Exposição individual de João Charters de Almeida (1935) no Centre Culturel Portugais (CCP), da Fundação Calouste Gulbenkian, em Paris, com o alto patrocínio da Association Française d’Action Artistique. Comissariada pelo diretor do CCP, José de Pina Martins, contou com o projeto museográfico de José Sommer Ribeiro, diretor do Serviço de Exposições e Museografia da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG).

A organização deste evento resultou da intenção da FCG em «favorecer o conhecimento de artistas portugueses contemporâneos de alta qualidade a um público francês mais vasto» (Carta de José Azeredo Perdigão para André Burgaud, 7 fev. 1974, Arquivos Gulbenkian, SEM 00051). A mesma linha de atuação seria reforçada por um apontamento interno do diretor do Serviço de Belas-Artes, Artur Nobre de Gusmão, ao afirmar que a «acção da Fundação no domínio das Artes Visuais vem sendo a do fomento e expansão da Arte Portuguesa Contemporânea no estrangeiro» (Apontamento do Serviço de Belas-Artes, 6 fev. 1974, p. 1, Arquivos Gulbenkian, SEM 00051). Essa posição seria retomada mais adiante: «[…] devemos nós facilitar, na medida do possível, essa conquista da audiência internacional para os nossos artistas de mais merecimento, em apresentações que terão naturalmente de ter diferente sentido e diferente oportunidade das que vimos procurando impulsionar nos grandes certames internacionais, como as Bienais de São Paulo.» (Ibid., p. 2)

Neste mesmo ofício interno, o diretor do Serviço de Belas-Artes da FCG identificava o CCP como «precioso instrumento de acção cultural […] numa cidade com a importância que esta tem no panorama da arte mundial», mencionando ainda as oportunidades que o Centro poderia oferecer para uma «criteriosa e sistematizada difusão em Paris dos nossos valores artísticos mais representativos» (Ibid.).

Consagrada à obra de um artista que gozava já de um apreciável reconhecimento artístico em Portugal, a exposição em Paris contou com 45 peças de escultura, pintura e tapeçaria, compostas nos mais diversos materiais, incluindo o aço, a prata, o bronze, o óleo e até a lã, utilizada nos seus trabalhos de tapeçaria. Nas palavras do professor Fernando de Almeida, que assinou a entrada do catálogo da exposição, Charters de Almeida interpretava a vida contemporânea, na qual a luta e o sofrimento de um homem por um ideal assume especial protagonismo (Charters Almeida. Sculptures, Peintures, Tapisseries, 1974).

O evento teve uma repercussão assinalável no meio artístico parisiense, se tomarmos como indicador a afluência de público à inauguração, que contou com a presença de cerca de 400 pessoas, «entre as quais […] os Embaixadores de Portugal em Paris e na OCDE, o Senhor Gaston Diehl (Director da “Association Française d’Action Artistique”), Directora e Directora Honorária do Museu Rodin, numerosos professores e artistas, críticos de arte, etc.» (Apontamento do Serviço de Exposições e Museografia, 4 mar. 1974, p. 1, Arquivos Gulbenkian, SEM 00051).

Durante a exposição no CCP, a FCG foi contactada para facilitar a apresentação de duas peças de Charters de Almeida, então em exibição na Biennale des Formes Humaines, no Museu Rodin. Este honroso convite endereçado ao artista foi prontamente diligenciado pela FCG.

Nos arquivos referentes à exposição, há ainda registos que dão conta da autorização para a filmagem da inauguração então solicitada pela Radiotelevisão Portuguesa à empresa francesa Pathé. O original não foi, todavia, localizado.

Filipa Coimbra, 2016