Exposição individual do artista português Fernando Calhau (1948-2002), organizada pelo Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP) e apresentada no Centre Culturel Calouste Gulbenkian (CCCG), em Paris.

Esta exposição, tal como outras organizadas pelo CAMJAP, foi possível graças à doação feita ao CAMJAP por Cândida Calhau, viúva do pintor, em 2004, por ocasião do segundo aniversário da morte do artista. Este ato de confiança foi referido no relatório anual de contas da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) desse mesmo ano, entendido como «um enorme “enriquecimento” da Colecção» (Relatório, Balanço e Contas. FCG. 2004, 2005, p. 6). Falecido em 2002, Calhau deixou à FCG um vasto espólio de 570 obras, realizadas entre 1965 e 2002, o que cobre praticamente toda a sua carreira.

Em 2001, o CAMJAP comunicou ao artista a intenção de realizar duas exposições dedicadas à sua obra: a primeira, denominada «Passageiro Assediado», integrou 41 desenhos de pequeno formato realizados entre 1996 e 2000; a segunda teve caráter antológico e foi intitulada «Work in Progress». Esta última mostra, por decisão conjunta do artista e do curador Delfim Sardo, suprimiu a categoria do desenho devido a impedimentos espaciais.

Aproximadamente três anos após a sua morte, o CAMJAP decide apresentar em Paris um conjunto de 30 desenhos organizados por séries e realizados entre 1970 e 2002. A exposição contou com a curadoria de Nuno Faria, então colaborador residente da FCG, e foi integrada num objetivo programático definido pela Fundação Calouste Gulbenkian, apresentar publicamente o acervo do pintor Fernando Calhau. Em 2006, Nuno Faria assumirá a curadoria de uma nova exposição individual do artista, agora na Galeria de Exposições (piso 1) do Centro de Arte Moderna, intitulada «Fernando Calhau. Convocação I e II. Modo Menor e Modo Maior. Obras no Acervo do CAMJAP».

No texto que redigiu para o catálogo, Nuno Faria afirma que esta exposição providenciou um vislumbre da obra do artista, que, na época, ainda não era conhecido em Paris. O curador acrescenta ainda que a escolha do desenho como protagonista da mostra deveu-se ao facto de este ser considerado como «plus libre, plus spontané et plus projectif d'un point de vue conceptuel» (Fernando Calhau. Dessin, 2005, p. 7).

Para o artista, o desenho funcionou como suporte de experimentação, «resultando numa produção muito prolífera e profícua, quer se trate de desenhos claramente autónomos, com especificidade própria, quer de desenhos subsidiários de outras linguagens, enquanto esboço ou projecto» (Newsletter. Fundação Calouste Gulbenkian, n.º 61, março 2003, p. 13). O corpo de trabalho apresentado deu a conhecer algumas das principais características da obra de Fernando Calhau: a sua clareza discursiva e a importância concedida à imagem na sua forma mais direta e crua.

A exposição incluiu três grupos de obras. O primeiro, Geste, integrou duas séries de desenhos, de 2000 e 2002, levantando a questão da extensão máxima do gesto no desenho; a segunda destas duas séries propunha, de uma forma subtil, «une valeur plus propre de la peinture, l'éruption de la lumière» (Fernando Calhau. Dessin, 2005, p. 10). O segundo grupo, Carré, introduzia gradualmente a cor, mas o preto, que define um território infinito, continuava a dominar através da apresentação de uma série de serigrafias. Nas palavras de Nuno Faria, «ce registre mécanique et sériel, la reproduction potentialisée par le processus sérigraphique, contraste clairement avec le ton symbolique introduit, dans ce cas, par la couleur» (Ibid.). O último grupo, Mot, tal como o nome indica, remete para os diferentes usos da palavra enquanto definidora de espaços, territórios, ideias ou cores. 

O catálogo, publicado pelo CCCG, conta com uma introdução redigida pelo então diretor do CAMJAP, Jorge Molder, e pelo diretor do Serviço Internacional da FCG e do CCCG, João Pedro Garcia, seguindo-se o ensaio do curador Nuno Faria e uma biografia do artista.

A inauguração da exposição em Paris, no dia 8 de março de 2005, contou com a presença dos diretores supracitados e do curador responsável.

Joana Atalaia, 2019