Marikki Hakola. Ferris Wheel / Milena Distanz

Festival Nórdico. Teatro, Dança, Música, Cinema, Vídeo

Exposição individual da artista finlandesa Marikki Hakola (1960), que apresentou duas obras multimédia. Integrou a programação do «Festival Nórdico: Teatro, Dança, Música, Cinema, Vídeo», certame de artes visuais e performativas organizado pelo ACARTE – Serviço de Animação Criação Artística e Educação pela Arte.
Solo exhibition of work by Finnish artist Marikki Hakola (1960) featuring two multimedia works. The show was included in the Nordic Festival: theatre-dance-music-video. The festival was a visual and performing arts competition organised by ACARTE (Service for Animation, Artistic Creation and Education through Art). 

A programação cultural da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) para o ano de 1992 ficou marcada por iniciativas dedicadas à arte contemporânea com origem na Europa nórdica. Entre abril e maio, o Centro de Arte Moderna (CAM) acolheu a itinerante internacional «Transparência Azul. Arte Nórdica Contemporânea com destino à América do Sul». Pouco tempo depois, entre 1 e 28 de julho do mesmo ano, o Serviço de Animação, Criação Artística e Educação pela Arte (ACARTE) da FCG programava o «Festival Nórdico: Teatro, Dança, Música, Cinema, Vídeo». José Sasportes, então diretor do ACARTE, orientou a programação do festival com o apoio de Maria Margarida Alves Martins, sua assistente de direção. A iniciativa foi realizada em concertação com o Conselho Nórdico de Ministros, colhendo por isso o apoio de instâncias governamentais da Dinamarca, Finlândia, Noruega e Suécia, mediadas pelas embaixadas desses países em Lisboa (Festival Nórdico, 1992, p. 52).

Foi no âmbito do Festival Nórdico que a artista finlandesa Marikki Hakola (1960) apresentou dois dos seus trabalhos multimédia na Sala de Exposições Temporárias do CAM. A mostra inaugurou a 30 de junho de 1992, ficando patente do dia 1 ao dia 25 do mês seguinte (Festival Nórdico, 1999, pp. 41-45).

As duas obras expostas foram a videoinstalação MilenaDistanz (1992), na versão videowall, e a videoescultura Ferris Wheel (1991). A primeira parte da peça radiofónica Stilleben (1987-1988) foi composta por Kaija Saariaho (1952). Hakola criou um corpo de imagens em movimento para as texturas sónicas da composição. Apresentou-as numa instalação multiscreen em que fragmentos vídeo se vão intercalando na busca de narrativas que somente o espectador poderá construir.

Na sinopse que publica no programa do festival, Hakola elege a comunicação como principal temática desta peça. Socorre-se de referências às cartas de Franz Kafka a Milena, citadas nos ambientes sonoros de Saariaho. Nessas epístolas, Kafka medita, a dado ponto, sobre as instâncias paradoxais do próprio meio de comunicação que é a carta: um medium visa suprir distâncias que, ao mesmo tempo, lhe são vitais e sem as quais não faria qualquer sentido existirem cartas.

Ao longo de cerca de 23 minutos (aproximadamente a duração da peça sonora), as imagens acompanham duas personagens, justamente Milena e Franz, que se enleiam nas possibilidades e impossibilidades da comunicação. Também o experimentalismo visual de Hakola se corresponde com o experimentalismo sónico de Saariaho, ambos atualizando o problema da comunicação na era eletrónica dos novos media.

Por seu turno, Ferris Wheel está descrita como uma videoescultura de quatro canais transmitidos em oito monitores. Os vídeos são instalados num conjunto que envolve elementos escultóricos, construídos em madeira, e aludindo às rodas-gigantes das feiras populares que o título da peça indica. Um texto de Minna Tarkka, traduzido no programa do Festival Nórdico, foca como Hakola usa por diversas vezes essa ideia de carrossel para se pronunciar sobre os impasses do binómio fundacional Homem/Natureza, com um caudal crítico afim de preocupações ecológicas.

As imagens de Ferris Wheel são captadas «no Jardim Botânico da Universidade de Helsínquia, na maior lixeira da Finlândia e nas praias rochosas da ilha de Sveaborg». Há bailarinos em coreografias minimais contextualizados nesses ambientes, em que a animação computorizada também joga o seu papel (Festival Nórdico, 1992, p. 43).

Para instalar a videowall de Milena – Distanz na galeria, dispositivo que era então sensivelmente novo nos contextos museológicos, foi necessário construir uma estrutura que aguentasse cargas até 600 quilos. A artista envia ao ACARTE um fax explicitando esses requisitos, bem como outras especificações técnicas relativas à luz e organização do espaço expositivo (Fax de Hakola a Sasportes, com carimbo de receção de 24 jun. 1992, Arquivos Gulbenkian, ACARTE 00132). Noutra mensagem, refere ainda que a peça teria de ser ligada através de um computador de cada vez que era reproduzida, ou seja, no início de cada uma das sessões, de 30 em 30 minutos. O mesmo fax indica também que as quatro cassetes VHS de Ferris Wheel teriam de ser sincronizadas de duas em duas horas (Fax de Hakola a Sasportes, 28 mai. 1992, Arquivos Gulbenkian, ACARTE 00132).

A artista foi transmitindo ao ACARTE estas especificidades tecnológicas e logísticas da exposição, preparando assim a sua chegada a Lisboa, a 27 de junho (três dias antes da inauguração), para ultimar a montagem. Uma curiosidade mencionável é o facto de ter viajado até Lisboa de automóvel desde Helsínquia, trazendo algum material (nomeadamente a videowall). Acompanhou-a a técnica Epa Tamminen. Ambas permaneceriam em Portugal durante todo o período da exposição, partindo de volta à Finlândia a 26 de julho, com o material que tinham trazido para as instalações (Arquivos Gulbenkian, ACARTE 00132).

Um aspeto da videoinstalação Milena – Distanz encontra-se reproduzido na capa do programa do Festival Nórdico. Essa publicação dedica uma secção à exposição de Hakola, tal como o faz em relação às restantes atividades que integraram a programação.

Ao folhear essa edição do ACARTE revela-se rapidamente a multiplicidade de expressões abarcadas por esta iniciativa, proliferação essa que se estendeu por diversos espaços de apresentação. À Sala de Exposições Temporárias do CAM, reservada para as peças de Hakola, juntou-se a adjacente Sala Polivalente do CAM, onde decorreram espetáculos de teatro e dança, um ciclo de conferências e a mesa-redonda que abriu a programação. O Anfiteatro ao Ar Livre também foi lugar de dança e teatro, de concertos e de um ciclo de cinema nórdico contemporâneo, que, após ter tido a sua sessão inaugural no Grande Auditório da Sede da FCG, apresentou os seus restantes 12 filmes nesse espaço dos Jardins Gulbenkian. O ACARTE conduziu ainda o festival a um lugar extrínseco à FCG: o Convento do Beato em Lisboa. Lá seriam levadas à cena três sessões da peça Shadows Quadrant, da companhia de artes performativas dinamarquesa Hotel Pro Forma.

Daniel Peres, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Eventos Paralelos

Programa cultural

Festival Nórdico. Teatro. Dança. Música. Cinema. Vídeo

1 jul 1992 – 28 jul 1992
Fundação Calouste Gulbenkian / Anfiteatro ao Ar Livre
Lisboa, Portugal
1 jul 1992 – 28 jul 1992
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Grande Auditório
Lisboa, Portugal
1 jul 1992 – 28 jul 1992
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna – Sala Polivalente
Lisboa, Portugal
1 jul 1992 – 28 jul 1992
Convento do Beato
Lisboa, Portugal

Publicações


Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (ACARTE), Lisboa / ACARTE 00132

Pasta com documentação referente à produção do Festival Nórdico organizado pelo ACARTE, em julho de 1992 e à exposição de Marikki Hakola. Contém material gráfico, publicações, e cópias de minutas do Ministério da Cultura dinamarquês sobre o Danish Cultural Policy and Programme of Ideas. 1989 – 1992


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