Donald Baechler. York House Suite

Exposição individual do norte-americano Donald Baechler (1956), dedicada à série de desenhos York House Suite (1986), realizados no hotel lisboeta York House. Apresentou 61 dos 126 apontamentos que constituem esse conjunto, muitos deles partindo da interpretação formal de um brinquedo tradicional português: «O Construtor Infantil».
Solo exhibition on American artist Donald Baechler (1956) dedicated to the series of drawings “York House Suite” (1986) created in the York House Hotel, in Lisbon. The show included 61 of the 126 sketches in the series, many of which were studies of a traditional Portuguese game for children where they build their own toys, “O Construtor Infantil” (The Child Builder).

Entre 7 de março e 30 de abril de 1995, o Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP) da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) apresentou, na Sala de Exposições Temporárias (atual Espaço Projeto), 61 dos 126 desenhos que formam a série York House Suite de Donald Baechler (1956). Tratou-se do regresso desses apontamentos a Lisboa, cidade onde tinham sido criados exatamente nove anos antes, entre abril e março de 1986 (Donald Baechler. York House Suite, 1995). Voltavam agora à casa de partida, vindos do estúdio de Baechler em Nova Iorque – a um oceano de distância.

O título da série indica o local preciso onde os desenhos foram realizados: o hotel York House, na Rua das Janelas Verdes. O termo «suíte» acaba por adquirir, assim, um duplo sentido: faz referência a uma tipologia de quarto de hotel e, ao mesmo tempo, ao facto de estes desenhos formarem conjuntos com variações internas próprias – como as suítes na dança ou na música. No folheto-póster editado pela FCG, o artista revela que um dos temas-base para muitas destas imagens foi a interpretação formal de um brinquedo tradicional português – «O Construtor Infantil» (Ibid.). Essa referência alia-se a um apelo geral à infância e à criança, que inunda a própria expressão gráfica desta série de Baechler.

Na linha de vários dos seus trabalhos, há uma projeção de «primitivismo» que se sente no tratamento das figuras, e que se deixa mapear como uma espécie de olhar contemporâneo sobre a chamada Art Brut – bem referida na apresentação que o CAMJAP tece para a brochura que acompanhou a exposição (Ibid.). Esse apelo ao naïf, à «arte popular» ou às expressões artísticas dos não-artistas em geral, transita da estilização das figuras para a «rudimentaridade» dos formatos e meios usados. Estes enfatizam a premissa do quarto de hotel como ateliê improvisado. A tinta usada parece ser da mais trivial e corrente, com o típico azul das canetas e esferográficas. Os suportes passam por prosaicas folhas de caderno arrancadas, ou cartões de visita e outros materiais com o timbre do hotel York House. Baechler apropria-se dessas referências ao hotel, reiterando os vínculos contextuais desta série e denunciando, de certo modo, uma tónica no artista como viandante – algo que brota em vários momentos da obra deste autor.

A documentação guardada nos Arquivos Gulbenkian mostra que a ideia para expor esta série na Gulbenkian remonta a 1990, aquando de conversas mantidas entre John Havelda (então na Secção de Estudos Anglo-Americanos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra) e José Sommer Ribeiro, então diretor do Centro de Arte Moderna da FCG. É isso que é revelado pelo próprio Havelda, já em 1993, numa carta que dirige a Jorge Molder (Carta de Havelda a Molder, 1 mai. 1993, Arquivos Gulbenkian, CAM 00342). Em 1992, Havelda tinha comissariado uma outra exposição de Baechler em Portugal, na Galeria Pedro Oliveira, no Porto. Vinha agora reiterar o interesse do artista em expor a York House Suite em Lisboa – cidade de origem da série. A produção avançaria apenas em 1994, já com Jorge Molder como diretor do CAMJAP, tendo cabido a Rui Sanches, então diretor-adjunto, assumir a coordenação da produção, sempre em contacto direto com o artista e o seu estúdio de Nova Iorque.

Foi a primeira vez que desenhos da York House Suite foram expostos ao vivo (Carta de Donald Baechler para Rui Sanches, 29 set. 1994, Arquivos Gulbenkian, CAM 00342). Anteriormente, apenas tinham sido tornados públicos através de um livro inteiramente dedicado a esta série. Esse volume, com textos do próprio artista e do escritor grego Demosthenes Davvetas, fora publicado na Suécia, em 1988, pela editora Kalejdoskop (já extinta em 1995), aquando de uma exposição de outras obras de Baechler nesse país, mais especificamente na Anders Tornberg Gallery, em Lund. Por indicação do artista, o CAMJAP contactou essa galeria para encomendar exemplares do livro com vista a disponibilizá-los durante a apresentação da York House Suite em Lisboa (Arquivos Gulbenkian, CAM 00342).

A imprensa portuguesa foi sensível a esta exposição de Baechler na FCG, destacando, como seria de esperar, os elos específicos do trabalho exposto com Portugal. Foram frequentes as considerações sobre eventuais reminiscências de azulejaria portuguesa na tinta azul dos desenhos. Igualmente salientada foi a já referida rebeldia perante a ideia de cultura erudita. Ela aparece de facto como crucial na obra de Baechler, fazendo dialogar os fascínios sobre a Art Brut lançados por Dubuffet no segundo pós-guerra, com os apelos à cultura de massas que a Pop Art traria mais tarde. Trata-se, no fundo, de duas posturas contíguas, que tentaram, de modo diverso, anular os preconceitos que traçavam divisórias entre uma alta e uma baixa cultura.

Baechler marcou presença na inauguração desta sua individual em Portugal, protagonizando um encontro com o público no dia seguinte, 8 de março de 1995 (Arquivos Gulbenkian, CAM 00342). Poucos dias depois, a 11 de março, o jornal Público publica uma entrevista com o artista, conduzida pela crítica de arte Luísa Soares de Oliveira (Oliveira, Público, 11 mar. 1995).

Daniel Peres, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Eventos Paralelos

Visita(s) guiada(s)

Encontro com o Artista. Donald Baechler

8 mar 1995
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna – Sala de Exposições Temporárias
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias


Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00342

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém convite, correspondência interna e externa, orçamentos, seguros, textos o folheto-póster e respetivas traduções, recortes de imprensa. 1993 – 1995

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Comunicação), Lisboa / COM-S001/044-D02922

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG-CAMJAP, Lisboa) 1992


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