Jorge Pinheiro, 1961 – 2001

Exposição retrospetiva da obra do artista português Jorge Pinheiro (1931), comissariada pelo crítico de arte João Pinharanda. Foram exibidos trabalhos ilustrativos das diferentes fases da obra do artista e também alguns projetos nunca concluídos. Em 2003, o artista foi galardoado com o prémio AICA-MC-2002 a pretexto desta exposição.
Retrospective exhibition on Portuguese artist Jorge Pinheiro (1931) curated by art critic João Pinharanda, featuring works representing the different periods of the artist’s career as well as some of his completed projects. In 2003 the artist was awarded the AICA-MC-2002 prize for the exhibition.

Exposição antológica de Jorge Pinheiro (1931), organizada pelo Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP) e comissariada pelo crítico de arte João Pinharanda. A exposição revisitou as diferentes fases da obra de Pinheiro no âmbito da pintura e da escultura e apresentou um filme em realidade virtual, constituído por uma mostra de projetos nunca concluídos.

O desejo de apresentar estes projetos não concluídos refletiu-se na edição do catálogo, que contemplou dois volumes: um de formato convencional e que contém textos do comissário, lista de obras e biografia do artista, e um segundo volume, ou caderno de estudos, com ensaios para obras realizadas, não realizadas e realizadas virtualmente. Estas últimas foram compiladas sob a forma de um CD-ROM interativo, que armazena «uma seleção de 25 das peças nunca realizadas de Jorge Pinheiro, instalando-as numa galeria virtual, percorrível pelo visitante, a quem são fornecidos dados descritivos e interpretativos do trabalho» (Jorge Pinheiro, 1961-2001, 2002, p. 9).

O «Catálogo Geral», assim designado por João Pinharanda, contém ainda um desdobrável que se destaca deste e que, por sua vez, contém as plantas dos espaços da exposição, soluções de montagem, localização das peças e reprodução de todas as obras de pintura e desenho. Ao contrário do catálogo, este desdobrável é bilingue, servindo o propósito de guiar o visitante durante a exposição, segundo desenhos do próprio artista.

Por sua vez, os esboços apresentados no «Caderno de Estudos», parte integrante do catálogo da exposição, foram selecionados pela sua qualidade plástica intrínseca e, especialmente, pela sua vertente didática, dado esclarecerem sobre o modo de pensar do artista e sobre o conjunto de trabalhos de sua autoria que nunca chegaram a ver a luz do dia – reunidos nesta exposição.

Pretendeu-se que a exposição, além de apresentar estas duas facetas – trabalhos concluídos e projetos de trabalhos que não chegaram a ser concretizados –, fosse reveladora das ideias que definiram a sua conceção, através da leitura dos textos que constituem os dois volumes do catálogo.

A obra de Jorge Pinheiro é caracterizada por uma enorme oposição de estilos, oscilando entre a figuração e o abstracionismo geométrico, aspeto que o artista e o comissário quiseram realçar tanto na disposição espacial das obras como no catálogo. Tal como afirmou Jorge Molder: «Talvez não recorde outro artista em que esta aparente oposição surja de modo extremado, ao ponto de parecer difícil aceitar que obras tão diversas possam pertencer ao mesmo criador.» (Ibid., p. 7)

Ao contrário do que seria de esperar de uma retrospetiva desta natureza, a montagem desta exposição não respeitou critérios cronológicos, decisão tomada por João Pinharanda e Jorge Pinheiro, que optaram por apresentar antes uma leitura interpretativa da obra, tal como explicou o comissário: «As nossas intenções, já se sabe, foram as de quebrar a linearidade cronológica, fornecendo linhas de interpretação e de recorrência, tendo em conta as diferentes formas de expressão e períodos destes 40 anos de trabalho: entre o abstracto e figurativo e dentro do abstracto e dentro do figurativo.» (Ibid., p. 39)

A necessidade de explicar as opções expositivas e de aprofundar as lógicas desenvolvidas em cada núcleo da exposição justificaram que o catálogo registasse uma conversa entre o comissário, o artista e Nuno Faria, crítico de arte. Nesta conversa, cujo editing o comissário revelou ter sido «uma segunda verdadeira tarefa de montagem», Jorge Pinheiro falou dos temas desenvolvidos durante o seu percurso artístico, permitindo, nas longas horas em que o diálogo se travou, uma maior aproximação a aspetos da sua obra: «As soluções de composição e a multiplicidade das temáticas, as opções de iluminação, de colorido e de teatralidade cenográfica, o papel do desenho livre ou do desenho de estudo, a questão da textura e da pincelada, o estatuto da citação erudita (visual ou filosófica) e a realidade literária e teórica (existencialismo, Gestalt, estruturalismo e pós-modernismo) das várias conjunturas culturais percorridas, o recurso à serialidade ou à lógica da obra isolada, a alternância entre a figuração e a abstração.» (Ibid., p. 11)

Assim, a montagem da exposição respeitou o critério de organização dos trabalhos por módulos e articulação de temas, criando um fio condutor que guiava o público na multiplicidade de aspetos da obra de Jorge Pinheiro, o que é mantido na passagem de uma fase para a fase seguinte e o que se perde, num movimento contínuo de retorno.

A exposição distribuiu-se entre dois espaços do CAMJAP: o hall de entrada, onde foram apresentadas algumas linhas essenciais da obra e onde, de imediato, se confrontou o público com o contraste entre as peças abstratas recortadas em madeira pintada dos anos 60 e uma pintura figurativa da sua produção mais recente, e o piso 1, onde se desenrolou o núcleo principal da mostra. Neste espaço, pretendeu-se mostrar que, apesar da aparente diferença formal entre obras, existem relações de continuidade que se estabelecem entre elas. Logo no início do percurso expositivo, a colocação de pinturas abstratas da série Ulisses, realizadas entre 1977 e 1978, a par de um conjunto de trabalhos de vários momentos da segunda fase figurativa, de 1973 à década de 1980, deu a perceber a existência de um mesmo tema tratado, transversal ao abstracionismo e ao figurativismo, e que passa pela representação e reflexão sobre o poder.

A exposição revisitava os vários momentos do percurso artístico de Jorge Pinheiro. Caracterizada por uma grande erudição, a sua obra percorre várias fases, que, no entanto, não se sequenciam cronologicamente. Assim, o seu trabalho, de uma fase figurativa escolar e pós-escolar de influências picassianas e expressionistas, passou a assumir contornos abstracionistas através dos seus shaped canvas, solução que permite à pintura ganhar características tridimensionais. O trabalho desenvolve-se, seguidamente, em torno, primeiro, das preocupações da Gestalt e, mais tarde, do estruturalismo, segundo o qual o artista aplicou regras matemáticas precisas em busca de uma harmonia universal.

Mais tarde, a obra de Jorge Pinheiro passou pela evocação de temas caros à história da arte, analisando-os com recurso ao humor e à ironia, como nas obras La Fable de La Fontaine (2000), onde o artista recria uma sucessão de imagens em redor do peso semântico do tema, e Homenagem a Josefa de Óbidos (1992-1995), na qual Jorge Pinheiro se impôs realizar uma composição de reapropriação do esplendor barroco.

Além da busca de um equilíbrio quase renascentista, independentemente do cariz abstrato ou figurativo que as telas possam assumir, existe também um recurso recorrente aos temas utilizados, como diz João Pinharanda: «Percorrendo a totalidade da obra de Pinheiro notam-se grandes campos de recorrência, uma espécie de atenção permanente ou tensão em torno de questões muito mais fundas que as do discurso da arte. Coisas arquetípicas, como a Vida e a Morte, o Novo e o Velho, o Masculino e o Feminino, o Poder e os vários tipos de poder e ainda o próprio percurso da existência individual e colectiva que a ideia de Viagem constantemente metaforiza.» (Ibid., p. 23)

A par dos trabalhos acabados de Jorge Pinheiro, foram expostos alguns estudos preparatórios das obras, que, segundo Leonor Nazaré, tinham para o artista o propósito de o habituar às personagens a que as pinturas iriam dar corpo. No texto que Leonor Nazaré escreve para a exposição rotativa de 2003 dedicada aos esboços das duas pinturas intituladas O Bispo (1981), a comissária explica que estes são o campo de experimentação do artista, onde ele «define a posição geométrica da figura, decide pormenores da sua configuração e expressão, ensaia objectos e insígnias, experimenta as composições cromáticas e concebe o lugar e percurso da luz.» (Nazaré, Texto avulso, 2003, Arquivos Gulbenkian, ID: 175699)

No entanto, segundo o artista, optou-se por não incluir muitos desenhos, quer fossem estudos de finalização, quer fossem exercícios livres, para não comprometer o discurso da montagem.

No âmbito da exposição, foi realizado um ciclo de visitas, guiadas por Ana Gonçalves.

Em 2003, o pintor Jorge Martins foi galardoado com o prémio AICA-MC-2002, tomando como pretexto a exposição retrospetiva. O júri, que atribuiu este prémio por unanimidade, foi constituído por Carlos dos Santos Duarte, João Rocha de Sousa, Luísa Soares de Oliveira, Manuel Graça Dias e Rui Mário Gonçalves. Lê-se no texto sobre os diversos galardoados AICA desse mesmo ano que na exposição organizada no CAMJAP se «pôde verificar os rigores de uma prática pictural e objectual, tanto nas concepções abstractas como figurativas, sempre com uma notável coerência estética» («Acta da Reunião do Júri do Prémio AICA/MC», 2002).

Carolina Gouveia Matias, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Bispo (azul)

Jorge Pinheiro (1931)

Bispo (azul), 1981 / Inv. 83P585

Bispo (vermelho)

Jorge Pinheiro (1931)

Bispo (vermelho), 1981 / Inv. 83P586

S/Título

Jorge Pinheiro (1931)

S/Título, 1968 / Inv. 98P604

S/Título

Jorge Pinheiro (1931)

S/Título, 1977 / Inv. 80P602


Eventos Paralelos

Visita(s) guiada(s)

[Jorge Pinheiro, 1961 – 2001]

mar 2002 – jun 2002
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Jorge Pinheiro, Emilío Rui Vilar e João Pinharanda (ao centro) e Jorge Molder (à dir.)
Jorge Pinheiro (à esq.), Emílio Rui Vilar e Jorge Molder (atrás, à dir.)

Multimédia


Documentação


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00500

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém listas com nomes de colecionadores, correspondência interna e externa, listas de obras com apontamentos, apólices de seguro e formulários de empréstimo. 2001 – 2002

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00501

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém listas com nomes de colecionadores, correspondência interna e externa, listas de obras com apontamentos, apólices de seguro e formulários de empréstimo, orçamentos e textos para o catálogo. 2001 – 2002

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00502

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém formulários de empréstimo. 2002 – 2002

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 132838

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG-CAMJAP, Lisboa) 2002

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 110413

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG-CAMJAP, Lisboa) 2002


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