Dedans-Dehors. Le Portugal en Photographies

Exposição coletiva de fotografia que deu a ver imagens captadas em Portugal pela lente de 26 artistas, muitos deles entre os mais conceituados fotógrafos do século XX. Foi apresentada no Centre Culturel Calouste Gulbenkian, em Paris, decorrendo de uma parceria entre a Fundação Calouste Gulbenkian e a Culturgest – Caixa Geral de Depósitos.
Collective exhibition of photographs of Portugal captured by 26 artists, including some of the most distinguished photographers of the 20th century. Presented at the Centre Culturel Calouste Gulbenkian in Paris, the show resulted from a partnership between the Calouste Gulbenkian Foundation and Culturgest – Caixa Geral de Depósitos.

A 17 de maio de 2005, o Centre Culturel Calouste Gulbenkian (CCCG) inaugurou em Paris uma exposição de 52 imagens fotográficas captadas em Portugal ao longo dos últimos sessenta anos do século XX. A iniciativa decorreu de uma coprodução entre a Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) e a Culturgest – Caixa Geral de Depósitos (CGD), instituição que cedeu todo o acervo exposto, pertencente à sua coleção de arte contemporânea.

A mostra ficou patente ao público entre 18 de maio e 17 de julho desse ano. Foi comissariada pelo cientista e crítico cultural Jorge Calado, que, no final da década de 1980, foi convidado a orientar a constituição da Coleção Nacional de Fotografia (CNF) da Secretaria de Estado da Cultura. Pela mesma altura, iniciou o seu trabalho como principal consultor para muitas das aquisições daquilo que é hoje o núcleo de fotografia da coleção de arte contemporânea da CGD. Tal como narra no catálogo desta mostra de 2005, esses dois acervos estiveram totalmente interligados por essa altura. A uni-los esteve a exposição «Regards Étrangers» (Musée de la Photographie de Mont-sur-Marchienne), realizada na Bélgica no âmbito da Europália 91 (em que Portugal foi país-tema). Segundo o comissário, por essa altura a CGD decidiu complementar o acervo da CNF com 26 fotografias adquiridas para o efeito. Mais tarde, Jorge Calado orientará a aquisição de mais 36 imagens para este núcleo tão específico da coleção da CGD. Foi desse somatório de 62 imagens que se selecionaram as 52 agora catalogadas (em 2005).

Jorge Calado foca o importante papel de Emílio Rui Vilar, enquanto presidente da CGD (1989-95), a avalizar esse mecenato, do mesmo modo que, em 2005, já como presidente da FCG, mobilizaria a parceria com a Culturgest que conduziu este núcleo fotográfico da CGD ao espaço do CCCG na capital francesa (Calado, Dedans-Dehors, 2005, pp. 11-13). Uma reportagem fotográfica arquivada revela que Rui Vilar e Isabel Alçada estiveram presentes na inauguração da exposição, acompanhados por Jorge Calado, João Pedro Garcia (então diretor do CCCG) e Carlos Costa (então membro do Conselho de Administração da CGD) (Arquivos Gulbenkian, PRS 05003). Numa das imagens, algumas dessas personalidades debruçam-se sobre uma vitrina que confirma que o acervo exposto contou com alguns materiais bibliográficos à margem das fotografias.

No título da mostra, a expressão Dedans-Dehors colocava a dinâmica interior-exterior no centro destes múltiplos olhares fotográficos sobre o século XX português, desde os anos de 1940 a 1999. Contemplando algumas das mais consensuais referências da história da fotografia do século XX, o conjunto apresentado percorreu várias gerações e nacionalidades, desde Emil Otto Hoppé (1878-1972) a autores nascidos já na segunda metade do século XX. Por exemplo, Cecil Beaton (1904-1980) retrata um jovem Marcello Caetano em 1942, e Thurston Hopkins (1913-2014) capta Amália Rodrigues em 1950 – serão estas as duas únicas figuras públicas portuguesas identificáveis na exposição. A década de 50 continua no instantâneo de uma confissão, em plena Igreja dos Jerónimos, de Henri-Cartier Bresson (1908-2004). A monumentalidade arquitetónica joga ali somente textura e contexto à escala humana, e não o papel de um símbolo nacional. O mesmo acontece com o Convento de Cristo nos planos depurados de Alma Lavenson (1897-1989), já dos anos 60. Na mesma década, Esther Bubley (1921-1998) traz-nos uma Ponte 25 de Abril em fase de construção, subtilmente captada com o Padrão dos Descobrimentos em primeiro plano, numa Belém que, pelos lados da Torre de Belém, Gérard Castello-Lopes (1925-2011) já tinha captado, em 1957, como zona de lamacentos terrenos, revolvidos por operários de enxadas empunhadas, que não podem deixar de lembrar as pessoas da Nazaré, do Alentejo, do Minho, com que outros autores alimentaram a exposição.

A presença do moçambicano Ricardo Rangel (1924-2009) marca uma posição crítica perante a realidade colonial portuguesa, enquanto as cores de Tod Papageorge (1940) ou Harry Callahan (1912-1999) prosseguem nos anos 80 pós-revolução.

É do final dessa década a outra foto exposta de Castello-Lopes, fotógrafo que se assumia como o mais velho dos portugueses (todos eles com estadas prolongadas no estrangeiro) a lançar olhares sobre realidades do país. Os outros seriam José Manuel Rodrigues (1951), Paulo Nozolino (1955) e, no terreno das artes plásticas, Alberto Carneiro (1937-2017), que apresentou um dos registos fotográficos no âmbito dos seus projetos de land art. Esse vetor de maior encenação ecoou igualmente nas fotografias da série Cabane (2000), do francês Laurent Millet (1968), as mais recentes a serem expostas.

Os aspetos fotográficos arquivados revelam que a exposição se desenrolou nos pisos 0 e 1 do Palácio da Avenue d'Iéna. As paredes expositivas foram pintadas de vermelho no andar térreo, e de verde no andar superior. Mas embora movida para estimular um imaginário de portugalidade na capital francesa, «Dedans-Dehors. Le Portugal en Photographie» foi tudo menos um cultivo de representações simpáticas e promocionais do país e da sua história. Demonstrou-se reflexiva e com intensidades dramáticas que problematizaram o passado e o presente, como não poderia deixar de ser, dada a ênfase crítica com que, de um modo quase tão automatizado como a própria câmara, muitos dos fotógrafos representados investem o seu trabalho.

O periódico parisiense LusoJornal, orientado para a diáspora portuguesa em França, dedica um artigo à exposição (edição de 19 de maio de 2005), relembrando a apresentação de parte das obras na Bélgica, quinze anos antes. O mesmo é sublinhado por Alexandre Pomar, no suplemento cultural do Expresso (edição de 14 de maio de 2005), semanário em que, no final deste ano de 2005, o crítico publica um outro artigo noticiando a migração da exposição para o espaço Chiado 8 em Lisboa (galeria da seguradora Fidelidade-Mundial gerida pela Culturgest) (Pomar, Expresso. Actual, 3 dez. 2005).

Igualmente comissariada por Jorge Calado, e com um título homólogo ao da exposição da Europália 91, a exposição «Olhares Estrangeiros. Fotografias de Portugal» inaugurou no início de 2006 (Pomar, «De longe e de perto...», Expresso. Actual, 20 jan. 2006). O catálogo dessa versão portuguesa tem matriz idêntica ao da mostra de Paris. Calado adapta o seu ensaio curatorial e dá-lhe um novo título: «Vinte notas estrangeiradas». De Castello-Lopes, publicara-se um manuscrito fac-similado no catálogo de 2005 («Un Regard Portugais?»), que aparece agora numa tradução portuguesa, igualmente redigida pela mão do fotógrafo. São ainda acrescentadas outras fotos da Coleção CGD, nomeadamente de Godfrey Frankel (1912-1995) e David Stephenson (1955), este último tendo captado, em 2003, uma imagem do teto da Igreja do Mosteiro dos Jerónimos que faz capa da edição (Olhares Estrangeiros. Fotografias de Portugal, 2006).

Daniel Peres, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Fotografias em álbum de aspectos e da inauguração da exposição

Periódicos


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 05003

Álbum com coleção fotográfica, cor: aspetos e inauguração (CCCG, Paris) 2005


Exposições Relacionadas

Definição de Cookies

Definição de Cookies

Este website usa cookies para melhorar a sua experiência de navegação, a segurança e o desempenho do website. Podendo também utilizar cookies para partilha de informação em redes sociais e para apresentar mensagens e anúncios publicitários, à medida dos seus interesses, tanto na nossa página como noutras.