Alphonse Mucha e o Espírito Arte Nova

Exposição individual do artista austro-húngaro Alphonse Mucha (1860-1939), um dos mais célebres artistas da Arte Nova, na viragem para o século XX. Foi organizada pelo Museu Calouste Gulbenkian em cooperação com a Mucha Foundation. De Lisboa, a mostra partiu para uma itinerância internacional que a conduziu a Hamburgo e a Bruxelas.
Solo exhibition on Austro-Hungarian artist Alphonse Mucha (1860-1939), one of the most renowned figures of Art Nouveau at the turn of the 20th century. The show was organised by the Calouste Gulbenkian Museum in cooperation with the Mucha Foundation. Following its run in Lisbon, the show travelled internationally to Hamburg and Brussels.

A preparação desta exposição de Alphonse Mucha (1860-1939) no Museu Calouste Gulbenkian (MCG) remonta a 1994. No final desse ano, John Mucha, neto do artista e representante da Mucha Foundation, endereça uma carta a Maria Teresa Gomes Ferreira, diretora do MCG. Dá nota de conversações já mantidas com Pedro Tamen, então presidente do Conselho de Administração da Fundação Gulbenkian, no sentido de apresentar parte do significativo Mucha Trust em Lisboa. O agendamento teria de ser conjugado com uma mostra que estava então a ser arquitetada no Japão, país onde Mucha move tanto fascínio cultural (Carta de John Mucha para Maria Teresa Gomes Ferreira, 2 nov. 1994, Arquivos Gulbenkian, MCG 03090).

A coordenação da iniciativa foi atribuída a Manuela Fidalgo, conservadora do MCG, que prontamente começa a diligenciar os trâmites de produção. Sob o título «Alphonse Mucha e o Espírito Arte Nova», a exposição inauguraria apenas a 19 de fevereiro de 1997, na Galeria de Exposições Temporárias do Museu Calouste Gulbenkian. Com seleção de obras a cargo do historiador de arte checo Petr Wittlich, reuniu um total de 134 obras do artista, a maioria delas (133) provenientes das sedes do Mucha Trust em Praga (República Checa) e em Londres (Reino Unido). Somou-se-lhes um prato em cerâmica pintada pertencente ao colecionador de origem egípcia Victor Arwas, igualmente sediado em Londres. Arwas marcou presença na inauguração, junto dos representantes da Mucha Foundation e da divisão cultural da Embaixada da República Checa, todos eles entre os convidados para o almoço oficial dado pela Gulbenkian no dia seguinte. Nesse mesmo dia 20 de fevereiro, os eventos inaugurais fechavam com uma conferência de Wittlich intitulada «L'œuvre de Mucha dans le context culturel de son époque», proferida na Sala de Conferências do MCG.

O acervo exposto deu boa conta da posição de Mucha como figura destacada da Arte Nova, em plena Belle Époque, na viragem para o século XX. Permitiu apreciar a proliferação de domínios que ocuparam a profusa carreira de Mucha, do desenho à pintura, da ilustração ao design gráfico, das artes decorativas aplicadas à arquitetura e à joalharia. Até a fotografia de modelo encontrou representação nesta mostra, bem como a escultura, variante mais recôndita da obra do autor, e que foi representada por um nu feminino de 1899 (Alphonse Mucha e o Espírito Arte Nova, 1997, pp. 39-97).

Com uma versão portuguesa e outra em inglês, o catálogo de exposição, editado pela FCG, inclui dois textos que contextualizavam a obra do autor: «Alphonse Mucha: o artista e as obras», igualmente por Wittlich, e «À propos de Alphonse Mucha: simbolismo e hermetismo em contexto europeu», escrito por Yvette K. Centeno, então diretora do Serviço de Animação, Criação Artística e Educação pela Arte da FCG (ACARTE). Essa edição tem design de Henrique Cayatte, igualmente responsável pelos materiais gráficos associados à exposição, e cujo trabalho foi muito elogiado pelos representantes da Mucha Foundation, que solicitariam o contacto do atelier para a eventual conceção de novos materiais (Arquivos Gulbenkian, MCG 030089).

Rapidamente se percebeu que a icónica obra do artista checo resultaria numa enorme afluência de público. Após o fecho da mostra, uma nota manuscrita do Serviço de Museu faz o resumo dessa contabilização, indicando um total de 15 524 visitantes. A mesma nota adianta a venda de 1189 exemplares do catálogo em português e 110 versões inglesas, 108 calendários e 237 calendários pequenos – números aos quais ainda se somam as ofertas de cortesia e divulgação promocional (Nota de António Gonçalves Gomes, 6 mai. 1997, Arquivos Gulbenkian, MCG 03091). Esses dados são confirmados pelos registos do Serviço de Contabilidade da FCG, que ainda acrescentam a comercialização de 200 desdobráveis e 252 cartazes (Arquivos Gulbenkian, MCG 03091).

A campanha de divulgação empreendida pela Gulbenkian junto da imprensa escrita, da rádio e da televisão terá contribuído seguramente para estes números. Também as autarquias foram contactadas com vista à publicitação da mostra nos mupies urbanos (Arquivos Gulbenkian, MCG 03091).

Do lado da crítica, a receção foi positiva, apesar de uma certa unanimidade em considerar o espaço expositivo demasiado exíguo, tanto para as obras como para a esperável afluência de público, apesar do elogiado trabalho do museólogo Mariano Piçarra. Entre os muitos periódicos que comentaram a mostra, destaca-se o atento artigo que Rui Afonso Santos publica na revista Arte Ibérica, que passa pela relação premente entre a obra de Mucha e o núcleo Lalique da coleção da Fundação Calouste Gulbenkian (Santos, Arte Ibérica, n.º 4, abr. 1997, pp. 44-48).

O grande afluxo de público foi bem acompanhado pela programação paralela à mostra. Uma correção do desdobrável da exposição, pedida por Manuela Fidalgo, bem como uma carta sua a Sarah Mucha, indicam que se estabeleceu uma calendarização diária fixa de duas visitas orientadas à exposição, uma de manhã e outra à tarde, abertas a todo o público mediante inscrição no próprio dia (Nota de Manuela Fidalgo para Victor Neves, 20 mar. 1997, Arquivos Gulbenkian, MCG 03091). Quanto às leituras encenadas anunciadas, há notícia de um contacto com o ator e encenador Luis Miguel Cintra, apesar de a realização desse evento não ter sido confirmada pela documentação consultada (Arquivos Gulbenkian, MCG 03091). A 30 de abril, seria a vez de Manuela Fidalgo realizar a visita «Alphonse Mucha e o Espírito Arte Nova – Um percurso sublinhado», uma das sessões integradas nos ecléticos «Encontros com a Obra de Arte» (Programa de Actividades Culturais. Abril/Maio/Junho 1997, abr. 1997, Arquivos Gulbenkian, MCG 03180).

De Lisboa, «Alphonse Mucha e o Espírito Arte Nova» seguiu para a Alemanha, e daí para a Bélgica. A itinerância foi gerida pela FCG enquanto entidade produtora da iniciativa. Em Hamburgo, a mostra esteve patente no Museum für Kunst und Gewerbe, entre 15 de maio e 20 de julho de 1997. No final desse mês, no dia 30, seria inaugurada no Hôtel de Ville, em Bruxelas, onde decorreu até 12 de novembro do mesmo ano.

Simultaneamente a todo este processo, a Fundação Mucha foi preparando a abertura do seu museu em Praga. Numa carta a Manuela Fidalgo, em junho de 1997, Sarah Mucha refere a possibilidade de Mariano Piçarra ser o futuro designer da exposição permanente que estava então a ser concebida (Fax de Sara Mucha para Manuela Fidalgo, 29 jun. 1997, Arquivos Gulbenkian, MCG 03091). Essa hipótese de colaboração acabou por não se concretizar, tendo a autarquia de Praga optado por um arquiteto da sua escolha. Contudo, o interesse manifestado reitera os méritos, já diversas vezes salientados, do trabalho desenvolvido pelo museólogo na mostra de Lisboa.

Daniel Peres, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Eventos Paralelos

Conferência / Palestra

L'Œuvre de Mucha dans le Contexte Culturel de son Époque

20 fev 1997
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Auditório 2
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

Encontros com a Obra de Arte

30 abr 1997
Fundação Calouste Gulbenkian / Museu Calouste Gulbenkian – Galeria de Exposições Temporárias
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Conferência «L'Œuvre de Mucha dans le Contexte Culturel de son Époque». Petr Wittlich
José Sommer Ribeiro e Maria Teresa Gomes Ferreira (à esq.)
Maria Fernanda Passos Leite (à esq.)
Robert Gulbenkian

Documentação


Periódicos


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 03179

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém reprodução de textos sobre a obra de Mucha e um catálogo publicado por ocasião da exposição no Japão (1989); drafts dos textos de parede; uma folha de sala referindo a conferência de Petr Wittlich; recortes de imprensa. 1997 – 1999

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 03092

Pasta com documentação referente à produção da exposição e respectiva itinerância internacional. Contém documentação relativa a seguros, transportes, serviços de segurança, orçamentos de montagem, etc. 1996 – 1998

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 03180

Pasta com documentação referente à produção da exposição e eventos paralelos. Contém a proposta endereçada à Fundação Calouste Gulbenkian, o desdobrável editado no âmbito da mostra e respetiva folha de sala, o folheto de divulgação das sessões comentadas dos «Encontros com a Obra de Arte». 1995 – 1997

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 03089

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém textos para o catálogo; correspondência interna e externa (com a Fundação Mucha e instituições parceiras na itinerância internacional da exposição). 1996 – 1999

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 03181

Pasta com documentação referente à produção da itinerância da exposição. Contém folha de sala; correspondência interna e externa; informações sobre seguros e transporte das obras. 1996 – 1997

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 03090

Pasta com documentação referente à produção da exposição, atividades paralelas e respetiva itinerância internacional. Contém correspondência interna e externa. 1994 – 1997

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 03091

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência interna e externa (exposição e eventos associados), edições publicadas no contexto da mostra, material de divulgação, recortes de imprensa, tabelas com número de visitantes e valores das vendas. 1996 – 1997

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 157107

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG, Lisboa) 1997

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 157122

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG, Lisboa) 1997

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 157131

Coleção fotográfica, cor: conferência de Petr Wittlich (FCG, Lisboa) 1997


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