Esta exposição destacou o desenho realizado por artistas portugueses ativos entre o princípio do século XX e a Segunda Guerra Mundial, reunindo especialmente trabalhos de desenhadores cujo percurso os conduziu a trabalhar e/ou estudar em Paris. Na inauguração esteve presente o embaixador de Portugal em França, António Siqueira Freire.

Estiveram representados 40 artistas, num total de 90 trabalhos, que, segundo Pina Martins, se revelariam do agrado do público parisiense, pelo seu «nível artístico […] excepcional» (Telegrama de José Pina Martins para Pedro da Cunha, 22 mai. 1981, Arquivos Gulbenkian, PRS 05196).

Na introdução do catálogo, Paulo Ferreira, comissário da exposição, aborda a evolução do desenho em Portugal na primeira metade do século XX, centrando a análise no binómio Lisboa-Paris, através da contextualização das obras no seu tempo histórico e no percurso individual dos artistas representados. Nesta análise não ficam esquecidos os salões de arte, as exposições, as publicações literárias e a criação, na década de 1930, do primeiro prémio nacional de desenho.

No início do século XX, Paris era a capital ideal para quem procurava a liberdade de expressão, e o desenho era visto como uma forma artística que proporcionava essa liberdade. Uns por gosto, outros por necessidade, os artistas dedicaram-se em força ao desenho humorista e caricaturista e apresentavam os seus trabalhos em jornais. Era uma oportunidade de subsistência e ao mesmo tempo de visibilidade para o seu trabalho. No início da década de 10, este meio de expressão estava muito em voga.

Alguns artistas expostos participaram em mostras individuais ou coletivas nacionais e internacionais. Destacam-se também alguns que tiveram mais notoriedade, por participarem em revistas literárias portuguesas.

Paulo Ferreira refere ainda que, para traçar o panorama do desenho contemporâneo em Portugal, seria necessária uma outra exposição, que abrangesse o período entre 1940 e 1981 e que integrasse igualmente o desenho de escultura, um tipo com relevância para a compreensão do tema em estudo (Ibid.).

De entre as diversas obras apresentadas na exposição, pertencem atualmente à coleção do Centro de Arte Moderna (CAM) as duas obras exibidas de Amadeo de Souza-Cardoso, que na altura faziam parte da coleção particular de Lucie de Souza-Cardoso. Também as obras de Sarah Affonso, Carlos Botelho, Bernardo Marques, Leal da Câmara e Emmerico Nunes fazem hoje parte da coleção do CAM.

Ana Lúcia Luz, 2018