O Vitral Alemão da Idade Média

Exposição itinerante de vitrais executados na República Federal da Alemanha, organizada pelo Instituto de Relações Culturais com o Exterior, de Estugarda. Dentro de um restrito contexto geográfico, a seleção de vitrais exibiu uma variedade de técnicas, cores e estados de conservação ilustrativos do trabalho desenvolvido desde o período medieval até inícios do século XVI.
Travelling exhibition of stained glass produced in the Federal Republic of Germany organised by the Institute for Foreign Cultural Relations, Stuttgart. Within a specific geographic context, a selection of stained glass refleced a variety of techniques, colours and conservation states illustrative of work produced from the medieval period until the beginning of the 16th century.

Exposição coletiva e itinerante de vitrais provenientes da República Federal da Alemanha, organizada pelo Instituto de Relações Culturais com o Exterior, de Estugarda, pelo Goethe-Institut de Lisboa e apresentada pela Fundação Calouste Gulbenkian (FCG). A exposição esteve patente na Galeria de Exposições Temporárias do Edifício Sede da Fundação Calouste Gulbenkian (piso 0), de 26 de abril a 20 de maio de 1990.

A exposição contou apenas com vitrais provenientes da Alemanha, escolhidos de um contexto geograficamente limitado, de modo a poder apresentar uma variedade de técnicas, cores e estados de conservação diferenciados.

Os vitrais apresentados foram organizados cronologicamente. Os mais antigos, relativamente bem conservados, datavam aproximadamente do ano de 1100, aquando do ciclo dos Profetas da Catedral de Augsburgo, e os mais recentes, do período entre 1520 e 1530, data em que o seu uso monumental nas igrejas da Alemanha terminou de forma abrupta. A intenção de mostrar a produção artística medieval foi concretizada através da exposição de reproduções fotográficas de 60 painéis em vidro, selecionados pela sua qualidade artística, conteúdo e significado histórico. A par destas fotografias, foram ainda mostrados fragmentos originais pertencentes aos vitrais fotografados e diversos exemplos do processo de envidraçar.

Esta mostra baseou-se nos resultados das investigações realizadas pelo Corpus Vitrearum Medii Aevi (CVMA), de Friburgo, publicados numa obra de enorme relevância internacional, sobre a arte do vitral medieval. Fundado em 1952, e apoiado pelo Comité International d'Histoire de l'Art, pela UNESCO e pela Union Académique International, o CVMA, ainda em atividade, é um centro de investigação que se dedica ao estudo dos vitrais da época medieval preservados nas igrejas e nos museus de diversos continentes. O objetivo principal desta instituição é investigar, inventariar – através de uma ampla documentação fotográfica – e preservar vitrais da época medieval, bem como fazer a sua divulgação a nível mundial, contando com 13 estados-membros na Europa, nos Estados Unidos da América e no Canadá.

A exposição teve um importante papel no propósito de «dar uma visão global» dos vitrais alemães da Idade Média, «desejando incitar não só à observação e reflexão, mas também a uma procura dos originais nas igrejas e museus» (Texto do Serviço de Exposições e Museografia, 1990, Arquivos Gulbenkian, SEM 00436).

Nas palavras da jornalista Isabel Salema: «A evolução cronológica da exposição reflecte também o gosto iconográfico da época e a sua secularização à medida que se aproxima do Renascimento.» (Salema, Público, 28 abr. 1990)

O catálogo da exposição, estruturado cronologicamente, conta com um texto de introdução da autoria de Rüdiger Becksmann, vice-presidente do CVMA entre 1975 e 1989, que tinha realizado uma dissertação, pela Universidade Livre de Berlim, sobre pintura de vitrais a norte do Reno no período superior do Gótico, e que em 1981 se tornou professor honorário da Universidade de Estugarda.

O texto introdutório do catálogo apresenta as razões da iniciativa, conduzindo ao confronto com as questões da origem e do desenvolvimento da arte do vitral como produto de criação de uma oficina, refletindo sobre a sua forma e função estética, bem como sobre a sua conservação e preservação, fulcrais na investigação científica sobre o tema.

No texto de introdução do catálogo, Rüdiger Becksmann traça um retrato da arte do vitral durante a Idade Média: «Do vitral da Idade Média emana um especial fascínio resultante do facto de material e técnica fazerem desta arte o género mais perfeito da pintura medieval, o único que soube aproveitar a luz natural como elemento da composição artística. Em mais nenhuma outra arte superfície e traço, cor e luz, servindo-se de meios aparentemente simples como vidros coloridos, chumbos e grisalhas, conseguiram transformar-se no portador mais perfeito do imaginário dessa época.» (O Vitral Alemão da Idade Média, 1990, p. 3)

Caracterizando e contextualizando esta arte, Becksmann rastreia a produção do vitral alemão desde as suas origens, explicitando condições, locais, métodos e oficinas, não deixando de sublinhar os seus momentos-chave, nomeadamente em «finais do séc. XV [, quando] há notícia de que, em Estrasburgo, cinco importantes oficinas se associaram e exportaram as suas obras para longe, marcando decisivamente o estilo do vitral do gótico final para além das fronteiras da Alemanha do Sul» (Ibid., p. 5). A temática da conservação também é abordada no texto do historiador de arte, que relata que na Idade Média os vitrais eram alvo de grande destruição, devido às guerras e à falta de conservação, e que «só com o entusiasmo despertado na época do Romantismo pela arte da Idade Média é que se seguiram profundos trabalhos de restauro» (Ibid.).

Isabel Salema, no artigo que dedica à exposição, aludirá a algumas das problemáticas abordadas no catálogo: «O catálogo sublinha o processo de degradação irreversível que a poluição atmosférica exerce sobre este património da humanidade. Chama a atenção para o facto de a aceleração que se deu nos últimos dez anos poder levar ao total desaparecimento dos vitrais das igrejas.» (Salema, Público, 28 abr. 1990)

A observação do material fotográfico disponibilizado pelos Arquivos Gulbenkian permite observar aspetos museográficos relativos à exposição, nomeadamente a utilização de uma baixa luminosidade na galeria, como forma de realçar os vitrais expostos, o recurso a legendas técnicas e, em casos específicos, esboços das aberturas onde estes estariam instalados originalmente, bem como desenhos e fotografias das igrejas.

Rüdiger Becksmann, o investigador responsável por toda a documentação reunida e compilada no catálogo da exposição, proferiu ainda uma conferência dedicada ao tema, apresentada no dia da inauguração, 26 de abril de 1990, no Auditório 3 da Sede da FCG.

A exposição esteve igualmente patente no Museu Nacional de Soares dos Reis, no Porto, de 8 de março a 8 de abril de 1990, e no Edifício Chiado, em Coimbra, de 5 a 26 de junho de 1990, contando com o apoio do Goethe-Institut e das câmaras municipais das respetivas cidades.

Joana Atalaia, 2018

Carolina Gouveia Matias, 2018


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Eventos Paralelos

Conferência / Palestra

[O Vitral Alemão da Idade Média]

26 abr 1990
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Auditório 3
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Conferência «O Vitral Alemão na Idade Média». Rüdiger Becksmann

Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Biblioteca de Arte Gulbenkian, Lisboa / Dossiê BA/FCG

Coleção de dossiês com recortes de imprensa de eventos realizados nas décadas de 80 e 90 do século XX, organizados de forma temática e cronológica. 1984 – 1997

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM 00436

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém convite, orçamentos, correspondência interna e externa, plantas, recortes de imprensa, material para o catálogo e material fotográfico. 1988 – 1990

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM 00707

Pasta com convites e programas de diversos eventos organizados pelo Serviço de Belas-Artes. 1973 – 1991

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM-S007-P0259-D00821

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG, Lisboa) 1990

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Comunicação), Lisboa / COM-S001/019-D02263

Coleção fotográfica, p.b., cor; inauguração (FCG, Lisboa) 1990

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM-S007-P0259-D00822

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG, Lisboa) 1990

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM-S007-P0259-D00823

Coleção fotográfica, p.b.: aspetos (FCG, Lisboa) 1990


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