John Coplans. Um Auto-retrato

Exposição individual antológica do fotógrafo e crítico britânico John Coplans (1920-2003), membro fundador da revista norte-americana «Artforum». Após conceber e apresentar a exposição em Lisboa, a Fundação Calouste Gulbenkian diligenciaria uma itinerância internacional. As três peças incorporadas no acervo da Fundação surgem na sequência deste projeto.
Individual retrospective exhibition on British photographer and critic John Coplans (1920-2003), a founding member of the North American magazine “Artforum”. Following the travelling exhibition’s conception and initial staging in Lisbon, the Gulbenkian Foundation took the show to the international stage. The three works now included in the Foundation’s archive were acquired following this project.

John Coplans (1920-2003) foi uma personalidade central na história da arte contemporânea. Britânico de nascimento, e veterano da Segunda Guerra Mundial, muda-se para os Estados Unidos da América (EUA) em 1960, onde funda, pouco tempo depois, a célebre revista Artforum. Envolve-se no meio artístico norte-americano como crítico de arte, curador, diretor de museus e como artista – atividade que precede todas as outras, inicialmente no campo da pintura, mas que ganharia fôlego muito mais tarde, a partir dos anos 80, no campo da fotografia. Aí, Coplans desenvolveria uma assídua investigação exclusivamente dedicada ao corpo – o seu corpo. Inteiramente a preto-e-branco, as imagens confrontam o espectador com as texturas mais íntimas de um físico repleto de idades e vestígios.

Essa obra fotográfica mereceria da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) esta sua primeira exposição antológica, em 1992. Patente na Galeria de Exposições Temporárias da Sede da FCG, de 17 de setembro a 22 de outubro desse ano, «John Coplans. Um Auto-retrato» surgia assim como a segunda individual de Coplans em Portugal, após «Self Portrait. Hand» ter sido apresentada, dois anos antes, na Galeria Cómicos, igualmente em Lisboa (John Coplans. Um Auto-retrato, 1992).

Jorge Molder, então diretor-adjunto do Centro de Arte Moderna da FCG, coassina com o artista a curadoria do projeto expositivo, que, após estrear em Portugal, mereceria uma longa itinerância internacional. O catálogo da FCG lista um total 97 peças, distribuídas por oito núcleos – «Body of Work» [Corpo de Trabalho], «Seated Figure» [Figura Sentada], «Body Language» [Linguagem do Corpo], «Lying Figure» [Figura Deitada], «Hands» [Mãos], «Feet» [Pés], as fotocópias «Hands Xeroxes» [Fotocópias de Mãos] e a então mais recente série «Backs» [Costas] –, uma primeira tiragem totalmente custeada pela FCG, que financiaria integralmente todas as provas apresentadas nesta ocasião, inclusive a reimpressão das fotografias já editadas (Arquivos Gulbenkian, CAM 00288 e CAM 00847).

Apenas as fotocópias, em formato A4 estandardizado, conferem uma poética mais prosaica e familiar ao intimismo latente do trabalho de Coplans. A restante body art do fotógrafo projeta essa esfera de intimidade para uma monumentalização hipergráfica do corpo, da sua motricidade e pormenores anatómicos, que abrem expressividade em ampliações de grande escala. Por vezes, fotogramas isolados são conjugados em polípticos, desdobrando-se numa ainda mais vasta imagem. Alcançam assim uma estranheza perspética e compositiva, na exata proporção do seu agudo, e por vezes áspero, realismo. Isso é muito evidente, por exemplo, em Self Portrait (Upside Down, no. 1) (1992; Inv. 95FE49), uma das três peças do autor na atual Coleção Moderna da FCG. Trata-se de um trabalho que não terá figurado nesta primeira apresentação de Lisboa, mas que terá sido exposto em futuras mostras da itinerância internacional organizada pela FCG. Foi doado por Coplans na mesma negociação de 1995 em que a Fundação lhe adquiriria duas outras obras suas, essas sim expostas em Lisboa, em 1992. São elas a também fracionada Self Portrait (Lying Figure, four panels) (1990; Inv. 95FE45) e Self Portrait (Torso, front) (1984; Inv. 95FE47) (Arquivos Gulbenkian, CAM 00847).

A epistolografia consultada regista elogios ao catálogo trilingue editado pela FCG, usado noutras ocasiões da itinerância. Nos seus textos, oferece duas importantes aproximações ao trabalho do autor, nomeadamente, «A Vida das Formas. Fragmentação e Montagem», do crítico francês Jean-François Chévrier, e «Isto É a História de um Corpo», texto curatorial de Jorge Molder que é também o olhar de um fotógrafo que, como Coplans, tem mantido uma das mais consistentes práticas em torno da autorrepresentação na fotografia contemporânea.

Esse texto de Molder seria republicado integralmente num periódico paulistano, aquando da ida da exposição para o Brasil, em 1998 (Molder, +mais!, 31 mai. 1998). Etapa já tardia do circuito iniciado na Gulbenkian, essa passagem por São Paulo tinha sido esboçada, logo em 1993, entre o CAM e o Museu de Arte de São Paulo (MASP) (Carta de Rubens Fernandes Júnior para Jorge Molder, 10 jun. 1993 e respetiva resposta de 15 jun. 1993, Arquivos Gulbenkian, CAM 00288). Acabaria, no entanto, por ser apresentada no Paço das Artes da Universidade de São Paulo, entre 6 de maio e 12 (ou 13) de junho de 1998 (Guariglia, Folha de São Paulo. Ilustrada, 6 mai. 1998).

Sempre com o CAM como mediador, o circuito tinha já passado por França, após Lisboa, onde ficaria patente de 1 a 28 de março de 1994, no Musée Nationale d'Art Moderne Centre Georges Pompidou, Paris. Seguiu-se um duplo agendamento na Alemanha, no ano seguinte, inaugurando primeiro em Aachen, no Ludwig Forum, e depois na Galerie der Stadt (Galeria Municipal) de Kornwestheim (Arquivos Gulbenkian, CAM 00288).

Outras instituições europeias seriam contactadas antes de a exposição ser exportada de volta aos EUA, em 1995, onde seria recebida pelo The Institute of Contemporary Art (ICA-P.S.1) de Nova Iorque, que a exporia, em 1997, no seu P.S.1 Museum (filiado ao MoMA – Museum of Modern Art de Nova Iorque, desde o ano 2000). Materializavam-se, assim, contactos estabelecidos desde 1992 entre Jorge Molder e Anthony Vasconcellos (1959-1995), representante do ICA-P.S.1 (Ofício de Vasconcellos para Molder, 12 mar. 1992, Arquivos Gulbenkian, CAM 00288).

Durante todo este período, o acervo à guarda da Gulbenkian foi sendo gerido de modo que algumas peças fossem figurando noutras exposições fora deste périplo, nomeadamente duas coletivas em Londres (provavelmente «The Epic & The Everyday», The South Bank Center at Hayward Gallery, 1994, e «Rites of Passage: Art for the End of the Century», Tate Gallery, 1995) ou a participação na feira «Ars 95», em Helsínquia (Carta de John Coplans para Jorge Molder, 28 jul. e 29 ago. 1994, Arquivos Gulbenkian, CAM 00288).

Para Coplans, esta itinerante iniciada na Gulbenkian representou, por assim dizer, o paradoxo de uma «antologia prospetiva», concebida para o futuro, e com novas séries e variações a acrescentarem-se-lhe ano após ano. Lançada em Lisboa, abordando o intervalo 1984-1992, alongar-se-ia a mostras balizadas já entre 1984 e o início do século XXI, que assistiria à morte deste autor. Até ao final, Coplans posou obstinadamente para a sua câmara, amiúde auxiliado pela fotógrafa filipina Editha Mesina – a quem agradece no catálogo editado pela FCG.

Daniel Peres, 2018


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Self Portrait (Lying Figure, Holding Leg, four panels)

John Coplans (1920-2003)

Self Portrait (Lying Figure, Holding Leg, four panels), 1990 / Inv. 95FE48

Self Portrait (Torso, Front)

John Coplans (1920-2003)

Self Portrait (Torso, Front), 1984 / Inv. 95FE47

Self Portrait: Upside Down, no. 1

John Coplans (1920-2003)

Self Portrait: Upside Down, no. 1, 1992 / Inv. 95FE49

Self Portrait (Torso, Front)

John Coplans (1920-2003)

Self Portrait (Torso, Front), 1984 / Inv. 95FE47

Self Portrait: Upside Down, no. 1

John Coplans (1920-2003)

Self Portrait: Upside Down, no. 1, 1992 / Inv. 95FE49


Publicações


Material Gráfico


Fotografias


Documentação


Periódicos


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00288

Pasta relativa à produção da exposição. Contém correspondência diversa e informações referentes a aquisição de três obras do autor atualmente incorporadas na coleção do Centro de Arte Moderna. 1991 – 1995

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00847

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém sequência da exposição itinerante da sua obra lançada no Centro de Arte Moderna da FCG em 1992. Duas delas foram adquiridas, com uma terceira a ser doada à FCG pelo artista. 1995 – 1995

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Comunicação), Lisboa / COM-S001/044-D02952

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG, Lisboa) 1992


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