as libélulas e libelinhas têm olhos tão grandes?

Um naturalista no Jardim Gulbenkian

Nenhum passeio de verão fica completo sem um vislumbre de libélulas ou libelinhas coloridas, nos seus voos velozes e algo erráticos.
Wilder 21 ago 2019 2 min
Um naturalista no Jardim Gulbenkian

As libélulas ou libelinhas são animais admiráveis por muitas razões. Uma delas são os seus olhos fascinantes, enormes em relação ao resto do corpo. 

“Os olhos das libélulas e libelinhas têm nervos ópticos muito desenvolvidos e em muito maior quantidade do que os nossos, o que lhes dá uma visão excelente”, explica Albano Soares, naturalista do Tagis – Centro de Conservação das Borboletas de Portugal e da Rede de Estações da Biodiversidade.  

As 64 espécies de libélulas e libelinhas que ocorrem em Portugal “são animais visuais, baseiam a sua vida na visão”, conta Albano Soares, que trabalha com estas espécies há 20 anos. 

Ao contrário do que acontece com as borboletas, as libélulas e libelinhas não procuram mensagens químicas, como feromonas, emitidas por outros insetos e captadas pelas antenas, uma vez que as suas antenas são muito curtas. 

Antes, dependem da visão e da capacidade do seu cérebro para processar pistas visuais para caçar, para se orientarem e para procurar parceiros.  

“São predadores que detetam movimentos facilmente”, nomeadamente de pequenos insetos como mosquitos e moscas, explica Albano Soares. Os seus olhos enormes dão-lhes a acuidade óptica necessária para capturar as presas, mesmo em voo, no caso das libélulas. Geralmente, estas têm olhos mais bem desenvolvidos do que as libelinhas, animais que caçam insetos pousados. 

“Por exemplo, a libélula imperador-azul (Anax imperator) tem olhos especialmente grandes”, lembra o especialista. Esta libélula, com olhos verde-azulados, é uma das maiores da Europa e pode encontrar-se de Norte a Sul de Portugal.

Libélula imperador-azul Anax imperator © Andreas Eichler/Wiki Commons

Além da caça, também a vida sexual destes animais se baseia na visão, mais concretamente nas cores.  

Os machos têm cores diferentes das fêmeas e é pela cor que os primeiros identificam as suas potenciais parceiras.  

Mas há algumas espécies de libelinhas que adoptaram uma estratégia interessante. “Algumas fêmeas dessas espécies têm cores masculinas, uma forma de imitar os machos e assim evitar serem assediadas”, desvenda Albano Soares. Esta estratégia permite-lhes viverem mais tempo, uma vez que sofrem menos desgaste e evitam uma maior exposição aos predadores durante a reprodução. 

Série

Um naturalista no Jardim Gulbenkian

Uma vez por mês, ao longo de um ano, a revista Wilder revelou algo a não perder no Jardim Gulbenkian e lançou-lhe um desafio: descobrir e fotografar ou desenhar cada descoberta. No ano seguinte, a partir da biodiversidade do jardim, e com a ajuda de especialistas, respondemos a vários “como e porquê” de aves, insetos, mamíferos, anfíbios e plantas.

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