A Paisagem no Desenho de Millet e na Poesia de Baudelaire

Com curadoria de Filipa Correia de Sousa e João Carvalho Dias, a exposição apresentou uma reflexão sobre a experiência da paisagem com base em três obras oitocentistas da Coleção do Museu Calouste Gulbenkian, um desenho de Jean-François Millet e dois poemas de Charles Baudelaire.

A exposição «A Paisagem no Desenho de Millet e na Poesia de Baudelaire» esteve patente nas Galerias de Exposição Permanente, na sala dedicada à pintura e à escultura francesa do século XIX do Museu Calouste Gulbenkian (MCG), em Lisboa, entre 21 de fevereiro e 8 de agosto de 2022. A mostra centrou-se na reflexão sobre a experiência da paisagem «e do lugar que ocupamos diante dela», a partir de três obras oitocentistas da Coleção do MCG: um desenho de Jean-François Millet (1814-1875), Paisagem ao Entardecer (1851-1852) (Inv. 867), e duas edições da obra de Charles Baudelaire (1821-1867), Les Fleurs du Mal (1857) (Inv. LM371 e Inv. LM27), da qual foram selecionados os poemas «Chant d’automne» e «Harmonie du soir» («A Paisagem no Desenho de Millet e na Poesia de Baudelaire» [folha de sala], 2022).  

Com curadoria da investigadora Filipa Correia de Sousa, então a desenvolver um estágio de curadoria no Museu Calouste Gulbenkian, e com coordenação de João Carvalho Dias, diretor-adjunto do MCG, o projeto curatorial partiu da reflexão sobre um texto de Baudelaire, publicado em 1859 a propósito da obra que o pintor francês Jean-François Millet apresentou nesse ano no Salão de Paris intitulada Femme faisant paître sa vache (1858), em que o poeta critica violentamente as figuras plasmadas na composição, escrevendo que «os seus camponeses são pedantes que pensam demasiado bem de si mesmos. Exibem uma espécie de estultificação escura e fatal que me faz querer odiá-los. […] na sua fealdade monótona, todos estes pequenos marginalizados têm uma pretensão filosófica, melancólica e rafaelesca. Esta infelicidade, na pintura de Monsieur Millet, estraga todas as belas qualidades que primeiro lhe atraem atenção» (Ibid.).

Mas, e se Baudelaire tivesse antes observado outras composições de Millet, obras em que a figura humana surge de forma quase impercetível face à grandiosidade da paisagem retratada, como acontece nas três obras do pintor francês reunidas na Coleção do Museu Calouste Gulbenkian: Paisagem ao Entardecer (1851-1852) (Inv. 867), O Inverno (1868) (Inv. 89) e Arco-Íris (1872-73) (Inv. 88)? «Poderia o crítico e poeta Baudelaire experienciar verdadeiramente a paisagem de Millet se esta não representasse a “monótona” figura-tipo na obra do pintor?», indaga a curadora (MCG \ A Paisagem no Desenho de Millet e na Poesia de Baudelaire, 2022).

A partir desta interrogação, problematiza-se ainda a importância da paisagem na obra pictórica de Millet e a intensa expressividade poética das suas composições, ao mesmo tempo que se recentra a reflexão na experiência do fruidor – no ato voluntário de contemplação de uma realidade particular, que, naquele contexto museológico, lhe é oferecida visualmente pelas obras de pintura e desenho ali apresentadas – e se alarga essa experiência às imagens evocadas na poesia de Charles Baudelaire. Nas palavras da curadora, a reunião das três obras estabelece-se «com o propósito de dar a conhecer a evocação do mundo e dos sentimentos que esta suscita. A experiência da paisagem como uma permanente construção da imaginação mediante a representação da sua grandeza, beleza e extensão, neste caso, muito em particular, no desenho e na poesia» (Ibid.).

Na programação associada destaca-se a realização, no dia 9 de julho de 2022, de uma visita à exposição com a curadora Filipa Correia de Sousa, intitulada «A Paisagem em Millet e Baudelaire», com o apoio de um intérprete de língua gestual portuguesa.

A exposição teve uma atenção moderada na comunicação social, com diversas notícias cumprindo o propósito de divulgação do projeto curatorial. De entre as notícias publicadas, assinale-se o destaque n’O Jornal Económico (15 abr. 2022), da autoria de Ana Pina, e as referências nos websites Mutual Art e Visit Lisboa, além da divulgação da exposição e das atividades associadas no website do Museu Calouste Gulbenkian e da Fundação Calouste Gulbenkian.

Isabel Falcão, 2023


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Les fleurs du mal

Charles Baudelaire ( 1821 - 1867)

Les fleurs du mal, 1907 / Inv. LM371

Les fleurs du mal

Charles Baudelaire ( 1821 - 1867)

Les fleurs du mal, 1857 / Inv. LM27

Paisagem ao Entardecer

MILLET, Jean-François (1814-1875)

Paisagem ao Entardecer, Inv. 867


Eventos Paralelos

Visita(s) guiada(s)

À Conversa com a Curadora. Filipa Correia de Sousa

9 jul 2022
Fundação Calouste Gulbenkian / Museu Calouste Gulbenkian – Galerias da Exposição Permanente
Lisboa, Portugal

Publicações


Fotografias


Documentação


Periódicos


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 384507

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG, Lisboa) 2022


Exposições Relacionadas

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