Exposição de pintura associada a um ciclo de cinema centrado na região de Vaud, na Suíça, com um leque temático muito variado, reunindo desde filmes de cineastas consagrados a obras de realizadores mais experimentais. A organização da exposição foi partilhada pela Embaixada da Suíça em Portugal e pela Fundação Pro Helvetia (Zurique), contando com o apoio da Cinémathèque Suisse e da Collection de l’Art Brut de Lausanne. Foi inaugurada a 3 de junho de 1982, na Galeria de Exposições Temporárias (piso 0) da Fundação Calouste Gulbenkian.

Intitulada «Imagens da Suíça Francesa, Cantão de Vaud. Oito pintores, Oito Cineastas», a exposição contou com o empréstimo de obras do Banque Cantonale Vaudoise, de Jacques-Édouard Berger, da Cinémathèque Suisse, da Galerie Kara, des Beaux-Arts e de Jacques Treyvaud da Galerie Alice Pauli, do Gymnase Cantonal du Bugnon, de Frank Loeffel, de Carlo de Mercurio, do Musée Cantonal des Beaux-Arts e de Jacques Treyvaud.

A documentação mais antiga relacionada com a produção da exposição data de 17 de setembro de 1980, tratando-se de uma carta de Pierre Keller e Claude Ritschard para José Sommer Ribeiro, em que os responsáveis pela exposição «… et les Vaudois», concordam com a produção da exposição em Lisboa e no Porto, no final do ano de 1981. Em seguida, um ofício assinado por França Ribeiro, datado de 14 de outubro de 1980, propõe a organização da exposição de pintura paralelamente a um ciclo de cinema, em colaboração com o diretor da Cinémathèque Suisse, Freddy Buache, além de conferências e apresentações de alguns cineastas.

Apesar de todos os artistas presentes na exposição e no ciclo de cinema terem uma forte ligação à região de Vaud, tendo aí nascido ou fixado residência, não se pretendia a representação de uma nacionalidade vaudense. No entanto, as obras apresentadas partilhavam as mesmas inquietações sobre a comunidade ali residente, individualmente recriadas em diferentes linguagens plásticas.

A conferência proferida por Michel Thévoz, «A Colecção de Arte Bruta de Lausanne. Arte e Espiritismo», teve como ponto de partida a Collection de l’Art Brut, de Lausanne, coleção formada por 5000 objetos que Jean Dubuffet começou a reunir em 1945 e que instalou no Castelo de Beaulieu. A arte bruta foi tratada nesta conferência por Thévoz como uma arte que «dá livre curso a recursos psíquicos profundamente anti-sociais. Pode-se considerá-la como o regresso explosivo do refluxo cultural». Numa segunda parte, a conferência de Thévoz dedicava-se à defesa do conceito de espiritismo enquanto movimento de «anti-cultura ocidental», afastando-se do sistema de crenças oficial e hierarquizado e aproximando-se da magia, do rito ilícito e maléfico, numa comunicação com o mundo dos mortos e dos demónios. Thévoz relacionou ainda o espiritismo com o desejo do artista-amador de não se querer responsabilizar pelo seu trabalho, atribuindo-o a um ser exterior a si, refugiando-se no estatuto de louco e experienciando uma liberdade total.

As fotografias disponíveis dão conta de um espaço aberto, cuja montagem expositiva permitia a leitura e articulação entre os vários núcleos autorais.

O catálogo da exposição é muito completo, incluindo uma introdução de José Sommer Ribeiro, o texto «Images de la Suisse Française: Pays de Vaud», de Pierre Keller e Claude Ritschard, e dados biográficos dos artistas e cineastas participantes; contém ainda os ensaios «Le Cinema Vaudois», de Freddy Buache, «Oito Pintores», que faz a análise do trabalho dos artistas Maya Andersson, Chérif e Silvie Defraoui, Alexandre Delay, Matteo Emery, Pierre Keller, Pietro Sarto e Jean Lecoultre, assinado por Claude Ritschard, e o texto da conferência proferida por Michel Thévoz, assim como a pequena nota sobre «La Collection de L’Art Brut à Lausanne».

Na documentação consultada, existe a informação da itinerância desta exposição pelo Porto, concretamente pela Casa de Ramalde, no mês de julho, embora não se tenha conseguido apurar as respetivas datas de inauguração e encerramento.

Carolina Gouveia Matias, 2017