Papunya. Pinturas Aborígenes do Deserto Central Australiano

Exposição de itinerância internacional que reúne um conjunto de obras de artistas contemporâneos provenientes de comunidades aborígenes de Papunya, na Austrália. A mostra em Lisboa resultou de uma parceria entre a Aboriginal Artists Agency e a Fundação Calouste Gulbenkian.
International travelling exhibition of works by contemporary artists from the aboriginal communities of Papunya, Australia. The Lisbon show was the result of a partnership between the Aboriginal Artists Agency and the Calouste Gulbenkian Foundation.

Exposição organizada em Lisboa pela Aboriginal Artists Agency e pela Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), com a coordenação da Embaixada da Austrália em Portugal, integrada num programa de itinerância internacional iniciado em 1983 e que compreendeu um número significativo de países. A iniciativa, intitulada «Papunya. Pinturas Aborígenes do Deserto Central Australiano», pretendeu divulgar a expressão artística dos grupos aborígenes da Austrália Central através da apresentação de um conjunto de obras, realizadas em cascas de árvore, da autoria de artistas contemporâneos provenientes dessas comunidades tradicionais, localizadas na região de Papunya, a noroeste da cidade de Alice Springs. Desta forma, as 27 composições selecionadas para figurar na exposição representavam a cultura dos núcleos indígenas residentes nesse território – os Aliaywara, os Anmatjera, os Luritja, os Warlpirie os Pintubi –, contextualizadas por painéis com textos informativos e documentação fotográfica alusivos à geografia, cultura e costumes destas comunidades.

Cada uma das obras apresentadas carregava em si a história e as tradições do seu povo, dando testemunho de um passado milenar, ininterruptamente reativado pelos membros da comunidade. Além da sua relevância cultural, as composições evidenciavam uma filiação plástica e simbólica com as formas mais antigas de arte praticadas na Austrália Central, cujos exemplos, ainda hoje preservados, são imagens gravadas nas rochas, pinturas no interior das cavernas, gravações em pedaços de madeira, pedra ou osso e objetos feitos de conchas.

Em 1970, o professor de arte Geoffrey Bardon decidiu apoiar a transposição da arte tradicional desta região da Austrália para pranchetas e telas, tornando mais acessível a sua divulgação junto do público. Poucos anos depois, em 1972, seria criada a Papunya Tula Artists, instituição deste logo apoiada pelo Aboriginal Artists Agency com o objetivo de promover individualmente cada um dos artistas em atividade, apoiar financeiramente as suas comunidades e preservar a herança cultural destes povos. Deste modo, durante a década de 1970 surgiu um novo estilo artístico na Papunya, e os primeiros exemplos desta arte portável foram executados em pequenos pedaços de madeira, pranchetas ou linóleo. As pinceladas com a largura de um dedo eram muito comuns, os pincéis comercializados eram desprezados ou invertidos, utilizando-se somente o cabo do pincel, preferindo-se a utilização de pincéis tradicionais aborígenes, obtidos de pequenos ramos de árvore, mastigados e raspados. Nas composições, muitas delas gravadas sobre uma primeira camada de tinta escura, predominam tonalidades vermelhas e acastanhadas – ainda que com abundantes pontuações de verde, alusivas à vegetação natural –, lembrando a areia grossa e avermelhada do deserto arenoso do Outback australiano.

Ainda que com referências naturalistas muito estilizadas, a grande maioria dos trabalhos desenvolvidos nesta região é de matriz geométrica, predominando os círculos, os arcos, as marcas lineares de diversos tipos, os pontos e as marcas de rastos de animais. Os aborígenes da Austrália Central, região maioritariamente desértica, mostram os seres mitológicos e os acontecimentos dos seus sonhos nas pinturas no solo e nas pinturas corporais. Estes elementos gráficos são igualmente utilizados nas composições mais modernas, como as do conjunto reunido na exposição apresentada em Lisboa, e cada símbolo encerra um significado específico, interpretado no contexto da cultura do grupo indígena de que provém o artista.

As pinturas apresentadas na exposição são inspiradas nesta tradição antiga, e as composições são simultaneamente resultado da expressão artística do pintor que as produz, manifestação religiosa e testemunho de registos cartográficos territoriais ou de memórias ancestrais narradas ou cantadas no seio da comunidade.

A exposição, organizada em 1983, refletia sobre o modo como os aborígenes encaravam a descoberta pública das suas obras, uma vez que a arte de Papunya «não era pintada para ser vendida, mas simplesmente pelo prazer da actividade, dos acontecimentos recordados e do saber» (Papunya. Pinturas Aborígenes do Deserto Central Australiano, 1984). De facto, no final de década de 1970 a arte de Papunya começou a ser considerada um importante movimento artístico, com nomes como Clifford Possum Tjapaltjarri (1932-2002), Turkey Tolson Tjupurrula (1942-2001) e Kaapa Mbitjana Tjampitjinpa (1920-1989), entre outros.

Isabel Falcão, 2019


Ficha Técnica


Publicações


Material Gráfico


Fotografias


Documentação


Periódicos


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM 00284

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém convite, correspondência interna e correspondência externa com a Embaixada da Austrália em Portugal para a organização da exposição. 1983 – 1984

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM-S007-P0143-D00443

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG, Lisboa) 1984

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM-S007-P0143-D00444

Coleção fotográfica, p.b.: aspetos (FCG, Lisboa) 1984


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