Paradoxos. Incorporar a Cidade

Exposição coletiva de artistas romenos, com curadoria de Nuno Faria. Nesta mostra foram apresentados trabalhos inéditos (concebidos especificamente para este projeto) e outros mais antigos, em vídeo, fotografia, desenho, pintura e instalação.
Collective exhibition of work by Romanian artists curated by Nuno Faria. The show featured works created for the occasion in addition to older works using a variety of media: videos, photography, drawings, paintings and installations.

A exposição coletiva de artistas romenos denominada «Paradoxos. Incorporar a Cidade» foi organizada por iniciativa do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP), inaugurando em junho de 2005. Serviu o desígnio de trazer a Portugal representantes da arte romena contemporânea, escassamente conhecida entre nós. A curadoria esteve a cargo de Nuno Faria.

À data da exposição, a Roménia (que à data ainda não pertencia à União Europeia) enfrentava uma situação paradoxal do ponto de vista económico e social, quer pela abertura ao mercado, quer pelos níveis de pobreza. Era ainda um país isolado no contexto europeu, mas contagiado pelos efeitos da globalização. As dinâmicas culturais que refletiam estas circunstâncias, a memória da ainda recente Revolução Romena de 1989 – com a deposição e o julgamento do ditador Nicolae Ceausescu – e o modo como os conflitos do presente se inscreviam nas suas cidades e sociedade foram alguns dos temas que se pretendia ver abordados na exposição.

Nas palavras de Nuno Faria, o ponto de partida da mostra não obedeceu a «critérios de nacionalidade, mas de oportunidade». E explica: «Todos os pretextos são bons para construir uma exposição, desde que o pretexto não se sobreponha ao texto – e por texto entendo o conteúdo da exposição.» (Newsletter FCG, jun. 2005, p. 17)

Assim, o corpo e a cidade surgem como particulares protagonistas neste projeto: «Paradoxos é uma exposição que se debruça sobre a questão da cidade – neste caso, Bucareste, capital da Roménia – enquanto metáfora e corpo orgânico. Uma cidade em constante mutação, incorporando diferentes realidades arquitectónicas, diferentes camadas de tempo, diferentes utopias e projectos políticos, marcas visíveis de um passado cuja memória, demasiado visível, demasiado presente, é hoje quotidianamente des(construída).» (Paradoxos. Incorporar a Cidade [folheto], 2005)

Em entrevista, Nuno Faria explica os dois fatores que motivaram a escolha do título da exposição. O primeiro, «e mais importante», prendeu-se com a sua própria experiência na Roménia e em particular em Bucareste: «É uma cidade complexa, contraditória, em que a arquitectura é desnorteante, descontínua, ilógica. […] É difícil nomear aquele lugar e, no entanto, a vida, a vibração da cidade, é surpreendente.» O segundo decorre da «coincidência de Lucian Blaga, um proeminente filósofo romeno […], ter instaurado o paradoxo enquanto característica fundadora do povo romeno» e prende-se com a «plasticidade e a polissemia da palavra» («Paradoxos. Incorporar a Cidade», Newsletter FCG, jun. 2005, p. 19).

O elenco da exposição partiu de uma pesquisa longa e cuidada, executada em estreita colaboração com Nuno Faria, Jorge Molder e Manuel Costa Cabral, diretor do Serviço de Belas-Artes da FCG. Conforme escreveu o curador, as premissas programáticas para a exposição basearam-se em alguns critérios de relevância, como o de «ter menos autores e mais obras, por forma a que se possa conhecer mais profundamente o universo autoral de cada um dos artistas; [e o de que] a escolha individual se ateve à lógica de conjunto» (Ibid., p. 18).

Os artistas escolhidos foram: Mircea Cantor (1977), Dan Perjovschi (1961), Ion Grigorescu (1945) e o coletivo de artistas subREAL, estabelecido em Bucareste em 1990 e composto por Calin Dan (1955) e Iosif Kiraly (1957), que também apresentaram trabalhos individuais. Foram mostrados trabalhos inéditos (concebidos especificamente para a exposição) e outros mais antigos, em suporte vídeo, fotografia, desenho, pintura e instalação.

Ion Grigorescu apresentou trabalhos em filme da década de 1970 e uma instalação; Dan Perjovschi realizou uma intervenção específica, que se disseminava pelo espaço expositivo, White Chalk Dark Issues; Iosif Kiraly apresentou a série Triaj, em fotografia digital; RA e Sample City foram os dois trabalhos em vídeo apresentados por Calin Dan; o coletivo subREAL apresentou um conjunto de trabalhos em fotografia, alguns deles realizados em Lisboa, que integra o projeto Interviewing the Cities; e Mircea Cantor concebeu a instalação em vídeo, texto e luz intitulada Nim. À exceção de Perjovschi, todos os artistas se deslocaram a Lisboa para conhecer os espaços da FCG e apoiarem a montagem das peças.

Quanto à disposição espacial da mostra, esta foi repartida por dois locais: o piso 01 da Sede da FCG e a Galeria de Exposições Temporárias do CAMJAP. Essa decisão resultou da vontade de destacar Mircea Cantor como um artista jovem que fazia a ponte com a geração mais recente da arte romena. Patente na galeria do CAMJAP, o trabalho de Mircea visou a temática da fronteira entre o animal e o humano, isto é, o sentido e os processos da aprendizagem humana que a diferenciam dos outros seres.

Calin Dan, Dan Perjovschi, Ion Grigorescu, Iosif Kiraly e subREAL constituíram o núcleo central da exposição reunido na Sede, vinculado a um mesmo tema de forma singular mas coerente. Nas palavras do curador: «Tomando como eixo orientador a relação entre o corpo do indivíduo e a cidade entendida como constructo, a exposição é, à imagem de Bucareste […], atravessada por discursos complexos, contraditórios entre si, descontínuos.» (Paradoxos. Incorporar a Cidade, 2005, p. 21)

Assim as propostas refletiram diferentes posicionamentos e situações no contexto romeno, como sintetizou Nuno Faria: «[…] seja através de um tratamento explícito do urbanismo (Iosif Kiraly, Calin Dan, subREAL), seja através da utilização do corpo próprio do artista (Ion Grigorescu), seja ainda na procura de signos imanados pela vivência quotidiana (Dan Perjovschi, Mircea Cantor).» (Paradoxos. Incorporar a Cidade [folha de sala], 2005)

No âmbito da exposição, foi também apresentado o filme Videogramas de uma Revolução (1992), da autoria de Harun Farocki e Andrei Ujica. O filme reporta-se a um momento específico da história recente da Roménia, a Revolução de 1989 e a queda do regime. Durante a revolução, os manifestantes ocuparam a televisão romena, tornando-se o centro de irradiação da revolta. Esse ponto de vista é retratado no filme. O curador sublinhou «o meticuloso processo de edição» e a «apurada capacidade discursiva» dos realizadores, ao proporem «uma forma de historiografia baseada num meio jornalístico recente, o vídeo» (Paradoxos. Incorporar a Cidade [folheto], 2005).

A exposição, a título complementar, contou com o lançamento do catálogo, com visitas guiadas, e ainda com várias sessões de projeção do filme Videogramas de uma Revolução.

Com o intuito de se constituir como uma obra de referência, que não se esgotasse na catalogação do evento, o catálogo da exposição não foi publicado no momento da inauguração, mas no decorrer do período expositivo. Isso permitiu incluir na publicação reproduções de grande parte das peças apresentadas, especificamente concebidas para a ocasião. Para a conceção desta monografia, foram convidados diversos autores, que abordam de diferentes formas os temas e os trabalhos apresentados. Editado pelo Centro de Arte Moderna da FCG, em versão bilingue (português/inglês), o catálogo contém textos de Jorge Molder, Nuno Faria, Anders Kreuger, Anca Oroveanu, Mihnea Mircan, Cosmin Costinas, Mariana Celac, subREAL, Calin Dan e uma entrevista com a filósofa Joëlle Proust. A publicação inclui ainda o currículo dos artistas.

Joana Brito, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Eventos Paralelos

Exibição audiovisual

Videogramas de uma Revolução

6 jun 2005 – 15 jul 2005
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Galeria de Exposições Temporárias (piso 01)
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Alexandre Melo (esq.)
Manuel Pinho e Emílio Rui Vilar (à dir.)
Jorge Molder (atrás, à dir.)
Manuel Pinho (à esq.), Emílio Rui Vilar e Isabel Alçada (ao centro)
Emílio Rui Vilar (à esq.) e Teresa Gouveia (à dir.)
Jorge Molder (atrás, ao centro), Emílio Rui Vilar (à dir.)
Jorge Molder (ao centro)
Emílio Rui Vilar (ao centro)
Emílio Rui Vilar (ao centro)
Manuel do Costa Cabral e Dan Perjovschi (atrás)
Manuel Costa Cabral (à esq.), Eduardo Lourenço (ao centro) e Filomena Molder (à dir.)
João Castel-Branco Pereira e Isabel Mota
Teresa Gouveia (à dir.)
Alexandre Melo (esq.)
Jorge Molder (à dir.)
Isabel Alçada (ao centro) e Manuel Pinho (à dir.)
Isabel Alçada (à dir.)

Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00543

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência interna e externa, folheto e textos de catálogo. 2003 – 2006

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 112782

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG e FCG-CAMJAP, Lisboa) 2005

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 118898

Coleção fotográfica, cor:inauguração (FCG-CAMJAP, Lisboa) 2005


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