Ruy Leitão. Cadernos de Esboços

Exposição de trabalhos de Ruy Leitão (1949-1976), incorporados na coleção do CAMJAP por doação da família e dos amigos do artista, Hélène e Tom Chetwind. Esta mostra, comissariada por Ana Vasconcelos e Melo, com colaboração de João Laia, oferece uma intensa viagem à formação e desenvolvimento do universo artístico de Ruy Leitão.
Exhibition of works by Ruy Leitão (1949-1976), donated to the Modern Art Centre’s collection by the artist’s family and his friends Hélène and Tom Chetwind. The show, curated by Ana Vasconcelos e Melo in collaboration with João Laia, provided an in-depth analysis of the artist’s studies and the development of his artistic universe.

Exposição de trabalhos de Ruy Leitão (1949-1976) pertencentes à coleção do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP), a maioria dos quais incorporados muito recentemente.

Em 2004, a Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) recebe duas importantes doações de trabalhos de Ruy Leitão, uma delas por parte da sua família e outra de Hélène e Tom Chetwynd, amigos do artista, em casa de quem residiu nos anos de estudante em Londres. Destas, faziam parte três blocos e dois cadernos com desenhos, textos e anotações, bem como uma pasta com desenhos soltos, esboços, recortes, colagens e pequenas composições.

Através de uma cuidada análise dos materiais e posterior seleção levada a cabo pela curadora Ana Vasconcelos, com a colaboração de João Laia, então estagiário no CAMJAP, esta mostra oferece uma viagem ao universo artístico e pessoal de Ruy Leitão.

Segundo a curadora, «esta exposição foi organizada com o duplo objectivo de dar a conhecer um aspecto necessariamente mais privado da obra gráfica de Ruy Leitão, uma obra relativamente desconhecida devido sobretudo à morte prematura do artista, aos vinte e seis anos de idade, e de apresentar alguns processos criativos que se podem considerar característicos, ou mais característicos, dos artistas contemporâneos» (Vasconcelos, Ruy Leitão. Cadernos de Esboços, 2004). É, portanto, com base e em torno destes «processos» que se organiza a mostra, sendo os trabalhos agrupados segundo a sua natureza: desenhos que exploram determinado tema, experiências formais e cromáticas com determinados materiais, anotações, rascunhos, doodles (desenhos realizados livremente e «inconscientemente», como distração ou ocupação durante outras atividades).

A exposição começa com um desenho a lápis de cor, intensamente colorido, dinâmico, e com elementos formais que se repetem, aparentemente formando um padrão que logo se destrói. Este trabalho, apresentado à entrada do espaço de exposições rotativas do piso 0, condensa em si inúmeros aspetos formais e de composição, recorrentes na prática de Ruy Leitão, como a mostra posteriormente revela. Por outro lado, o seu formato, uma tira de papel de grandes dimensões, remete para o suporte em que o artista mais trabalhou: o papel. Folhas de diferentes formatos e dimensões, cadernos de desenho, pequenos fragmentos de papel, alguns soltos, outros juntos com fita-cola, eram o campo das suas experiências.

Como refere José Luís Porfírio no seu artigo para o jornal Expresso, o que é dado a ver ao visitante é um «inventário de papéis e exercícios de um artista em formação» (Porfírio, Expresso, 4 set. 2004, p. 28). As datas escritas em alguns dos cadernos expostos indicam que algum do material doado remonta à juventude de Ruy Leitão, quando este tinha 16 anos, ao qual se juntam pesquisas do período em que viveu em Londres e estudava na Chelsea School of Art.

Ao entrar na sala, o espectador tem contacto com um mundo alterado pela imaginação, em que os objetos ganham vida própria. Todos os elementos inanimados, presentes no quotidiano do artista, tal como fazem parte do nosso, ganham aos seus olhos, e nas suas mãos, novas dimensões e funcionalidades. Assim, formam-se cabeças a partir de objetos (botões, pentes, canos), e os elementos padronizados, inspirados em padrões têxteis, ganham vida. O que era ordem transforma-se em desordem, e a monotonia dá lugar a uma dinâmica vibrante, em guaches e desenhos a lápis de cor. Nestes últimos, o artista desenvolve uma variante do exercício anterior. Objetos diversos – chapéus, barcos, cones, sofás, tapetes – são ordenados por categorias, para logo a seguir a harmonia dar lugar ao desequilíbrio. No universo de Ruy Leitão nada é estático, tudo está em constante transformação. A diversidade de acontecimentos surge condensada num mesmo instante, num mesmo desenho, destruindo-se a noção de tempo linear. Noutros casos, porém, ainda que pontuais, como na série de desenhos a esferográfica de uma mulher a realizar os seus tratamentos de beleza, é explorada a sequência narrativa. Aqui, nota-se uma faceta um tanto mordaz, que surge igualmente noutros trabalhos.

O desenho linear e expressivo a esferográfica preenche os seus cadernos, aqui expostos em vitrinas. A impossibilidade de manuseamento, por razões de conservação, foi em grande medida colmatada através da projeção de imagens fotográficas que dão a conhecer o interior desses cadernos. Para acompanhar o seu visionamento, é oferecida, com recurso a headphones, uma seleção musical reunida a partir de referências encontradas nas notas do artista.

São ainda incluídos na exposição dois livros de bordados, num dos quais se encontram algumas anotações do artista, remetendo para o modo como este desenvolvia as suas pesquisas.

Esta mostra chama a atenção da imprensa, não só por reunir material inédito, mas também por revisitar um corpo de trabalho singular, com um futuro promissor, não fosse a morte prematura do artista. Nas palavras de Vanessa Rato, esta exposição oferece «uma oportunidade de acesso à obra de uma presença ímpar na arte portuguesa dos anos 60 e 70» (Rato, Público, 27 jul. 2004, p. 36). José Luís Porfírio elogia, por sua vez, a localização desta em relação à exposição permanente, pois, como o mesmo afirma, «permite um diálogo aproximado com outras obras e artistas que representam […] os anos 60 e, em alguns casos, um espírito mais ou menos próximo da pop […] Menez, David Hockney, Alan Davie, Batarda, Palolo» (Porfírio, Expresso, 4 set. 2004, p. 28).

Perante os trabalhos apresentados, Vanessa Rato constata que se alguns «reconfirmam a associação à pop», «a causticidade do humor, o negrume obsessivo e uma certa angústia existencialista indicam uma negação dessa paternidade» (Rato, Público, 27 jul. 2004, p. 36). Deste modo são destacados os contributos desta exposição para uma leitura mais aprofundada daquela obra em fase embrionária, mas que segundo Rocha de Sousa possui um «estilo próprio e inconfundível» (Sousa, JL. Jornal de Letras, Artes e Ideias, 1 set. de 2004, p. 26).

À semelhança das outras mostras apresentadas nos espaços de exposições rotativas, também neste caso não foi produzida nenhuma publicação, sendo disponibilizada uma folha de sala com um texto da curadora.

Mariana Roquette Teixeira, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

"Objet Infernel"

Ruy Leitão (1949-1976)

"Objet Infernel", Março de 1969 / Inv. DP2427

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, c. 1966-1970 / Inv. DP1920

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, c. 1966-1970 / Inv. DP1920

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, Inv. DP1915

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, Inv. DP1932

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, Inv. DP1927

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, Inv. DP1927

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, Inv. DP1928

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, Inv. DP1928

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, Inv. DP1929

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, Inv. DP1930

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, Inv. DP1931

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, c. 1966-1970 / Inv. DP1901

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, Inv. DP1960

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, Inv. DP1959

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, c. 1966-1970 / Inv. DP1961

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, Inv. DP1916

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, Inv. DP1921

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, Inv. DP1922

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, Inv. DP1952

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, Inv. DP1953.1

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, Inv. DP1954

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, Inv. DP1951

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, Inv. DP1918

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, c. 1966-1970 / Inv. DP1919

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, Inv. DP1940

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, c. 1968 / Inv. DP1939

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, c. 1967 / Inv. DP1938

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, c. 1966-1970 / Inv. DP1907

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, c. 1966-1970 / Inv. DP1908

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, c. 1966-1970 / Inv. DP1909

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, c. 1966-1970 / Inv. DP1904

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, c. 1966-1970 / Inv. DP1905

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, c. 1966-1970 / Inv. DP1906

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, Inv. DP1403

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, Inv. DP1976 b

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, Inv. DP1933

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, Inv. DP1923

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, Inv. DP1924

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, Inv. DP1926

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, Inv. DP1925

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, Inv. DP1902

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, Inv. DP1913

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, Inv. DP1914

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, c. 1966-1970 / Inv. DP1977

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, c. 1966-1970 / Inv. DP1910

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, c. 1966-1970 / Inv. DP1911

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, c. 1966-1970 / Inv. DP1912

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, Inv. DP1976 a

sem título

Ruy Leitão (1949-1976)

sem título, Inv. DP1934

sem título

Ruy Leitão (1949-1976)

sem título, Inv. DP1935

sem título

Ruy Leitão (1949-1976)

sem título, Inv. DP1936

sem título

Ruy Leitão (1949-1976)

sem título, Inv. DP1937


Eventos Paralelos

Visita(s) guiada(s)

[Ruy Leitão. Cadernos de Esboços]

5 set 2004 – 7 out 2004
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna – Nave
Lisboa, Portugal

Publicações


Fotografias


Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 114945

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG-CAMJAP, Lisboa) 2004


Exposições Relacionadas

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