A exposição individual do artista português Filipe Rocha da Silva (1954) ocupou a Sala de Exposições Temporárias do Centro de Arte Moderna (CAM), reunindo 19 pinturas a óleo realizadas entre 1981 e 1989.

Durante a sua formação, o artista beneficiara, em 1984, de uma bolsa de estudo da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) para frequentar o mestrado em Técnicas de Gravura no Pratt Institute (Nova Iorque). Esta exposição surge, assim, como mais um exemplo do modo como a FCG acompanhava o percurso dos seus antigos bolseiros.

José Sommer Ribeiro, que tomou contacto com o trabalho de Rocha da Silva no início da década de 1980, relembra no texto que escreve para o catálogo: «Desde a exposição na Sociedade Nacional de Belas-Artes, em 1982, que o trabalho de Filipe Rocha da Silva nos despertou grande interesse […]. Assim, julgou o Centro de Arte Moderna que seria importante apresentar a presente exposição, procurando fazer um balanço dos seus oito anos de actividade profissional.» (Filipe Rocha da Silva. Pinturas dos Anos 80, 1989)

Anteriormente, o trabalho de Rocha da Silva integrou três exposições coletivas apresentadas na Fundação Calouste Gulbenkian: «III Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian» (1986), «10 Amad(e)ores. Desafio de Amadeo aos Artistas» (1987) e «Azares da Expressão ou a Teatralidade na Pintura Portuguesa» (1987).

A mostra tinha início numa pintura intitulada Figura-Fundo (1986), que condensa as pesquisas pictóricas que o artista vinha desenvolvendo desde 1981, das quais resultam ou composições em que a figura humana é posta em destaque sobre um fundo composto por padrões abstratizantes (Nicholas Ray, 1981; Por uma Causa Perdida, 1985; Figuras sobre Cristal de Rocha, 1986) ou obras em que a figura é integrada na construção plástica do conjunto, num intencional processo de fusão. A partir de Paisagens Humanas (1986), segunda pintura exposta, onde forma e fundo se confundem numa multidão de minúsculas figuras humanas, tem início um conjunto de trabalhos em que o artista explora diferentes géneros pictóricos (paisagem, natureza-morta, cartografias, representação de objetos e elementos arquitetónicos), sobrepondo-lhes «paisagens humanas» (Vaso Chinês, 1989; Tapete Persa, 1987; Europa n.º 2, 1988). Em alguns destes casos, na representação de elementos arquitetónicos em trompe-l'œil o artista desafia e desconstrói a perspetiva através do cruzamento com o padrão de figuras humanas. A mostra culminava numa pintura intitulada Figuras Arquitectónicas (1989), uma obra em que a figura humana assume novamente o protagonismo, sendo através dela que se estrutura a composição.

Mariana Roquette Teixeira, 2018