Soleil et Ombres. L'Art Portugais du XIXème Siècle

Programa «Arte Europeia do Século XIX»

Exposição histórica e temática comissariada por José-Augusto França, com a colaboração de Lucília Verdelho da Costa. Partiu de uma proposta do Musée du Petit Palais, no âmbito do programa dedicado à arte europeia do século XIX, e deu a conhecer a arte portuguesa do século XIX ligada a Paris, salientando traços da identidade nacional e da sociedade da época.
Historical, thematic exhibition curated by José-Augusto França with the collaboration of Lucília Verdelho da Costa. The show stemmed from a proposal by the Musée du Petit Palais, as part of the programme dedicated to the European art of the 19th century, and was designed to showcase 19th-century Portuguese art with ties to Paris, with particular interest paid to aspects of national identity and the society of the era.

Exposição histórica e temática comissariada por José-Augusto França, com a colaboração de Lucília Verdelho da Costa, proposta ao Musée du Petit Palais no âmbito do programa dedicado à arte europeia do século XIX, aí desenvolvido.

O projeto inicial assentava nas ligações dos artistas portugueses a Paris, pretendendo dar a conhecer a participação destes em salons parisienses no final do século e as distinções aí recebidas. Apesar de esta ideia se manter presente, a mostra acabou por procurar salientar a identidade portuguesa na arte. Prova disso é, desde logo, o título «Sol e Sombras», que José-Augusto França justifica da seguinte forma: «O sol, um sol popular e radioso, que está em Malhoa e nos costumes que ele põe em cena, as sombras que estão na psicologia e nas máscaras das personagens de Columbano, a partir do seu Grupo do Leão (1885), presente nesta exposição, e que vai, se quisermos como significado, até ao retrato quase mortuário já do poeta Antero de Quental.» (JL. Jornal de Letras, Artes e Ideias, 2 nov. 1987, p. 20)

Apresentada ao longo de dez salas no Musée du Petit Palais, esta mostra estendia-se ao Centre Culturel Portugais, onde foi exposta a secção dedicada à obra de Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905), fugindo à ordem cronológica mantida no Petit Palais.

A exposição começava no início de Oitocentos, com retratos do rei D. João VI da autoria de João José de Aguiar (1769-1841) e Domingos António de Sequeira (1768-1837) e pinturas de paisagem de Vieira Portuense (1765-1805), onde o neoclassicismo imperante parecia lentamente dar lugar ao romantismo. A pintura alegórica, mítica e histórica de Sequeira era analisada nas duas secções seguintes, sendo exposta a sua obra neoclássica e a sua produção tardia, esta última dominada por cenas religiosas com traços românticos.

A mostra prosseguia com a representação do romantismo português, reunindo paisagens que integravam cenas de costumes de Tomás da Anunciação (1818-1879) e João Cristino da Silva (1829-1877), pinturas de género de José Rodrigues (1936-2016) e António José Patrício (1827-1858) e de história de Francisco Metrass (1825-1861) e Leonel Marques Pereira (1828-1892). Predominando a pintura, a escultura acabou por não gozar do mesmo espaço, tendo sido incluídas algumas obras de António Soares dos Reis (1847-1889) e de José Simões de Almeida (1844-1926).

Na sala seguinte, o retrato burguês, caracterizado por vivências românticas, convivia com o retrato realista, destacando-se obras de Miguel Ângelo Lupi (1826-1883), António Ramalho (1859-1916) e Soares dos Reis. A tendência para a categorização dissolveu-se na área seguinte, sobressaindo o ecletismo dos finais do século XIX com a exposição de Senhora de Preto (1904), de Artur Loureiro (1853-1932), Autorretrato (c. 1900), de Aurélia de Sousa (1866-1922), e Dançarina, de José de Brito (1855-1946). No que diz respeito ao naturalismo, várias foram as propostas de pintura de paisagem e retrato social apresentadas, «imagens realistas do campo e da cidade, ambas ilustrando a profunda nostalgia da alma portuguesa», usando as palavras dos comissários.

Paralelamente, através de uma seleção significativa de obras foi dado a conhecer o «realismo sombrio» de Columbano Bordalo Pinheiro. Também a vasta obra do seu irmão, Rafael Bordalo Pinheiro, mereceu uma atenção especial. A secção «Rafael Bordalo Pinheiro et la Société de Son Temps», apresentada numa das salas do Centre Culturel Portugais, incidia na sua obra de crítica social e política. Partindo de uma pintura de Columbano, na qual retratara o seu irmão como um bon vivant que não separava a arte da vida, esta mostra apresentava algumas das suas gravuras mais emblemáticas, que haviam animado as páginas dos jornais, e um pequeno conjunto de figuras caricaturais em cerâmica.

A mostra no Musée du Petit Palais terminava com o regresso à história e ao mito, no final do século, através de diferentes abordagens, desde o academismo de João Marques de Oliveira (1853-1927), a fuga ao convencionalismo de José Malhoa (1855-1933), até à aproximação ao simbolismo de António Carneiro (1872-1930). Como forma de contextualização das obras expostas foi ainda apresentado um diaporama sob o tema «um século de história e cultura», realizado por Patrick de Ladoucette, que esclarecia o público sobre a situação social, política e económica do país ao longo do século XIX.

Paralelamente a esta mostra, o Musée du Petit Palais apresentou a exposição «De Greco à Picasso. Cinq siècles d’art espagnol», situação lamentada pela imprensa nacional e em torno da qual se gerou alguma polémica. Às parangonas como «“Monstros” espanhóis abafam a exposição portuguesa em Paris» e «Portugal e Espanha confrontados em Paris», José-Augusto França reage afirmando: «Não nos incomoda a vizinhança espanhola […]. À exposição espanhola falta o melhor.»

O comissário português defende ainda: «Numa perspectiva de responsabilidade cultural, que deve ser bem informada, uma realização de arte não pode “abafar” outra; em termos publicitários, um detergente ou um livro mais reclamado vende-se obviamente melhor que outro menos anunciado – mas isso não prova nada a seu favor.» E acrescenta: «A exposição espanhola, efeito de uma política urgente, de uma diplomacia e de uma economia “agressivas”, como está sendo uso dizer-se (no caso, com grande sponsorização da IBM), é o que é – faltando-lhe o melhor (que evidentemente não pode sair do Prado) até Goya, e dá o que pode daí até ao Picasso da época azul.» (França, Diário de Notícias, 8 nov. 1987)

Infelizmente, a afluência a «Soleil et Ombres» (49 025 visitantes) ficou muito aquém do desejado, se comparada com o número de visitantes que a mostra espanhola alcançou (cerca de 350 000).

Em contrapartida, encontramos na imprensa internacional reações bastante positivas. No seu artigo para a Apollo Magazine, Barbara Scott considera a mostra portuguesa de longe a mais interessante das duas apresentadas no Petit Palais, apesar de ter recebido pouca atenção por parte da crítica. «Passionnante exposition» é como Georges Raillard a caracteriza em La Quinzaine Littéraire; «une révélation», são as palavras usadas por S. R. de R. em La Presse Française, afirmando ainda : «Si aucune surprise n’était à attendre de l’exposition espagnole qui voisine avec elle, on se trouve en face d’un paysage artistique à peu près inconnu, qui mérite pas moins amplement la découverte.» (S. R. de R., La Presse Française, 13 nov. 1987, p. 12) Também Pierre Vaisse faz uma chamada de atenção em Le Figaro: «Mal connu, cet art mérite qu’on lui consacre plus qu’une rapide visite.» (Vaisse, Le Figaro, 24 nov. 1987)

Mariana Roquette Teixeira, 2018

Historical and thematic exhibition curated by José-Augusto França, with cooperation from Lucília Verdelho da Costa, proposed by the Musée du Petit Palais as part of a programme dedicated to 19th-century European art it was holding. The initial project was based on connections between Portuguese artists and Paris, with the aim of displaying these artists' participation in the Parisian salons at the end of the century and the distinctions they received there. Although this idea remained, the exhibition eventually sought to highlight Portuguese identity in art. Proof of this can be found in the title Sol e Sombras [Sun and Shadows], justified by José-Augusto França as follows: The sun, a people's radiant sun, which can be found in Malhoa and the customs he incorporates in his scenes, the shadows found in the psychology and masks of Columbano's characters, starting with his Grupo do Leão (1885), which is included in this exhibition. It continues up to the portrait almost in death of the poet Antero de Quental (JL. Jornal de Letras, Artes e Ideias, 2 Nov. 1987, p.20). Spread over ten rooms at the Musée du Petit Palais, the exhibition extended to the Calouste Gulbenkian Paris Branch, the Centre Culturel Portugais (CCP), including a section on the work of Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905), changing the chronological order followed at the Petit Palais.
The exhibition began at the start of the 19th century with portraits of King João IV by João José de Aguiar (1769-1841) and Domingos António de Sequeira, landscapes by Vieira Portuense (1765-1805), in which the prevailing neoclassicism appeared to be slowly giving way to romanticism. Sequeira's allegorical, mythical and historical painting was analysed in the two following sections, with neoclassical and later works, the latter dominated by religious scenes with romance features.
The exhibition then continued with representations of Portuguese romanticism: landscapes with customs by Tomás da Anunciação (1818-1879) and João Cristino da Silva (1829-1877), genre paintings by José Rodrigues (1936-2016) and António José Patrício (1827-1858) and historical paintings by Francisco Metrass (1825-1861) and Leonel Marques Pereira (1828-1892). Painting took prime position, and sculpture did not have as much space, although works by António Soares dos Reis (1847-1889) and José Simões de Almeida (1844-1926) were included.
The following room displayed bourgeois portraits, marked by romantic experiences, alongside realist portraiture, with works by Miguel Ângelo Lupi (1826-1883), António Ramalho (1859-1916) and Soares dos Reis. The trend towards categorisation dissolved in the following area, with the eclecticism of the end of the 19th century standing out in Senhora de Preto (1904) by Artur Loureiro (1853-1932), Auto-retrato (c. 1900) by Aurélia de Sousa (1866-1922) and Dançarina de José de Brito (1855-1946). As for naturalism, several landscape and social portrait paintings were included: realist images of town and country, both illustrating the deep nostalgia of the Portuguese soul, to use the curators' words.
Alongside this, an important selection of works displayed the dark realism of Columbano Bordalo Pinheiro. The enormous oeuvre of his brother, Rafael Bordalo Pinheiro, also received special attention. The section Rafael Bordalo Pinhteiro et la societé de son temps displayed in one of the rooms of the Calouste Gulbenkian Paris Branch, the Centre Culturel Portugais (CCP), dealt with his social and political critiques. Starting with a painting by Columbano, in which he depicted his brother as a bon vivant who did not separate art from life, the exhibition included some of his most emblematic prints, which had livened up the pages of newspapers, and a small set of ceramic caricatures.
The exhibition at the Musée du Petit Palais ended with a return to history and mythology at the end of the century, with several different approaches, from the academicism of João Marques de Oliveira (1853-1927) and the escape from conventionalism of José Malhoa (1855-1933) to approaches to symbolism by António Carneiro (1872-1930). As a way of contextualising the works exhibited, a diaporama made by Patrick Ladoucette was also displayed on the theme of a century of history and culture, which provided information to visitors on the social, political and economic situation of the country throughout the 19th century.
Alongside this exhibition, another exhibition, De Greco a Picasso Cinq siècles d'art espagnol [From Greco to Picasso Five centuries of Spanish art] was also open to the public at the Musée du Petit Palais. This was criticised in the national press and was the source of some controversy. José-Augusto França reacted to headlines such as Spanish 'monsters' smother Portuguese exhibition in Paris and Portugal and Spain head-to-head in Paris by saying: Our closeness to Spain doesn't bother us, the best is missing from the Spanish exhibition.
The Portuguese curator also argued: From the point of view of a properly informed cultural responsibility, the making of art cannot 'smother' another; in advertising terms, a renowned detergent or a book obviously sells better than another that is less widely advertised but this proves nothing in its favour. He further added that the Spanish exhibition, the result of 'aggressive' urgent policy, diplomacy and economy, as it is usual to say (in this case, with extensive sponsorship by IBM), is what it is missing the best (which obviously cannot leave the Prado), including Goya, and it gives what it can up to Picasso's blue period (França, Diário de Notícias, 8 Nov. 1987).
Unfortunately, visitor numbers to Soleil et Ombres (49,025) were lower than hoped, compared to the numbers achieved by the Spanish exhibition (around 350,000 visitors).
On the other hand, we find quite positive reactions in the international press. In her article for Apollo Magazine, Barbara Scott believed the Portuguese exhibition to be the far more interesting of the two at the Petit Palais, although it received little attention from critics. Passionante exposition is how Georges Raillard described it in La Quinzaine Littéraire; une révélation are the words used by S. R. de R. in La Presse Française, further saying that Si aucune surprise n'était à attendre de l'exposition espagnole qui voisine avec elle, on se trouve en face d'un paysage artistique à peu près inconnu, qui mérite pas moins amplement la découverte. Pierre Vaisse also remarking in Le Figaro: Mal connu, cet art mérite qu'on lui consacre plus qu'une rapide visite.

Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Recuar da onda

João Cristino da Silva (1829-1877)

Recuar da onda, Inv. 82P469


Eventos Paralelos

Colóquio

Le XIXe Siècle Au Portugal. Histoire. Société. Culture. Art

5 nov 1987 – 7 nov 1987
Fundação Calouste Gulbenkian / Delegação em França – Centre Culturel Portugais
Paris, França
Ciclo de conferências

Soleil et Ombres. L'Art Portugais du XIXe Siècle

9 nov 1987
Galeries Nationales du Grand Palais
Paris, França

Publicações


Material Gráfico


Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 05088

Pasta com documentação referente à produção da secção «Rafael Bordalo Pinheiro et la Société de son Temps». Contém orçamentos, guias de transporte e listagem de peças. 1987 – 1988

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 05378

Pasta com documentação referente à produção da secção «Rafael Bordalo Pinheiro et la Société de Son Temps». Contém convite, folheto e programa do colóquio «Le XIXe Siècle au Portugal. Histoire-Société Culture-Art». 1979 – 2003

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 04839

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém álbum fotográfico da exposição e eventos associados. 1987 – 1988

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 05386

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém recortes de imprensa portuguesa e francesa. 1984 – 1992

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 05381

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém recortes de imprensa. 1985 – 1993

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 05143

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência e pedidos de empréstimo (A-C). 1985 – 1989

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 05144

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência e pedidos de empréstimo (C-F). 1986 – 1988

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 05145

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência e pedidos de empréstimo (G-M). 1984 – 1988

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 05146

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência e pedidos de empréstimo (N-Z). 1985 – 1988

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 05086

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém notas para a imprensa em português e francês, discriminação dos comités de honra e organização, agradecimentos, lista de emprestadores, orçamento relativo ao transporte, guias de transporte, listagem de peças por sala, biografias de artistas, lista de convidados para a inauguração, convites em português e francês, contagem do número de visitantes e guia da exposição. 1986 – 1988

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 05087

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência, orçamentos de transportadoras, documentação relativa à produção do catálogo, listagem de envio de catálogos, lista de convidados para o jantar por ocasião da inauguração da exposição, recortes de imprensa portuguesa e francesa. 1985 – 1988

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 04788

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém recortes de imprensa portuguesa e francesa. 1987 – 1987

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 05395

Pasta com documentação referente à produção e divulgação de várias exposições organizadas no Centre Culturel Calouste Gulbenkian. 1987 – 1996

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 04839

13 provas, p.b.: aspetos (FCG-CCP, Paris) 1987


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