Jorge Pinheiro. Desenhos Preparatórios das Pinturas «O Bispo»

Exposição individual do artista Jorge Pinheiro (1931), centrada na conceção das pinturas Bispo (azul) e Bispo (vermelho). Com a apresentação de dois conjuntos significativos de desenhos preparatórios, esta mostra revelou o processo de elaboração de um discurso crítico por parte do artista através da pintura.
Solo exhibition of artist Jorge Pinheiro (1931), centred on the conception of the paintings “Bishop (blue)” (1981) and “Bishop (red)” (1981). Through a display of two notable selections of drawn studies, the show revealed the artist’s process in creating a critical statement through painting.

Exposição centrada no processo de conceção das pinturas Bispo (azul) (1981) e Bispo (vermelho) (1981), da autoria do artista português Jorge Pinheiro (1931).

Incorporadas na coleção do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP) no ano da sua inauguração, em 1983, estas pinturas foram adquiridas juntamente com dois conjuntos de desenhos preparatórios, bastante elucidativos do processo de trabalho do artista. A totalidade destes desenhos foi apresentada pela primeira vez na área de exposições rotativas do piso 01 do CAMJAP, a par das referidas pinturas a óleo.

Um particular interesse pelos desenhos preparatórios na obra de Jorge Pinheiro já tinha sido manifestado por João Pinharanda, curador da exposição antológica «Jorge Pinheiro, 1961-2001», apresentada no CAMJAP no ano anterior. Como parte integrante deste projeto foram produzidas duas publicações, um Catálogo Geral e um Caderno de Estudos, este último reunindo um conjunto significativo de desenhos inéditos, estudos e esboços para peças tridimensionais, os quais resultaram «de uma escolha dentre os numerosos estudos para algumas das suas pinturas ou das suas peças tridimensionais» (Jorge Pinheiro, 1961-2001, 2002, p. 9).

A atenção dedicada a este tipo de desenhos pode ter motivado esta pequena mostra, que apresentou estudos de composição (enquadramento, proporções, posições), de cor e iluminação, esboços rápidos e desenhos de pormenor (detalhes dos panejamentos, elementos dos rostos, insígnias), agrupando-os segundo a sua natureza. O resultado revela um trabalho minucioso e um tanto obsessivo por parte de Jorge Pinheiro, o qual já afirmara: «Sou obsessivo, como o fui no caso do quadrado, como fui obsessivo em todas as fases de trabalho. Todas elas foram levadas à saturação.» (Ibid.)

São duas as abordagens propostas para esta exposição: uma evidencia o caráter pedagógico desta seleção e apresentação; a outra, que não se centra apenas na forma, incentiva um olhar mais aprofundado sobre o tema e o posicionamento do artista em relação a ele.

Enquanto o texto de divulgação se refere a esta exposição considerando que, «além da qualidade e interesse, este conjunto de obras tem igualmente uma função didáctica muito importante, por responder à pergunta: Como elaborar uma pintura?», uma outra possibilidade de leitura é lançada pelo texto de Leonor Nazaré, fundamentada numa afirmação do artista.

Na entrevista publicada no catálogo da exposição antológica, e citada por Leonor Nazaré, Jorge Pinheiro explica: «[…] quando existem no quadro "personagens", e existem sempre, há uma série enorme de desenhos prévios, de que não necessito para construir a imagem final, mas de que necessito para me identificar, ou assenhorear-me delas. […] Fiz muito mais de uma dezena de desenhos de bispos: Não necessitava de fazer tantos estudos, necessitava, sim, de viver aquelas "personagens", de as tornar reais antes do quadro final.» (Ibid., pp. 54-55) Com esta citação, é proposta uma reflexão sobre a real função daqueles desenhos, tornando-se evidente que o artista os eleva a uma outra condição, mais próxima de preocupações conceptuais do que simplesmente de aspetos formais e técnicos.

Não se trata, portanto, de ensaios para uma composição da qual faz parte uma figura masculina com determinada indumentária, posicionada de determinada forma, num determinado contexto. É na busca pelo arquétipo e para a construção de um discurso crítico, que se pretende subliminar, que o artista vai desenvolvendo uma multiplicidade de desenhos, como aqueles que são expostos ao lado destas pinturas. Como Jorge Pinheiro explica: «Nestas criaturas que pintei, reis, bispos, etc., há a ironia e a crítica subtis, mas há também uma irresistível tentação, ou uma atracção. Antipatizo tanto com eles como me deixo seduzir pela imagem ataviada com que o poder se ornamenta. Imagem construída, aliás, para seduzir…» (Ibid., p. 34) O artista retrata-os como seres vazios, solitários, que nem nos momentos de descanso e isolamento largam os símbolos de poder, desprovidos de valor.

É o processo complexo de construção destas personagens e a revelação de um discurso crítico, interventivo, que responde às angústias do artista («senti uma necessidade interior de, como sujeito, dizer publicamente, de forma mais ou menos velada, algumas coisas que me preocupavam», Ibid., p. 53) e que os desenhos expostos ajudam a revelar.

Esta exposição foi uma das destacadas por Celso Martins, no jornal Expresso, sendo referido o caráter pedagógico da mostra, que segundo o crítico «ajuda sobretudo a pensar um modelo classicista de composição onde cada pormenor fornece um dado ou possui um sentido […] que se funde no todo» (Martins, Expresso, 2 ago. 2003, pp. 22-23).

Rocha de Sousa, por sua vez, escreve um artigo para o JL, no qual, a partir do texto de Leonor Nazaré, tece algumas considerações sobre a função destes desenhos ao longo do processo e a ideia transmitida pela exposição: «Na actual exposição, ao entrarmos, descortinamos de início todo um exercício geométrico preconcebido, como se o autor já soubesse perfeitamente que personagem iria representar, e em que pose, e quais as quantidades da sua massa e dos seus adereços. […] O que poderá querer dizer que Jorge Pinheiro rascunha após a pintura completa, como se aplicasse uma operação de prova, pormenores a melhorar, valores a corrigir. […] Há ainda uma outra hipótese […] que poderá constituir-se como um trabalho paralelo […]. Seja como for, toda a construção, construção-reconstrução […] ajuda a descodificar o sentido global da pintura.» (Sousa, JL. Jornal de Letras, Artes e Ideias, 2003, p. 27)

À semelhança das outras exposições rotativas, também esta não possui uma publicação associada. No entanto, foram organizadas algumas visitas, orientadas pela historiadora de arte Sandra Vieira Jürgens.

Mariana Roquette Teixeira, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Bispo (azul)

Jorge Pinheiro (1931)

Bispo (azul), 1981 / Inv. 83P585

Bispo (vermelho)

Jorge Pinheiro (1931)

Bispo (vermelho), 1981 / Inv. 83P586

Estudo para o quadro "O Bispo Azul"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Azul", Inv. DP695

Estudo para o quadro "O Bispo Azul"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Azul", Inv. DP696

Estudo para o quadro "O Bispo Azul"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Azul", 1981 / Inv. DP697

Estudo para o quadro "O Bispo Azul"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Azul", Inv. DP698

Estudo para o quadro "O Bispo Azul"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Azul", 1981 / Inv. DP699

Estudo para o quadro "O Bispo Azul"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Azul", Inv. DP700

Estudo para o quadro "O Bispo Azul"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Azul", 1981 / Inv. DP701

Estudo para o quadro "O Bispo Azul"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Azul", 1981 / Inv. DP702

Estudo para o quadro "O Bispo Azul"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Azul", 1981 / Inv. DP703

Estudo para o quadro "O Bispo Azul"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Azul", 1981 / Inv. DP704

Estudo para o quadro "O Bispo Azul"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Azul", 1981 / Inv. DP705

Estudo para o quadro "O Bispo Azul"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Azul", 1981 / Inv. DP706

Estudo para o quadro "O Bispo Azul"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Azul", Inv. DP707

Estudo para o quadro "O Bispo Azul"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Azul", Inv. DP708

Estudo para o quadro "O Bispo Azul"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Azul", Inv. DP709

Estudo para o quadro "O Bispo Azul"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Azul", Inv. DP710

Estudo para o quadro "O Bispo Azul"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Azul", Inv. DP711

Estudo para o quadro "O Bispo Azul"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Azul", 1981 / Inv. DP712

Estudo para o quadro "O Bispo Azul"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Azul", 1981 / Inv. DP713

Estudo para o quadro "O Bispo Azul"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Azul", 1981 / Inv. DP714

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho", 1978 / Inv. DP663

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho", 1981 / Inv. DP664

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho", 1980 / Inv. DP665

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho", Inv. DP666

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho", Inv. DP686

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho", 1980 / Inv. DP687

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho", Inv. DP688

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho", 1981 / Inv. DP689

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho", 1981 / Inv. DP690

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho", 1981 / Inv. DP691

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho", 1980 / Inv. DP692

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho", Inv. DP693

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho", (1981?) / Inv. DP659

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho", Inv. DP667

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho", Inv. DP668

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho", Inv. DP669

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho", Inv. DP670

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho", Inv. DP671

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho", Inv. DP672

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho", Inv. DP673

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho", Inv. DP674

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho", Inv. DP675

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho", Inv. DP676

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho", Inv. DP677

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho", Inv. DP678

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho", Inv. DP679

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho", 1980 / Inv. DP680

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho", Inv. DP681

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho", Inv. DP682

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho", Inv. DP683

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho", Inv. DP684

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho", Inv. DP685

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho", Inv. DP657

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho", Inv. DP658

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho", Inv. DP661

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro "O Bispo Vermelho", Inv. DP662

Estudo para o quadro O Bispo Azul"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro O Bispo Azul", 1981 / Inv. DP694

Estudo para o quadro"O Bispo Vermelho"

Jorge Pinheiro (1931)

Estudo para o quadro"O Bispo Vermelho", Inv. DP660


Eventos Paralelos

Visita(s) guiada(s)

[Jorge Pinheiro. Desenhos preparatórios das pinturas «O Bispo»]

20 jul 2003 – 13 set 2003
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna – Nave
Lisboa, Portugal

Publicações


Fotografias


Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 110422

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG-CAMJAP, Lisboa) 2003


Exposições Relacionadas

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