Pintura dos Mestres do Sardoal e de Abrantes

Exposição que reuniu um conjunto representativo de obras da pintura portuguesa de Seiscentos. Tendo nascido da iniciativa da Câmara Municipal de Abrantes, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, a organização foi alvo de diversas críticas, o que conduziu à reformulação do grupo de trabalho responsável pelo conjunto das obras expostas.
Exhibition of a selection of works representative of Portuguese painting produced in the 17th century. The exhibition was initially a project of the Municipality of Abrantes with support from the Calouste Gulbenkian Foundation, though repeated criticism led to a restructuring of the organisational committee in charge of the selection on display.

A exposição «Mestres do Sardoal e de Abrantes» foi organizada por iniciativa da Câmara Municipal de Abrantes, com o apoio técnico e financeiro da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), tendo sido primeiramente apresentada no Convento de São Domingos daquela cidade. O responsável pela sua organização foi o historiador, ensaísta, heraldista, medalhista e artista gráfico João Paulo de Abreu e Lima (1922-2009).

A apresentação desta exposição em Lisboa foi requisitada pela FCG ao Ministério da Educação Nacional, detentor da tutela da maioria das obras expostas, que autorizou o certame, com a condição de que os seus técnicos colaborassem na montagem (Apontamento do Serviço de Belas-Artes, 27 set. 1971, Arquivos Gulbenkian, SBA 15376; Ofício do Ministério da Educação Nacional, 30 set. 1971, Arquivos Gulbenkian, SBA 15376). João Paulo de Abreu e Lima colaborou também nesta edição, sobretudo nas questões relacionadas com a reimpressão do catálogo (Apontamento do Serviço de Exposições e Museografia, 27 set. 1971, Arquivos Gulbenkian, SEM 00018).

Anunciada como «a maior exposição de pintura do século XVI depois da levada a efeito em 1940» (Diário do Norte, 4 jul. 1971), a exposição «Pintura dos Mestres do Sardoal e Abrantes» suscitou forte interesse do público e de vários estudiosos, devido à reunião de um conjunto significativo de obras quinhentistas, provenientes de coleções públicas e privadas, referentes à «cultura do século de ouro de Portugal» (Diário Popular, 12 mar. 1972). Porém, a sua montagem e valor científico foram fortemente criticados na imprensa.

José-Augusto França (1922), por exemplo, chegou a designar o certame como «aborto cultural», referindo-se à sua organização amadora, pautada pela «cândida ignorância do que seja a historiografia de arte, e seus problemas», e aos «aflitivos accrochages, meramente decorativos, sem a menor consciência sequer ao nível sensível dos problemas em jogo» (Diário de Lisboa, 2 jan. 1972). Por sua vez, Flávio Gonçalves (1929-1987) comentou nas páginas da revista Colóquio/Artes: «Falta saber se tamanhas canseiras, e a vitória sobre as dificuldades – que é de justiça sublinhar –, serviram para dar ao público e à ciência aquilo que a um empreendimento deste género, e desta envergadura, se exige. Em meu entender, a exposição constituiu, sob tal ângulo, uma manifestação decepcionante, que não compensou eficazmente os esforços desenvolvidos. Sem dúvida que teve um significado positivo a visita que alguns milhares de pessoas fizeram aos painéis expostos. Quer no campo da educação estética e histórica dos visitantes, quer no da tomada de consciência do respeito que lhes merece o nosso património artístico.» (Gonçalves, Colóquio/Artes, n.º 5, p. 58)

Refira-se ainda que esta exposição reabriu a discussão a propósito da preservação, estudo e classificação da pintura antiga portuguesa.

Após a abertura da exposição em Lisboa, e face às críticas que vinha sofrendo devido à pouca qualidade científica, Artur Nobre de Gusmão, diretor do Serviço de Belas-Artes da FCG, apresentou ao Conselho de Administração da FCG uma proposta para a criação de um grupo de trabalho que se debruçasse sobre o conjunto das obras expostas, de modo a fazer uma revisão das suas identificações e atribuições autorais. Aprovado o projeto, que entretanto contou com o alto patrocínio do Ministério da Educação Nacional, formou-se então um grupo de trabalho, constituído por vários «estudiosos da obra dos nossos primitivos» e coordenado por uma comissão de que faziam parte João Manuel Bairrão Oleiro (diretor-geral do Ensino Superior e das Belas-Artes); Maria José de Mendonça (diretora do Museu Nacional de Arte Antiga); Abel de Moura (diretor do Instituto José de Figueiredo); Vítor Pavão dos Santos (inspetor das Belas-Artes); Maria Teresa Gomes Ferreira (conservadora-chefe do Museu da FCG); Artur Nobre de Gusmão (diretor do Serviço de Belas-Artes da FCG); António Manuel Gonçalves (diretor-adjunto do Serviço de Belas-Artes da FCG); José Sommer Ribeiro (diretor do Serviço de Exposições e Museografia da FCG); e Maria Helena Soares da Costa (conservadora do Museu da FCG) (Apontamento do Serviço de Belas-Artes, 27 out. 1971, Arquivos Gulbenkian, SBA 15376; Ofício de Artur Nobre de Gusmão para João Manuel Bairrão Oleiro, 3 nov. 1971, Arquivos Gulbenkian, SBA 15376).

Os resultados do estudo deste grupo de trabalho, auxiliados por campanhas de restauro e análise laboratorial de algumas das obras, encontram-se parcialmente descritos num relatório datado de janeiro de 1972 (Arquivos Gulbenkian, SBA 15376).

Embora o seu encerramento estivesse previsto para o final do mês de novembro ou início de dezembro de 1971, o sucesso geral da exposição, e a criação do referido grupo de trabalho, levou ao seu prolongamento até aos primeiros dias de janeiro, registando-se um total de 36 500 visitantes durante o período em que esteve aberta ao público (Diário do Ribatejo, 12 jan. 1972; Colóquio/ Artes, n.º 6, fev. 1972, p. 70). Para além disso, a prorrogação do término da exposição permitiu, igualmente, a realização de um plano de visitas guiadas ao longo do mês de dezembro.

Esta exposição foi registada num «excelente documentário televisivo e [num] não menos sugestivo filme a cores, que tem percorrido largas centenas de casas de espectáculos do continente e do ultramar» (Diário Popular, 12 mar. 1972), prolongando-se, assim, a divulgação destas obras da pintura portuguesa de Seiscentos.

Joana Baião, 2015


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Eventos Paralelos

Visita(s) guiada(s)

[Pintura dos Mestres do Sardoal e de Abrantes]

dez 1971
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Galeria Principal / Galeria Exposições Temporárias (piso 0)
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Visita guiada. Adriano de Gusmão (à dir.)
Visita guiada. Jorge Henriques Pais da Silva (ao centro)
Visita guiada. Vítor Pavão dos Santos (ao centro)
Visita guiada. Dagoberto Markl (à dir.)
José de Azeredo Perdigão, Américo Tomás, presidente da República Portuguesa, João Paulo de Abreu e Lima (à esq.) e Artur Nobre de Gusmão (ao centro)
João Paulo de Abreu e Lima (à esq.), Américo Tomás, presidente da República Portuguesa (ao centro) e José de Azeredo Perdigão (à dir.)
Artur Nobre de Gusmão (atrás, à esq.), Américo Tomás, presidente da República Portuguesa (à esq.), José de Azeredo Perdigão (ao centro) e José Sommer Ribeiro (à dir.)
Américo Tomás, presidente da República Portuguesa (ao centro) e José de Azeredo Perdigão (à dir.)

Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM 00018

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência, orçamentos, recortes de imprensa, catálogo e empréstimos de obras. 1971 – 1987

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 15376

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência e orçamentos. 1971

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Comunicação), Lisboa / COM-S001/019-D01842

15 provas, p.b.: inauguração (FCG, Lisboa) 1971

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Comunicação), Lisboa / COM-S001/019-D01843

5 provas, p.b.: visita guiada por Adriano de Gusmão (FCG, Lisboa) 1971

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Comunicação), Lisboa / COM-S001/019-D01844

3 provas, p.b.: visita guiada por Jorge Henrique Pais da Silva (FCG, Lisboa) 1971

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Comunicação), Lisboa / COM-S001/019-D01845

3 provas, p.b.: visita guiada por Vítor Pavão dos Santos (FCG, Lisboa) 1971

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Comunicação), Lisboa / COM-S001/019-D01846

3 provas, p.b.: visita guiada por Dagoberto Markl (FCG, Lisboa) 1971

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM-S007-P0158-D00468

28 provas, p.b.: aspetos (Abrantes) 1971

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