Henri Fantin-Latour (1836 – 1904)

Exposição da obra do artista francês Henri Fantin-Latour (1836-1904), organizada pela Fundação Calouste Gulbenkian em colaboração com o Museo Thyssen-Bornemisza de Madrid. A mostra incluiu cerca de 60 pinturas e 20 desenhos e gravuras e foi comissariada por Vincent Pomarède, diretor do Departamento de Pintura do Musée du Louvre, em Paris.
Exhibition of work by French artist Henri Fantin-Latour (1836-1904) organised by the Calouste Gulbenkian Foundation in collaboration with the Museo Thyssen-Bornemisz, Madrid. The show featured around 60 paintings and 20 drawings and prints and was curated by Vincent Pomarède, director of the Painting Department of the Louvre Museum, Paris.

Exposição monográfica que celebrou a obra do artista francês Henri Fantin-Latour (1836-1904), partindo da iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), em colaboração com o Museo Thyssen-Bornemisza de Madrid. Incluiu cerca de 60 pinturas e 20 desenhos e gravuras, criteriosamente selecionados pelo comissário científico da mostra, Vincent Pomarède, diretor do Departamento de Pintura do Musée du Louvre, em Paris.

Tratou-se da primeira mostra monográfica deste mestre da pintura francesa organizada na Península Ibérica. As obras apresentadas vieram da própria Coleção Gulbenkian e de 38 outras coleções nacionais e internacionais, com destaque para o empréstimo do Musée d'Orsay, mas também da Tate e do Victoria & Albert Museum, de Londres, do Cleveland Museum of Art, de Houston, ou da Galleria degli Uffizi, de Florença. 

Pintor de prática naturalista, Fantin-Latour foi um artista integrado no meio intelectual e artístico francês: conviveu com vários artistas do seu tempo, que viriam a destacar-se no impressionismo, tais como Manet, Degas ou Whistler; e captou a atenção de autores como Baudelaire, Proust, Claudel (Henri Fantin-Latour (1836-1904), 2009).

Anteriormente a esta mostra, a última grande exposição dedicada ao artista francês ocorreu muitos anos antes, em 1982, tendo o seu circuito itinerante passado pelo Grand Palais, em Paris, pela National Gallery of Canada, em Otava, e pelo California Palace of the Legion of Honour, em São Francisco. Por ser uma obra pouco estudada e escassamente conhecida, os especialistas Douglas Druick e Michel Hoog decidiram colocar Fantin-Latour no mesmo patamar de impressionistas aclamados pelos críticos, como Claude Monet e Édouard Manet, levando a que a FCG e o Museo Thyssen-Bornemisza voltassem a aprofundar, em 2009, o conhecimento e as recentes investigações feitas sobre o trabalho do artista (Público, 17 jun. 2009).

É a partir da leitura do ensaio redigido por Vincent Pomarède, «Fantin, pintor intimista», presente no catálogo desta exposição, que conhecemos parte da história do pintor, considerado pelo comissário como um «artista complexo, com tanto de realista como de idealista». Em 1904, ano da morte do pintor, as suas obras foram vendidas ou doadas pela sua mulher, Victoria Dubourg, a pedido do artista, e várias coleções francesas «foram rapidamente enriquecidas» com os seus quadros. O Musée des Beaux-Arts de Grenoble, sua terra natal, foi um dos primeiros a receber diversas obras, documentos e desenhos do pintor e, a partir de 1910, o seu trabalho já se encontrava espalhado pelas mais prestigiadas coleções públicas do mundo inteiro (Henri Fantin-Latour (1836-1904), 2009, pp. 19-37).

Segundo uma carta redigida pelo então diretor do Museu Calouste Gulbenkian (MCG), João Castel-Branco Pereira, e pelo então diretor do Museo Thyssen-Bornemisza, Guillermo Solana, esta mostra foi uma oportunidade «to re-examine the work of this unique "Painter of Intimacy"», após a sua mais recente exposição na Fondation de l'Hermitage, em Lausanne, em 2007 (Carta de João Castel-Branco Pereira e Guillermo Solana para Brent R. Benjamin, 8 fev. 2008, Arquivos Gulbenkian, MCG 03481).

Seguindo a cronologia de produção do artista, a mostra (cujo projeto museográfico ficou a cargo de Mariano Piçarra) integrou, em dez núcleos, autorretratos, cópias executadas no Louvre, retratos intimistas, naturezas-mortas, estudos e leituras, bouquets de rosas e outras flores, temas associados à música e à ópera (a principal fonte inspiradora da sua obra), temas simbolistas e outras naturezas-mortas pintadas já numa outra fase de maturidade.

A exposição propôs-se «ir pela primeira vez ao encontro do público português, revelando, para o efeito, esta obra tão pessoal e reflexiva; […] possibilitar ao público europeu admirar uma vez mais um magnífico conjunto de retratos e naturezas-mortas provenientes dos mais relevantes museus do mundo; […] perpetuar a redescoberta das relações determinantes existentes entre este artista […] com a arte dos grandes mestres do passado, proporcionando, assim, uma renovada interpretação da noção de modernismo na arte do final do século XIX» (Henri Fantin-Latour (1836-1904) [Folheto], 2009).

Entre as diversas obras expostas destacaram-se, por exemplo, Ao Redor da Mesa (1872) e Retrato de Charlotte Dubourg (1882), cedidas pelo Musée d'Orsay; Flores e Objectos Diversos (1874), cedida pelo Göteborgs Konstmuseum, na cidade de Gotemburgo; ou, entre outras, a pintura A Leitura (1870), pertencente à Coleção Gulbenkian. No seu conjunto, estas obras testemunham o teor intimista de muitas das composições de Fantin-Latour em que a representação de pendor naturalista é, por vezes, perpassada por uma velada influência da estética simbolista, de fin de siècle.

A mostra foi acompanhada pela publicação de um catálogo, com notas de apresentação de Emílio Rui Vilar, Guillermo Solana e João Castel-Branco Pereira. Além da reprodução das obras expostas, a publicação apresenta ensaios assinados pelo filósofo Eduardo Lourenço, então administrador da FCG, Vincent Pomarède, especialista em pintura francesa, e Olivier Meslay, então curador-chefe do Louvre-Lens e membro da Société d'Histoire de l'Art Français.

Para Eduardo Lourenço, «Fantin-Latour é um pintor literário […] seduzido […] pelo simbolismo épico e lírico de Wagner, tanto como pelo simbolismo exangue e virtual dos pré-rafaelitas». O filósofo e ensaísta fala ainda de «"intimismo cultural", se assim se pode chamar o convívio silencioso e mediativo com uma classe que tem na leitura o seu brasão ostensivo e recatado ao mesmo tempo» (Henri Fantin-Latour (1836-1904), 2009, p. 15).

A inauguração da exposição «Henri Fantin-Latour (1836-1904)», realizada na Galeria de Exposições Temporárias (piso 0) da Sede da FCG, a 25 de junho de 2009, foi precedida pela realização de uma conferência de imprensa, liderada pela comissária executiva e pelo comissário científico da mostra, Luísa Sampaio e Vincent Pomarède, bem como por João Castel-Branco Pereira, contando com a presença, já na galeria, de outras entidades ligadas ao mundo da arte e da cultura.

Depois de ter sido visitada por cerca de 31 200 pessoas no MCG, a mostra viajou para o Museo Thyssen-Bornemisza, em Madrid, onde esteve patente entre 29 de setembro de 2009 e 10 de janeiro do ano seguinte, dando a conhecer ao público espanhol «as duas maiores virtudes criadoras deste pintor de espírito independente, contemporâneo da geração impressionista: a excepcional habilidade em transpor para a tela a poesia silenciosa de um universo íntimo que registou de forma ímpar e a rara capacidade de representar esse mundo na sua mais simples e pura essência» («Henri Fantin Latour (1836-1904)», 2009)

Tal como relembra Guillermo Solana no catálogo da exposição, foi Émile Zola, considerado um dos principais escritores do Naturalismo, quem observou que «as telas do Sr. Fantin-Latour não nos saltam aos olhos, não nos fazem virar a cabeça ao passar; é preciso observá-las durante muito tempo, penetrá-las, e a sua consciência, a sua verdade simples tomam conta de nós e prendem-nos» (Henri Fantin-Latour (1836-1904), 2009, p. 39).

Joana Atalaia, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

A Leitura

Henri Fantin-Latour (1836-1904)

A Leitura, Inv. 257

Cesto com rosas

Henri Fantin-Latour (1836-1904)

Cesto com rosas, 1885 / Inv. 69

Jarra com Rosas

Henri Fantin-Latour (1836-1904)

Jarra com Rosas, 1883 / Inv. 2343

Natureza-Morta ou "La Table Garnie"

Henri Fantin-Latour (1836-1904)

Natureza-Morta ou "La Table Garnie", 1866 / Inv. 67


Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Conferência de imprensa
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Visita guiada
Visita guiada
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Isabel Alçada, Emílio Rui Vilar e Luísa Sampaio (esq. para dir.) e João Castel-Branco (atrás)
Emílio Rui Vilar e Teresa Patrício Guoveia (esq.)
Isabel Alçada, Emílio Rui Vilar Eduardo Marçal Grilo, Teresa Patrício Gouveia (esq. para dir.) e Luísa Sampaio (dir.)
Isabel Alçada e Emílio Rui Vilar
Isabel Alçada, Emílio Rui Vilar Eduardo Marçal Grilo (esq. para dir.) e Teresa Patrício Gouveia  (dir.)
Emílio Rui Vilar e Isabel Alçada (centro)
Teresa Patrício Gouveia (esq.), Isabel Alçada (centro), Emílio Rui Vilar (dir.)
Emílio Rui Vilar (centro)
Isabel Alçada (centro)

Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 03481

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência externa sobre os empréstimos das obras cedidas pelas várias instituições internacionais. 2008 – 2009

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 03478

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência externa sobre os empréstimos das obras cedidas pelas várias instituições internacionais e provas de catálogo. 2008 – 2010

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 03479

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência externa sobre os empréstimos das obras cedidas pelas várias instituições internacionais. 2008 – 2009

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