Exposição de desenhos do escultor norte-americano Richard Serra (1939), organizada pelo Drawing Center, de Nova Iorque, em colaboração com o Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP) da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) e com o apoio da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento e do Serviço de Belas-Artes da FCG. Foram apresentados oito desenhos, selecionados pelo artista de uma série de onze, realizada entre 1993 e 1994 e exposta pela primeira vez de 3 de junho a 30 de julho de 1994, no Drawing Center.

No Hall do CAMJAP, a exposição esteve aberta ao público de 6 de abril a 2 de julho de 1995, tendo sido anteriormente apresentada no St. Louis Museum of Art, entre setembro e outubro de 1994, no Baltimore Museum of Art, de 23 de novembro de 1994 a 29 de janeiro de 1995, e no Center for the Fine Arts de Miami, entre março e abril de 1995.

A realização desta mostra ocorreu na sequência de uma apresentação de obras de artistas portugueses contemporâneos no Drawing Center, razão pela qual a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento quis contribuir com uma verba, apoiando assim a produção da primeira exposição de obras de Richard Serra em Portugal.

O desenho foi apresentado pelo artista como parte autónoma do seu trabalho, apesar de partilhar com a escultura a ideia de reconfiguração do espaço, aspeto fundamental para a compreensão da sua obra. Com estes desenhos, era objetivo de Serra que o visitante se defrontasse com o efeito da modificação do espaço pelos trabalhos e que fosse envolvido na experiência artística e no conjunto de ações e transformações que esta acarreta.

Como lembrava João Pinharanda, apesar de ser imediata a comparação estética destes desenhos, realizados a partir de paintstick, uma cera de óleo negra em forma de bloco, sobre enormes formatos brancos de papel Hiromi de 3 × 2 metros, com o Quadrado Negro (1915) de Kazimir Malevich, as problemáticas desenvolvidas são distintas: «O que no suprematista russo era vontade de apagamento do ilustrativo por exacerbação de valores plásticos puros (e evanescência espiritual) é, em Richard Serra, a busca de uma afirmação de densidade e de gravidade das formas nas modalidades da sua implantação e da sua relação espacial.» (Pinharanda, Público, 8 abr. 1995, p. 21)

O conjunto de desenhos expostos surge na continuidade conceptual da exposição de escultura «Weight and Measure», apresentada na Tate Gallery em 1992. Com esta exposição, Serra pretendeu mostrar uma nova abordagem do espaço e da arquitetura, criando esculturas cuja massa e o peso se assemelhassem aos dos elementos arquitetónicos, transpondo depois esta ideia para o desenho.

A importância do peso como valor para o trabalho de Richard Serra é, aliás, um elemento fundamental tanto para a leitura das suas esculturas como para estes desenhos, surgindo como associação a uma das suas primeiras memórias de infância, em que, com o pai, assistiu ao lançamento de um navio. O valor do peso foi algo que o escultor frequentemente referiu como algo que o atraía mais do que a ideia de leveza, tanto em entrevistas como no jornal da exposição: «[…] mas eu é que sei mais acerca dele [peso] do que acerca da leveza e tenho por conseguinte algo mais a dizer, mais a dizer sobre o equilíbrio do peso, a diminuição do peso, a soma e a subtracção do peso, a concentração do peso, a carga do peso, a contenção do peso, a colocação do peso, a retenção do peso, os efeitos psicológicos do peso, a desorientação do peso, o desequilíbrio do peso, a rotação do peso, o movimento do peso, a direccionalidade do peso, a forma do peso.» (Richard Serra. Peso e Medida, 1955, pp. 2-3)

Um dos elementos mais peculiares desta exposição foi a sua curadoria, que passou pela colocação dos desenhos em função do contexto arquitetónico, ou seja, mudando a sua disposição de local para local. Foi intenção do escultor que, através dos desenhos, o espaço fosse exposto e apresentado ao público através dos seus valores de peso e medida, ou seja, tornado visível pelo seu volume. Neste sentido, o ato de medir o espaço foi para este objetivo fundamental, processo que permitiu ao artista localizar-se no espaço e entendê-lo enquanto movimento físico: «Measurement is a process that allows [me] to locate [myself] in the space, to understand in terms of physical movement.» (Richard Serra citado em Project Description. Richard Serra. Weight and Measure Drawings, s.d.)

No artigo que assinou para o jornal Expresso, Leonor Nazaré reforça esta ideia da necessidade de Richard Serra medir e meditar sobre o espaço, não na produção dos desenhos, já que se tratava de uma série produzida anteriormente e com um objetivo de itinerância, mas na sua colocação no espaço expositivo: «Adaptam-se, de qualquer modo, em altitude e composição, à imponência e despojamento dessa espécie do átrio interior do CAM.» (Nazaré, Expresso, 13 mai. 1995)

A intensidade dos desenhos de Serra no espaço e a dinâmica que eles instauram no percurso expositivo foi notada por José Luís Porfírio, que vê neles valores de escultura mais que de desenho ou pintura: «[…] pela qualidade do estar, pelo efeito directo, físico, exercido sobre o corpo visitante que atravessa o seu espaço, eles são presença.» (Porfírio, Expresso, 14 abr. 1995)

No âmbito da exposição, Richard Serra esteve presente em Lisboa para dar uma conferência sobre o seu trabalho, a 10 de março de 1995, no Auditório 2 da Fundação. No início da conferência, apresentou um vídeo de 20 minutos com uma visão geral sobre a sua obra.

Depois de apresentada em Lisboa, a exposição esteve em Dortmund, na Alemanha.

Carolina Gouveia Matias, 2018