Escultura em Filme. The Very Impress of the Object

Esta exposição, com curadoria de Penelope Curtis, diretora do Museu Calouste Gulbenkian, reuniu trabalhos em suporte fílmico produzidos por sete artistas internacionais, refletindo o fascínio que a escultura clássica ainda exerce na arte contemporânea.
This exhibition, curated by Penelope Curtis, director of the Calouste Gulbenkian Museum, brought together film works by seven international artists, reflecting on the ongoing fascination with classical sculpture in contemporary art.

Na Galeria de Exposições Temporárias (piso 0) do Edifício Sede da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, inaugurava no dia 13 de julho de 2017 a exposição «Escultura em Filme. The Very Impress of the Object», patente ao público até 2 de novembro desse mesmo ano. Com curadoria de Penelope Curtis, então diretora do Museu Calouste Gulbenkian, o projeto desenvolvia-se com base na reflexão sobre «o amor da câmara pela escultura» e na constatação de que esse interesse recua aos primórdios da história da fotografia, em meados do século XIX. Nessa perspetiva, Penelope Curtis evoca no texto do catálogo as primeiras experiências de Henry Fox Talbot (1800-1877), que, utilizando como modelos fotográficos gessos e pequenas esculturas, produziu fotografias em que o resultado «era tão semelhante à sua imagem [modelo], que poderia muito bem ter sido impresso no papel. Como a gravura resultante de uma placa, ou a moeda produzida por um cunho, ou a escultura retirada de um molde, estes objetos pareciam ter deixado a sua impressão exata na fotografia» (Escultura em Filme. The Very Impress of the Object, 2017, p. 30).

São apontadas como razões para este fascínio, que desde cedo atraiu os primeiros fotógrafos e se mantém até hoje, a imobilidade e a tridimensionalidade do objeto escultórico, e a forma como a luz do espaço circundante, ou a sua ausência, cambia a volumetria e a materialidade de cada uma das suas superfícies. Na contemporaneidade, período histórico das obras selecionadas para esta exposição, a escultura clássica mantém-se ainda como um desafio ao olhar criativo de artistas contemporâneos, nomeadamente aqueles que, recorrendo à imagem fílmica, imprimem movimento ao olhar sobre o objeto e o reinterpretam subjetivamente, através de uma perceção culturalmente enformada pela vivência histórica.

Desta forma, como evidencia o próprio título, a exposição reuniu trabalhos em suporte fílmico, digital ou analógico, produzidos por sete artistas internacionais que retratam o fascínio que a escultura clássica continua a exercer na contemporaneidade. O grupo é constituído por Mark Lewis (1958), Fiona Tan (1966), Rosa Barba (1972), Lonnie van Brummelen (1969) & Siebren de Haan (1966) e Anja Kirschner (1977) & David Panos (1971), com as obras Nude (2015), Inventory (2012), The Hidden Conference: A Fractured Play (2011), Monument to Another Man’s Fatherland II: Revolt of the Giants (2008-2009) e Ultimate Substance (2012), respetivamente.

Em Nude, Mark Lewis percorre demoradamente a cópia romana da estátua helenística Hermaphrodite endormi (100-150), hoje do acervo do Musée du Louvre, em Paris, lendo-a através de um olhar carregado de sensualidade; em Inventory, Fiona Tan apresenta, desvendando a sua particular relação com o espaço museal, objetos e frisos escultóricos da coleção reunida no John Soane’s Museum, em Londres; em The Hidden Conference: A Fractured Play, Rosa Barba filma as reservas de escultura clássica dos Musei Capitolini, em Roma; em Monument to Another Man’s Fatherland II: Revolt of the Giants, a dupla de artistas Lonnie van Brummelen & Siebren de Haan, impedidos de filmar diretamente os 113 metros de baixos-relevos do Altar de Pérgamo (século II a.C.), reunidos no Pergamonmuseum, em Berlim, evocam o monumento através da montagem, com movimento, das imagens fotográficas desses frisos, fixadas ao longo dos últimos séculos; em Ultimate Substance, a dupla de artistas Anja Kirschner & David Panos cria um discurso sobre o peso do valor monetário das coisas, centrando-se em imagens do Numismatic Museum, em Atenas, e na sua coleção de moedas gregas, relacionando-as com imagens de pormenor do corpo humano e com formulações abstratas do saber físico e matemático. Através destes filmes, o visitante é conduzido a uma leitura minuciosa, tanto das diferentes superfícies que os compõem como do confronto entre os diversos ícones, imagens ou reproduções que povoam as narrativas das composições.

Neste conjunto de obras, evidencia-se simultaneamente esse «diálogo de transição entre a obra de arte do passado e a obra de arte dos nossos dias» e o modo como estes artistas «usam a câmara como se fosse, de facto, um aparelho de gravação neutro» (Escultura em Filme. The Very Impress of the Object, 2017, p. 32), perceção que fundamenta igualmente o subtítulo escolhido por Penelope Curtis para esta mostra.

O projeto expositivo, da responsabilidade da arquiteta Rita Albergaria, refletia uma intencional liberdade espacial conferida pela amplitude do espaço – pouco compartimentado – onde se dispunham sem ordem aparente (sem um percurso rígido) os diversos filmes, perfeitamente individualizados e com uma área própria para a sua visualização.

O espaço da galeria abria-se para o exterior da sala com grandes paredes em vidro, que permitiam observar as diferentes zonas do Jardim Gulbenkian (onde se veem outros utilizadores) como se se abrisse um outro desafio ao olhar do visitante da exposição.

 

Isabel Falcão, 2022


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Eventos Paralelos

Mesa-redonda / Debate / Conversa

[Escultura em Filme]

22 set 2017
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Auditório 3
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

À Conversa com a Curadora. Penelope Curtis, Ana Rito e Artistas

14 jul 2017
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Galeria Principal / Galeria Exposições Temporárias (piso 0)
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

Escultura Fora do Ecrã

24 set 2017
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna – Nave
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias


Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 04698

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém maquete do catálogo sobre filme de Anja Kirschner e David Panos e correspondência interna e externa. 2016 – 2016

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 04713

Pasta com documentação referente à produção de diversas exposições. Contém documentos de produção, correspondência interna e externa, estimativas orçamentais e relatórios. 2016 – 2016

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 04821

Pasta com documentação referente à produção de diversas exposições. Contém correspondência interna e externa e estimativas orçamentais. 2017 – 2019

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa

Conjunto de documentos referentes à exposição. Contém pressbook, comunicado de imprensa e materiais gráficos. 2017

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 04822

Pasta com documentação referente à programação das atividades da FCG para os anos de 2017 a 2019. Contém correspondência interna e externa. 2016 – 2017

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 7895

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG, Lisboa) 2017

Definição de Cookies

Definição de Cookies

Este website usa cookies para melhorar a sua experiência de navegação, a segurança e o desempenho do website. Podendo também utilizar cookies para partilha de informação em redes sociais e para apresentar mensagens e anúncios publicitários, à medida dos seus interesses, tanto na nossa página como noutras.