Como é que surgem os anéis de fadas?

Um naturalista no Jardim Gulbenkian

Rui Simão, da Ecofungos Associação Micológica, ajuda-nos a desvendar o mistério destas estranhas formações, compostas por cogumelos, que são partes visíveis de um mundo que se esconde debaixo do solo.
Wilder 10 dez 2021 2 min
Um naturalista no Jardim Gulbenkian

Na cultura irlandesa, acreditava-se que os anéis de fadas – conhecidos por fairy rings – estavam “associados a portais mágicos entre o reino dos humanos e os reinos dos elfos, dos duendes ou das fadas”, conta Rui Simão, especialista em cogumelos. 

Os anéis de fadas são conjuntos de cogumelos que surgem em ambientes florestais ou em prados e relvados, incluindo parques e jardins urbanos, como o Jardim Gulbenkian. Na maioria das vezes, esse conjunto de cogumelos assume o formato de um anel – daí o nome. E essa forma tem uma explicação que nada deve ao mundo sobrenatural – tem tudo a ver com a vida misteriosa dos fungos.

Anel de fadas formado por gaiolas-de-bruxa Clathrus ruber © Rui Simão

Um cogumelo é uma pequeníssima parte de um fungo que costuma ser visível por um curto espaço de tempo, normalmente no Outono. O resto do fungo (quase tudo o que o compõe) permanece no subsolo ao longo do ano: os seus fios microscópicos (conhecidos como hifas), vão-se dividindo e espalhando em comprimento, formando uma rede chamada de micélio. 

Os anéis de fadas “derivam do crescimento radial e mais ou menos concêntrico do micélio”, explica Rui Simão. “O aparecimento dos corpos frutíferos (cogumelos) surge na zona mais recente do micélio – nas pontas da estrutura – e daí podermos observar a formação do anel.” 

A maior parte destes “anéis” são formados por cogumelos de espécies saprófitas – fungos que se alimentam da matéria em decomposição no subsolo, ajudando com a reciclagem desses nutrientes no mundo natural. É o caso da espécie Marasmius oreades, exemplifica o especialista.  

O responsável da Ecofungos também já encontrou anéis de fadas formados por outras espécies, como a gaiola-de-bruxa (Clathrus ruber), e ainda em cogumelos dos géneros Clitocybe (muito comum), Agaricus e Hebeloma

Cogumelos Clitocybe odora © Holger Krisp/Wiki Commons
Cogumelos Agaricus sp. © Dr Hans Gunter Wagner/Wiki Commons

Assim, se se deparar com uma destas estranhas formações de cogumelos, já sabe que são apenas a “ponta do icebergue” de uma vasta rede subterrânea ligada aos fungos (e também às raízes das árvores), que se estende por debaixo da terra. 

Série

Um naturalista no Jardim Gulbenkian

Uma vez por mês, ao longo de um ano, a revista Wilder revelou algo a não perder no Jardim Gulbenkian e lançou-lhe um desafio: descobrir e fotografar ou desenhar cada descoberta. No ano seguinte, a partir da biodiversidade do jardim, e com a ajuda de especialistas, respondemos a vários “como e porquê” de aves, insetos, mamíferos, anfíbios e plantas.

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