Exposição dedicada às artes gráficas cubanas, e especialmente ao cartaz, promovida pela Embaixada de Cuba em Portugal e organizada em colaboração com a Fundação Calouste Gulbenkian (FCG).

Esta exposição acompanha uma tendência na programação das exposições da FCG no período do pós-25 de Abril, durante o qual a instituição se mostra recetiva a promover eventos de iniciativa diplomática, dedicados a países onde vigoravam regimes socialistas e comunistas, anteriormente de difícil divulgação em Portugal. Este facto terá certamente relação com o ambiente político da época e com uma intenção institucional de abertura das relações artísticas com esses países, cujas manifestações eram então desconhecidas do público português.

Esta mostra contou com a participação de 18 artistas e/ou instituições cubanas, representados num total de 61 cartazes, realizados num período compreendido entre os anos de 1960 e 1970.

Embora as intenções desta apresentação fossem explicitamente artísticas, foi explicitamente rejeitado pela FCG qualquer propósito político: «Manifestámos o nosso interesse, chamando, todavia, a atenção para que não seria permitida a exposição de qualquer cartaz de carácter político, mas sim apenas cultural.» (Apontamento do Serviço de Exposições e Museografia, 1 fev. 1979, Arquivos Gulbenkian, SEM 00148)

Apesar da ressalva, o texto de introdução do catálogo, da responsabilidade da Embaixada de Cuba, não deixa de mencionar a importância das artes gráficas para o «triunfo da Revolução» e para os tempos que se lhe seguiram: «Tendo constituído, pelo seu próprio aparecimento, o acontecimento mais inovador do ambiente plástico cubano dos últimos anos, a arte gráfica conseguiu transformar-se rapidamente em parte essencial da nossa visão. […] Para isso contribuiu o talento dos artistas e a concepção das funções didáticas e estéticas da arte gráfica […]. E, acima de tudo, a preocupação da Revolução no sentido de que o património cultural […] não seja para o desfrute de alguns.» (O Cartaz Cultural em Cuba, 1979)

No entanto, a exposição centra-se na evolução gráfica ocorrida durante a década de 1960, a partir do contributo dos cartazes culturais, que se caracterizavam pela facilidade de reprodutibilidade e pela ampla difusão, realizados a partir de instituições governamentais cubanas, como o Instituto Cubano del Arte e Industria Cinematográficos (ICAIC), o Consejo Nacional de Cultura (CNC), a Unión de Escritores y Artistas de Cuba (UNEAC) e a Casa de las Américas, e igualmente associados a eventos como o Salón Nacional de Carteles, que se realiza desde 1969.

A exposição procurou mostrar trabalhos de vários períodos e com características distintas: desde trabalhos mais simples, com poucas cores e mais esquemáticos, passando por cartazes realizados por pintores reconhecidos, com composição textual, ou cartazes cinematográficos.

As técnicas usadas contêm em si dados reveladores do contexto histórico cubano e do seu «isolamento forçado», com implicações nas artes gráficas e nos modos de trabalhar, nomeadamente «o emprego da silk-screen e o uso limitado da cor a 50% da superfície e em poucas tonalidades», limitações resultantes de uma «austeridade [que] contribuiu para eliminar o facilitismo da imagem estereotipada e obrigou a uma reposição de questões fundamentais» (Ibid.).

O cartaz promocional da exposição integrou uma solução gráfica e tipográfica original, apresentando-se como um cartaz-roteiro, à semelhança do projeto realizado para a exposição «O Cartaz Cultural na Polónia» (1978).

Filipa Coimbra, 2017