Porque é que algumas árvores têm bugalhos?
Um naturalista no Jardim Gulbenkian
Confundir bolotas com bugalhos não é vergonha nenhuma. À primeira vista podem parecer estruturas semelhantes. Mas são coisas bem diferentes.
A bolota é o fruto dos carvalhos, um fruto seco, de uma só semente que permanece no seu interior, e é constituída pela semente e pericarpo (a camada externa do fruto que protege a semente). “Os bugalhos são galhas, isto é, multiplicações celulares que se formam nos órgãos das plantas como resposta à picada de insetos ou ao ataque de fungos, bactérias ou nemátodos”, explica Maria João Horta Parreira. Assim, os bugalhos não são frutos, mas estruturas que as plantas produzem em resposta a agressões externas.
Podemos encontrar bugalhos em muitas plantas, como por exemplo os carvalhos e os castanheiros. “Os carvalhos são particularmente sensíveis à formação de bugalhos, sendo os mais comuns causados por insetos himenópteros (do grupo das abelhas, vespas e formigas) ”, acrescenta. As interações entre as plantas e os insetos sempre ocorreram de um modo natural e espontâneo.
Tal como as bolotas de cada espécie de carvalho têm diferenças entre si, também cada bugalho é específico de cada agente (chamado galhador), o que se irá manifestar num aspeto único, como a forma e a cor. “Há bugalhos mais ou menos esféricos, com ou sem picos e de várias tonalidades.” Além do agente causador, os bugalhos também variam consoante o local da picada e as plantas afetadas.
Geralmente, “os bugalhos funcionam como local para os insetos depositarem os seus ovos em segurança, protegidos de possíveis predadores”. Esta é a estratégia adoptada pela vespa das galhas (Cynips tozae), por exemplo. Esta vespa procura locais para depositar os seus ovos, que os possam proteger e ser fonte de alimento durante as metamorfoses, para que o ciclo de vida se possa completar até à fase adulta. Nesta altura, sairá do bugalho o que pode ser comprovado pelo orifício que deixa no mesmo.
Além de promoverem abrigo e alimento para os agentes que as provocam, “os bugalhos também podem ser reaproveitados por outros insetos que os usam para se abrigarem quando os galhadores já abandonaram o bugalho”, salienta.
Um naturalista no Jardim Gulbenkian
Uma vez por mês, ao longo de um ano, a revista Wilder revelou algo a não perder no Jardim Gulbenkian e lançou-lhe um desafio: descobrir e fotografar ou desenhar cada descoberta. No ano seguinte, a partir da biodiversidade do jardim, e com a ajuda de especialistas, respondemos a vários “como e porquê” de aves, insetos, mamíferos, anfíbios e plantas.