Betty Woodman. Vasos e Desenhos

Exposição itinerante da ceramista norte-americana Betty Wodman (1930-2018), organizada entre o Stedelijk Museum (Amesterdão), a Fundação Calouste Gulbenkian e o Musée d'Art Moderne de Dunkerque (França). Apresentou 26 obras, realizadas entre 1993 e 1996: três instalações, sete conjuntos murais e oito peças isoladas, a que se juntaram oito desenhos.
Travelling exhibition of work by American ceramicist Betty Woodman (1930-2018) organised by the Stedelijk Museum (Amsterdam), the Calouste Gulbenkian Foundation, and the Musée d’Art Contemporain de Dunkerque (France). The show featured design and ceramic works from the three years prior to the exhibition.

A programação da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) para o verão de 1997 fica marcada por uma exposição individual da conceituada ceramista norte-americana Betty Woodman (1930-2018). Tratou-se de um projeto itinerante, para o qual uniram esforços o Stedelijk Museum de Amesterdão, o Serviço de Belas-Artes (SBA) da FCG e o Musée d'Art Moderne de Dunkerque (MAMD). Foi justamente esse o itinerário europeu cumprido pela exposição: estreou-se na Holanda, ainda no final de 1996, seguindo depois para Portugal e terminando finalmente em França, onde encerrou já em janeiro de 1998.

Em Lisboa, «Betty Woodman. Vasos e Desenhos» inaugurou a 3 de julho de 1997 na Galeria de Exposições Temporárias da FCG (piso 01), ficando patente até 31 de agosto desse ano. O desdobrável editado pela FCG lista 26 obras, todas realizadas entre 1993 e 1996. A faiança vidrada foi a técnica maioritária, distribuindo-se por três instalações, sete conjuntos murais e oito peças isoladas. Juntaram-se-lhes oito desenhos, reiterando o diálogo proposto pelo título da mostra. Essa relação entre o desenhar e a prática da cerâmica concretizava-se tanto nos grafismos coloridos das faianças como na disposição vertical dos fragmentos cerâmicos nas composições murais, com os fragmentos de cerâmica, dispostos na parede, a explorar curiosos pendores arquitetónicos (Betty Woodman, Vasos e Desenhos [desdobrável], 1997). Os próprios desenhos integravam, aqui e ali, argilas coladas sobre papel, por entre a linguagem de padrões aguarelados e apontamentos assertivos a grafite, facilmente associáveis à olaria.

O videodocumentário Betty Woodman. Thinking Out Loud (1991), realizado pelo filho da artista, Charles Woodman, terá sido exibido no espaço expositivo, com exemplares em VHS a serem disponibilizados para venda aos visitantes (Ofício de Costa Cabral para Austin Thomas, assistente de Betty Woodman, 26 jun. 1997, Arquivos Gulbenkian, SBA 15529). Nele, a artista contextualiza o seu trabalho na primeira pessoa, relevando como, ao longo do seu percurso artístico, o vaso – contentor físico e recetáculo simbólico – foi sendo abordado enquanto arquétipo de enraizamentos culturais e civilizacionais. Nesta exposição, essa porosidade significante do vaso, sempre na tensão entre uma função prática e um caudal metafórico, passava das peças mais escultóricas para os desenhos, e destes para os conjuntos murais. Por toda a parte vão ecoando algumas das referências à cultura mediterrânica e à Itália, onde Woodman habitava à data desta exposição.

Foi de lá que viajou até à inauguração desta sua individual na Gulbenkian, onde reencontraria o seu galerista de Nova Iorque, Max Protetch, na companhia da diretora da galeria, Josie Browne. A Max Protetch Gallery teve um papel importante no apoio à produção desta itinerante e foi a entidade que mediou o empréstimo das peças expostas.

De resto, a primeira proposta para a realização de uma individual de Woodman na Gulbenkian surge, ainda em 1995, através de um contacto estabelecido entre Browne e Manuel da Costa Cabral (Carta de Browne para Costa Cabral, 13 out. 1995, Arquivos Gulbenkian, SBA 15529). Propunha-se então a vinda a Portugal das obras então expostas no Museo Internazionale delle Ceramiche em Faenza, Itália, exposição da qual os Arquivos Gulbenkian conservam atualmente exemplares do catálogo (Betty Woodman. «Il giardino dipinto» e altre opere, 1995). O então diretor do SBA tentaria primeiramente uma parceria com o Museu Nacional do Azulejo, que, apesar do entusiasmo de ambas as partes, não chegou a ser concretizada, justamente porque surge entretanto a oportunidade de a Gulbenkian acolher no seu espaço a itinerante vinda do Stedelijk Museum de Amesterdão.

O convite chegava da parte de Rudi Fuchs (à data diretor desse museu holandês) e era endereçado a Jorge Molder, então diretor do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (Ofício de Rudi Fuchs para Jorge Molder, 18 mar. 1996, Arquivos Gulbenkian, SBA 15529). Molder encaminha a iniciativa para Costa Cabral, que, já familiarizado com a obra da artista, assume a coordenação do projeto expositivo através do SBA.

A arquiteta Cristina Sena da Fonseca, encarregada dos dispositivos museográficos da FCG, negociou com a artista as soluções museológicas, que se revelaram exigentes – especialmente no que concerne os conjuntos cerâmicos montados na parede (Carta de Betty Woodman para Graça Fonseca, 24 jul. 1997, Arquivos Gulbenkian, SBA 15529). Fotografias conservadas nos Arquivos Gulbenkian mostram que no caso de «House of the South» (1993-94) se optou por expor já fora do espaço da galeria, no átrio da Zona de Congressos da Sede da FCG.

O catálogo de exposição foi editado pelo Stedelijk e obteve duas versões bilingues: inglês-holandês e inglês-francês. A FCG adotou esta última, publicando também um desdobrável onde os vários textos são traduzidos para português. À apresentação institucional, coassinada por Fuchs, Costa Cabral e Didier Derœux (diretores do Stedelijk, SBA e MAMD, respetivamente), junta-se uma introdução curatorial de Lisbeth Crommelin (curadora do Stedelijk) e «O vaso como forma e tema: craft e sentido na obra de Betty Woodman», ensaio do filósofo e crítico de arte norte-americano Arthur C. Danto. Robin Fior foi o designer editorial deste desdobrável editado pela FCG, trabalho pelo qual seria distinguido nos Prisma Awards (Arquivos Gulbenkian, GV A2 00249).

A exposição não passou despercebida à imprensa portuguesa, sendo referida e publicitada em periódicos bastante díspares entre si. João Pinharanda, um dos críticos que mais se pronunciaram acerca dela, seria posteriormente contactado por Costa Cabral no seguimento de uma proposta da Keramik Magazin para publicação de um texto sobre a obra de Woodman. Pinharanda redigiria, para esse efeito, «Betty Woodman. Abstracção e Narração», que terá chegado à redação dessa revista na tradução inglesa de Mark Ayton (Pinharanda, 1997, Arquivos Gulbenkian, SBA 15529)

Betty Woodman foi casada com o pintor e fotógrafo George Woodman. Os seus dois filhos Charlie e Francesca Woodman tornar-se-iam ambos artistas. O primeiro desenvolve as suas pesquisas no campo do audiovisual e da arte eletrónica; a segunda, falecida prematuramente em 1981, aos 22 anos de idade, figura hoje como uma apaixonante referência da fotografia contemporânea. Em 2010, foi estreada uma produção cinematográfica sobre a família Woodman (The Woodmans, 2010).

Daniel Peres, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Outdoor com cartaz da exposição
Pedro Tamen (à esq.)
Manuel da Costa Cabral (ao centro)
Pedro Tamen (à esq.) e Manuel da Costa Cabral (atrás, à esq.)
Pedro Tamen (à dir.)
Cristina Sena da Fonseca (à esq.)
Manuel Castro Caldas (dir.)
Pedro Tamen (à esq.) e Manuel da Costa Cabral (à dir.)

Multimédia


Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00469

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência interna e externa. 1996 – 1997

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 15529

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém material gráfico; traduções dos textos de catálogo para o folheto publicado pela Fundação Calouste Gulbenkian para a mostra de Lisboa; epistolografia trocada com a artista e demais agentes envolvidos; informações sobre orçamentos e seguros; material fotográfico cobrindo a inauguração e o jantar que lhe esteve associado, bem como um telão montado pela FCG; documentação sobre o restauro executado pela equipa de conservação da FCG; diapositivos com reproduções fotográficas das obras expostas. 1995 – 1997

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 25660

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém convite. 1997 – 1997

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 25466

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém convite e folheto. 1997 – 1997

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Comunicação), Lisboa / COM-S001-D02850

Coleção provagráfico, cor: inauguração (FCG, Lisboa) 1997

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 15529

Coleção provagráfico, cor: inauguração e outdoor publicitário da exposição (FCG, Lisboa) 1997


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