Irene Buarque nasceu em São Paulo, em 1943. Perseguida pela ditadura brasileira, no início da década de 1970 solicita uma bolsa de estudos à Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), a conselho de Fernando Lemos, que se refere à instituição como um «oásis» em Portugal. A bolsa foi-lhe concedida em 1973, permitindo-lhe frequentar uma pós-graduação em história da arte. Desde então, a sua trajetória artística atravessa diversas disciplinas artísticas, como a fotografia, a cenografia, a escultura, a pintura, a arte pública (estação de Metro da Ameixoeira, em Lisboa), a cerâmica e a instalação.

Em 1996, Irene Buarque inaugura em Lisboa, na Casa Fernando Pessoa, a instalação «Pessoa Astral ou As Revelações de Raphael Baldaya», com produção musical de Emanuel Dimas Pimenta, arquiteto, artista multimédia e músico brasileiro. A obra é inspirada nas teorias astrológicas e nos horóscopos desenvolvidos por Raphael Baldaya, heterónimo criado pelo poeta, que, como é do conhecimento público, se dedicou ao longo da vida ao estudo de práticas do foro espiritista e simbólico, como a psicografia, a numerologia ou a astrologia.

A disposição dos planetas nessa obra é feita de acordo com o desenho do mapa astrológico de Fernando Pessoa – nascido a 13 de junho de 1888, sob o signo de Gémeos (elemento Ar, regido por Mercúrio), com ascendente em Escorpião (elemento Água, regido por Plutão). Tal representação é feita a partir de um total de 17 esferas, com diâmetro variável entre 18 e 52 centímetros. Os símbolos astrológicos respetivos são gravados em 17 placas, igualmente em mármore e granito.

Posteriormente, Irene Buarque é convidada pela Fundação Calouste Gulbenkian a expor no Centre Culturel Calouste Gulbenkian, em Paris. A instalação seria então nomeada «Irene Buarque. Pessoa Astral. Installation 1996». Por esta ocasião, a artista requisita apoio financeiro à FCG para produzir documentação audiovisual (edição de vídeos, CD-ROM, navegação virtual e produção fotográfica), que se estende a outros trabalhos da sua autoria. O apoio será concedido a título parcial.

Patente no Centre Culturel Calouste Gulbenkian entre 23 de janeiro e 27 de fevereiro de 1997, a exposição seguiu para a Maison du Livre, em Bruxelas, no ano de 1998, organizada em parceria com o Théâtre Poème e com o apoio da Embaixada de Portugal em Bruxelas e da secção «Cultura Portuguesa» do círculo cultural da União Europeia. A itinerância finalizaria no ano seguinte, em Antuérpia, onde esteve patente no Cultureel Centrum Berchem.

Raphael Fraga, 2019