António Carneiro (1872 – 1930)

Exposição de trabalhos de António Carneiro (1872-1930), pertencentes à coleção do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão. Esta mostra, com curadoria de Alice Costa Guerra, propõe uma leitura de natureza formalista da obra de Carneiro, afastando-se das abordagens biográficas que marcam o discurso referente à sua produção.
Exhibition of works by António Carneiro (1872-1930)from the collection of the Modern Art Centre José de Azeredo Perdigão. The show, curated by Alice Costa Guerra, proposed a formalist reading of Carneiro’s work, distancing itself from the biographical approaches that had dominated the discourse surrounding the artist’s work.

Exposição de trabalhos de António Carneiro (1872-1930) pertencentes à coleção do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP), a maioria dos quais incorporados no ano de inauguração da instituição.

Com esta mostra, Alice Costa Guerra, sua curadora, propõe uma leitura de natureza formalista da obra de Carneiro, afastando-se de abordagens de teor biográfico que marcam o discurso referente à sua produção artística. Para tal, contribuem as obras selecionadas e o modo como são expostas. Apresentada no espaço de exposições rotativas do piso 1 do CAMJAP, que ao longo deste programa de exposições foi sendo alvo de algumas transformações, principalmente no que diz respeito às cores das paredes, esta mostra tira partido da pretensa neutralidade do espaço, mantendo as paredes brancas. As pinturas são dispostas alinhadamente, a diferentes distâncias, formando grupos que salientam as diferentes linguagens modernistas exploradas, formatos e técnicas.

A exposição abre com dois retratos da filha do artista, Maria Josefina – Maria (s.d.) e Abstracção (Maria) (s.d.) –, e duas pinturas de paisagem, uma de 1897 e outra de 1906. Funcionando como introdução, esta primeira parte revela não só os géneros pictóricos a que o artista mais se dedicou, mas também as situações, como é o caso dos retratos de familiares, em que o artista explorou de forma mais livre o seu medium. Reconhecido pela comunidade nortenha como grande retratista, foi na pintura de paisagem que António Carneiro mais se distinguiu, alcançando igual singularidade nos retratos da família e amigos mais próximos. Exemplo disso, é a pintura a óleo Sinfonia Azul (1920), aqui exposta, na qual retrata a sua filha junto a uma janela, numa pausa da leitura, como indica o livro aberto no chão. Nesta composição, nota-se um interesse pela simplificação das formas, moldadas através de pinceladas grossas. A atmosfera criada através de diferentes tons de azul transmite sensações várias, que oscilam entre a serenidade e a solidão, parecendo manifestar o estado de espírito da figura retratada. Junto a esta pintura foram incluídos alguns desenhos a sanguínea, datados de 1916 e 1919, que revelam a importância do desenho como campo de estudo e pesquisa de poses e expressões.

As pinturas de paisagem dominam a exposição, distribuindo-se ao longo de duas paredes. Pela intensa horizontalidade do suporte, distinguem-se quatro pinturas de paisagens marítimas, que parecem dois dípticos, cada um apresentando duas vistas de um mesmo lugar. No primeiro caso, uma povoação junto ao mar ou a um grande lago, no outro uma praia do norte do país. Nocturno (1911) e S/título (Nocturno) (1906) fazem parte de uma série de paisagens noturnas em que António Carneiro explora as poéticas do simbolismo. Nestas, forma e fundo diluem-se, dando origem a uma invisibilidade visível. A luz ténue do luar ou do interior das casas alivia ligeiramente a escuridão, mas intensifica o mistério. Também de inspiração simbolista são as vistas da Praia de Miramar, quase deserta, com o areal envolvido pela maresia. Nesta, é o ambiente frio e húmido que se pressente. Alguma da historiografia associa estes ambientes a manifestações dos estados de alma do artista. No seguimento destes trabalhos, são expostas algumas aguarelas de pequeno formato, que retratam paisagens de Curitiba e do Porto D. Pedro II (Paraná), no Brasil, onde o artista viveu entre 1914 e 1916. São aguarelas de cores vivas e suaves, que parecem transformar-se em miragens.

Por último, os óleos Paisagem de Melgaço (s.d.) e Paisagem (1920), aos quais se junta Praia da Figueira da Foz (1921), refletem uma intensa vibração, alcançada pela densidade e expressão cromática e pelos movimentos da pincelada. Em tom de conclusão, este pequeno núcleo reforça a diversidade de experiências, que afastam a obra deste artista de uma categorização simples, sendo evidente o cruzamento de influências de diferentes correntes artísticas, do impressionismo e simbolismo ao pós-impressionismo, refletindo as hesitações do tempo em que viveu, a transição do século XIX para o século XX.

Mariana Roquette Teixeira, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Maria

António Carneiro (1872-1930)

Maria, Inv. 83P42

Nocturno

António Carneiro (1872-1930)

Nocturno, Inv. 83P982

Paisagem

António Carneiro (1872-1930)

Paisagem, Inv. 83P969

Paisagem de Melgaço

António Carneiro (1872-1930)

Paisagem de Melgaço, Inv. 83P45

Praia da Figueira da Foz

António Carneiro (1872-1930)

Praia da Figueira da Foz, Inv. 83P985

Sem título

António Carneiro (1872-1930)

Sem título, Inv. 83P452

Sem título

António Carneiro (1872-1930)

Sem título, 1914 / Inv. DP541

Sem título

António Carneiro (1872-1930)

Sem título, Inv. DP536

Sem título

António Carneiro (1872-1930)

Sem título, Inv. DP535

Sem título

António Carneiro (1872-1930)

Sem título, Inv. 83P977

Sem título

António Carneiro (1872-1930)

Sem título, Inv. 83P970

Sem título

António Carneiro (1872-1930)

Sem título, Inv. DP544

Sem título

António Carneiro (1872-1930)

Sem título, Inv. DP545

Sem título (Capela de Nossa Senhora da Pedra)

António Carneiro (1872-1930)

Sem título (Capela de Nossa Senhora da Pedra), Inv. 83P991

Sem título (Nocturno)

António Carneiro (1872-1930)

Sem título (Nocturno), Inv. 83P992

Sinfonia azul

António Carneiro (1872-1930)

Sinfonia azul, Inv. 83P44


Eventos Paralelos

Visita(s) guiada(s)

[António Carneiro (1872 – 1930)]

2 jul 2005 – 17 set 2005
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna – Galeria Piso 01
Lisboa, Portugal

Fotografias


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 112248

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG-CAMJAP, Lisboa) 2005


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