Exposição itinerante de fotografias de João Menéres (1934), a partir de cenas dos espetáculos realizados pelo Ballet Gulbenkian. A mostra, organizada pelo Serviço de Exposições e Museografia da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), foi apresentada na Zona de Congressos da Sede da FCG, contando com um total de 35 fotografias a cores, realizadas no decorrer de 13 espetáculos do Ballet Gulbenkian.

Entre estes espetáculos contam-se Algumas reações de algumas pessoas algures no tempo ao ouvirem a notícia da vinda do Messias (1971), com coreografia de Lar Lubovitch e música de Georg Friedrich Händel, ou Variações para duas barras, um banco e algumas personagens (1979), com coreografia dedicada ao presidente da FCG, José de Azeredo Perdigão, com música de Constança Capdeville e Dimitri Chostakovitch e que contou ainda com cenário e figurinos da responsabilidade do artista plástico João Charters de Almeida.

Em carta remetida ao jornal Expresso, João Menéres declarava-se como o primeiro fotógrafo português a expor individualmente sob o patrocínio da FCG, facto que demonstra a tardia aposta na divulgação dos valores da fotografia portuguesa, já no decorrer da década de 1980. Este primeiro momento assinala a progressiva atenção que a Fundação daria à fotografia realizada em Portugal, servindo um propósito duplamente divulgador, uma vez que, além de destacar a obra fotográfica de João Menéres, promovia igualmente a atividade do Ballet Gulbenkian, um dos mais dinamizadores grupos baléticos a trabalhar em Portugal durante este período (Carta de João Menéres para o Jornal Expresso, 14 jan. 1983, Arquivos Gulbenkian, SEM 00248).

O ano de 1981 seria particularmente intenso no que se refere à programação expositiva da fotografia portuguesa por parte da FCG, tendo sido convidados outros fotógrafos a expor coletiva e individualmente nas suas instalações, tais como Ana Esquível, Eduardo Gageiro e Rogério Pereira.

Num texto para a revista Colóquio/Artes, o pintor Fernando de Azevedo assinalaria: «Além da coreografia que conduz a evolução rítmica dos corpos nesse espaço, há as luzes, a cor e a cenografia que, com a música, intervêm criativamente na construção do espectáculo, convergindo todos estes meios para a imagem “narrativa” ou “presente” da dança. A consciência de tal totalidade, tanto quanto a sensibilidade visual do movimento que se faz e desfaz continuamente na trajectória dos bailarinos dentro de um espaço em constante recriação é, sem dúvida, uma das qualidades mais apreciáveis nas fotos que João Menéres tem vindo a dedicar interpretando realizações recentes do Ballet Gulbenkian.» E aludiria ainda ao trabalho do fotógrafo no que se refere ao tratamento da cor, pela possibilidade de criação de efeitos «expressivamente cénicos» (Azevedo, Colóquio/Artes, jun. 1981, p. 60).

As fotografias de Menéres revestiam-se de um duplo valor: o documental, enquanto conjunto de testemunhos da atividade do Ballet Gulbenkian, mas também o artístico e performativo, captado num instante fixado, no qual se antevê uma continuidade (ritmo, expressividade, oscilação).

Depois da apresentação na Sede da FCG, a exposição viajou pelas regiões autónomas da Madeira (Teatro Municipal do Funchal) e Açores (Museu Carlos Machado), por Vila Real (Casa de Mateus), Porto (Cooperativa Árvore) e Cascais (Teatro Experimental de Cascais). A aposta na itinerância desta exposição confirmaria a posição assumida pela FCG, nestes primeiros anos da década de 1980, no sentido da divulgação da fotografia portuguesa.

A apresentação em Cascais incluiu, além da homenagem ao presidente da FCG, José de Azeredo Perdigão, um programa de atividades complementares, que integrou um debate sobre «a situação do Ballet em Portugal», no qual participaram os diretores das principais companhias de bailado do país, Jorge Salavisa, pelo Ballet Gulbenkian, e Armando Jorge, pela Companhia Nacional de Bailado (Diário de Notícias, 8 jan. 1983).

No âmbito desta exposição, foram adquiridas quatro fotografias de João Menéres para a Coleção Moderna da FCG, através do Centro de Arte Moderna, cuja inauguração viria a acontecer em 1983, e ainda seis exemplares adquiridos pela própria FCG.

Filipa Coimbra, 2017